Era uma vez duas almas destinadas a amar
► Escrevi esta história baseada na vida dos meus avós. Como neta mais velha, criada com vó, tive a oportunidade de escutar muitos casos dos dois.
Sentávamos à mesa de café, ou mesmo deitados no sofá após um delicioso almoço, e eu sempre sobre suas histórias. Fui anotando tudo nos meus diários, a origem dos dois, como foi a infância e a mocidade e principalmente, como eles se conheceram.
Tenho muito orgulho de ter passado tanto tempo com eles.
Eu via no olhar dos dois, como era bom relembrar o passado. Eles falavam alegres, olhavam um para o outro, cúmplices da mesma história. Impossível passar para o texto, tudo que aqueles momentos me proporcionaram e o que ficou registrado em meu coração. Mas, estou tentando. Encaro isso com uma missão. Amor, amor, eterno amor. Essas histórias são tesouros que agora, quero compartilhar com vocês.
Um casal mineiro, que viveu 72 anos de casados, na cidade do poeta Carlos Drummond de Andrade, Itabira. Um casal que encantava a todos, por onde passavam, de mãos dadas, pela rua Tiradentes, onde moravam, num casarão antigo, datado de 1906.
O destino uniu essas duas almas gêmeas e, confortavelmente os levou juntinhos.
Já velhinhos, morreram com a diferença de 12 dias, sem doença grave.
Ficou a saudade. E estes textos que exalam o perfume das rosas.
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Primeira parte
Era uma vez, nos reinos de Itabira do Matto Dentro e São José da Lagoa, há muito tempo atrás, nasciam duas crianças destinadas a se unir e juntas construir uma família.
São almas gêmeas abençoadas, pois nasceram em berço de ouro.
A missão dos dois é amar.
O menino nasceu em 1916 e recebeu o nome de Joaquim Augusto de Campos Rosa. Caiu nos braços de uma mãe carinhosa, Dona Zulmira e do médico, comerciante, político e jornalista Joaquim Pedro Rosa, que governou Itabira de 1917 a 1922. Junto com Alexandre Drummond, um dos primeiros médicos de Itabira e região. Encarava a profissão como um sacerdócio e atendia prontamente aos pobres de graça.
Joaquim nasceu em casa, pelas mãos do pai. Iluminado pelo amor, pela poesia, pelo carinho das pessoas, o pequeno Joaquim cresceu no casarão da Rua Guarda-Mor Custódio, rua irregular de pedras que era uma mistura de minério e cristais. Neste casarão antigo também nasceu o grande poeta Carlos Drummond de Andrade, de família tradicional itabirana, amigos da família Rosa.
Depois de alguns anos, nascia em São José da Lagoa, Matilde.
Menina Matilde, menina romântica, menina bonita. Gostava de passear com as amigas e jogar vôlei. Fazia pose pra foto, pois era tão bonita quanto as atrizes do cinema.
Um dia, vovô Delino levou Matilde e sua prima, Carmem, para uma festa em Rio Branco, onde tinha muitos portugueses como ele, que vieram trabalhar no Brasil.
Ele queria mesmo que a neta gostasse de algum português, mas o coração da menina não bateu mais forte pra nenhum dos rapazes que lhe foram apresentados.
Nem precisava da autoridade do pai como delegado da cidade para espantar os galanteios dos rapazes, ela era difícil mesmo.
Rapaz bonito e simpático era o “Rosinha”.
Ganhou esse apelido quando criança, carinhosamente para designá-lo como o pequeno Rosa da família, o caçula. Afinal seu pai também se chamava Joaquim.
Com todo esse charme seria fácil conquistar a pretendente.
O tio João Rosa deixou essa grande herança, mais do que todos os imóveis e terra, ele plantou o conhecimento na área e boa fama. Dessa árvore, até hoje colhemos os frutos, que alimentam nosso corpo e alma. Nossas atitudes são nossos exemplos por toda existência.
Doutor Rosa foi médico e também sócio desse comércio. Joaquim trabalhava e ajudava o pai.
Rosinha frequentava clubes, cinemas, gostava de carros e motos.
Seu pai comprou um Ford 29 e o rapaz fazia o maior sucesso dirigindo pelas ruas de pedra da cidade de Itabira. Usava ternos elegantes, sapatos brilhantes, goma no cabelo e as garotas suspiravam ao ver o jovem passar.
O encontro entre Joaquim e Matilde vai acontecer quando ela foi estudar em Itabira para fazer a Escola Normal.
Joaquim passava pela rua quando viu uma morena de pernas grossas andando de braço dado com sua tia Cilota. Foi nesse momento que os sinos tocaram, o coração bateu mais forte e a cena ficou em “slow motion”.
Os olhares se cruzaram, Matilde virou o rosto que ficou ruborizado e Joaquim, ao passar por ela, se virou para dar a última conferida naquela preciosidade.
(Continua nas próximas semanas)
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