Gerações

Elizabeth Farina: “Cada minuto vale a pena”

A economista Elizabeth Farina com o marido Laércio Farina e a neta Gabriela

 

● Entrevista com a economista Elizabeth Farina

Executiva de vida profissional intensa, a economista Elizabeth Farina tornou-se avó de Gabriela no final de julho, só que a neta nasceu na Alemanha… Não teve outro jeito: ela encontrou um espaço na agenda, mesmo tendo de ir e voltar de São Paulo a Frankfurt três vezes em um mês. “Faça os espaços, se eles não existirem, se você for uma avó ocupada, cheia de coisas pra fazer. Faça os espaços, cada minuto vai valer a pena”, é o conselho que ela dá pra quem, como ela, está chegando agora à avosidade.

 

Ela é presidente, desde 2012, da União da Indústria de Cana-de-Açúcar (Unica), a poderosa associação que reúne os fabricantes de açúcar e álcool do Brasil inteiro. Antes, foi de 2004 a 2008 presidente do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade), órgão do governo federal, vinculado ao Ministério da Justiça, que arbitra as questões de defesa da concorrência e impõe os limites ao poder das grandes corporações.

Beth Farina 720

Na Universidade de São Paulo (USP), foi também professora titular de Economia e chefe do Departamento de Economia da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade (FEA). É graduada e doutorada em Economia. Foi também coordenadora adjunta do Programa de Estudos dos Negócios do Sistema Agroindustrial (Pensa), ligado à USP. Em 1990, recebeu o Prêmio Haralambus Simeonides, da Associação dos Centros de Pós-Graduação em Economia (Anpec).

 

A seguir, os principais trechos da entrevista com a vovó Elizabeth Farina

 

É bom, mas é desafiante

Vovó Elizabeth diz que todas as amigas e amigos que eram avós diziam que a avosidade era uma delícia porque avós não têm responsabilidade…

“Se é tudo tão bom, não pode ser desafiante, mas é desafiante, porque coloca em contato três gerações com visões de mundo que, mesmo que tenham sido desenvolvidas em conjunto, porque afinal de contas é minha filha, e eu tive a minha avó e agora é a filha da minha filha, mas a gente é formada de influências múltiplas, tem crenças diferentes, maneiras diferentes de enfrentar dificuldades… e as coisas boas. E, de repente essa relação mãe, filha e a neta, ou neto, traz esse desafio de ter três gerações para solucionar o mesmo problema, ali, naquele momento. Então, é desafiante sim, e eu gosto de desafios. Então, acho bom que seja desafiante.”

 

Relação com toda a família muda

Em apenas um mês, Elizabeth registra uma grande mudança nas relações de todos os familiares, com o aprendizado proporcionado pela nova situação

“Eu estou aprendendo com isso. E acho que, quando a gente aprende, a gente vive. Quando a gente para de aprender, a gente deixa de viver um pouco. Então, eu aprendi demais nesse mês em que eu estive em contato bem próximo com a minha filha, com a minha neta, com meu genro, com meu marido, porque muda também a relação, com a minha outra filha, que ainda não tem filho, mas que é tia pela primeira vez. Então, são muitas experiências novas… e muito gratificantes.”

 

O desafio da distância

Ter o primeiro neto a uma distância de mais de 10 horas de avião é um desafio a mais, atenuado pela facilidade das comunicações pela internet

“No meu caso tem o desafio da distância física, mesmo. Minha filha teve o bebê em Frankfurt e eu moro em São Paulo e tenho uma vida profissional bastante intensa. Então, tem essa dificuldade de estar longe, e aí a tecnologia ajuda muito, não resolve, porque a gente quer tocar, quer apertar, quer sentir o cheiro. Mas o outro desafio, que eu acho que é comum a todas as avós, é realmente tomar conta do dia a dia e, como eu disse, colocar em contato formas diferentes de resolver o mesmo problema em conjunto.”

 

Descobrindo um outro mundo

As mudanças de uma geração pra outra, nas questões culturais básicas de procedimentos com os bebês, chamam a atenção de Elizabeth

“O que se dizia sobre filhos, na minha geração, quando eu fui mãe, é completamente superado hoje. E eu sou economista pura da gema, minha filha é economista pura da gema. Não fiz nenhuma grande pesquisa sobre isso, mas o relacionamento, por exemplo, da amamentação, como é que você procede a amamentação, o que é positivo num parto, o que você gostaria que fosse… É um outro mundo, eu estou descobrindo um outro mundo. É outra cultura hoje, a maneira como você trata a criança, e sendo dois países diferentes ainda tem essa outra diferença cultural.”

 

O legado dos avós de hoje para os netos

Vovó economista está angustiada com o país e querendo deixar um mundo melhor para a neta que acaba de nascer

“O legado é a emoção, o sentimento, aquela coisa de ficar feliz de ver o outro, de contar história, dividir experiências, eu acho que o principal legado é emocional, é a base de tudo. Agora, quando eu olho nosso país, eu fico meio angustiada. Eu queria deixar um mundo melhor pra ela, pra minha filha e pra minha neta, pra terceira geração, e eu acho que hoje todo mundo está muito angustiado com relação ao futuro que a gente vai ter, em várias dimensões. Eu sou economista, então tenho uma visão muito voltada para a área econômica, que é fundamental para a gente se desenvolver como pessoa, a cultura, tudo isso interage com as decisões econômicas do dia a dia. Eu acho que nesse momento, eu, como todas as avós, estou muito preocupada com o que será o futuro do nosso país. E mais amplamente com o futuro do mundo.”

 

Relação melhor com a natureza

O sonho de deixar um mundo limpo, respirável…

“Como é que eu vou passar isso pra minha neta? Eu quero deixar um mundo limpo, um mundo respirável, um mundo… hum… mais consciente, uma relação melhor com a natureza. Eu às vezes sonho com essas coisas, vai além da minha profissão, do meu dia a dia, mas isso é uma coisa que está dentro da gente, está lá, despertado, e eu queria deixar um mundo muito melhor, mais equilibrado, pra essa turminha que vem aí.”

 

Conselhos pra quem vai ser avó

Libere geral, que tudo dará certo

“Libere geral. Deixe a emoção fluir. Faça os espaços, se eles não existirem, se você for uma avó ocupada, cheia de coisas pra fazer. Faça os espaços, cada minuto vai valer a pena. Vai valer muito a pena, mas libera geral, relaxa, deixa a emoção fluir, que dá tudo certo.”

 

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Elisabete Junqueira

Publicitária e jornalista, fundadora e editora do portal avosidade, avó de Mateus, Sofia, Rafael, Natalia, Andrew, Thomas e Cecilia Marie

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