Gerações

Miriam Leitão, avó: brincadeira de criança

A autora brinca com os netos Mariana (9 anos), Daniel (6), Manuela (4) e Isabel (2), e faz seu papel numa fantasia que parece muito real

► Meus quatro netos se reuniram para passar algumas horas comigo, em rápida viagem que fiz a Brasília esta semana, e me chamaram para uma brincadeira. A fantasia era que estávamos em um estabelecimento comercial e cada um tinha que fazer seu papel.

– Vovó, vamos brincar de Café Boutique – disse Mariana (9), explicando que Daniel (6) seria o sócio dela e garçom, Manuela (4) e Isabel (2) seriam as clientes, grupo ao qual eu poderia me juntar.

Era uma loja interessante, porque tinha livros para vender e pequenos objetos, ao mesmo tempo em que se poderia degustar vários pratos ou bebidas interessantes. Recebi o cardápio que começava com o item “café achocolatado”. Foi o que eu e Isabel pedimos. Nós nos sentamos perto dos livros e fomos muito bem servidas pelo garçom, que trouxe xícaras miúdas e lindamente decoradas. Enquanto isso, Manuela passeava exigente analisando criticamente algumas peças à venda.

O dinheiro fora fornecido pelo próprio estabelecimento. Daniel abriu uma caixa registradora de brinquedo, tirou algumas “notas” e entregou aos clientes. Em determinado momento, Mariana diz para Daniel.

– Cuide de tudo, de tudo, porque tenho uma reunião superimportante. Volto mais tarde. Saiu da “loja” falando ao telefone enquanto escrevia em uma prancheta, com ar de executiva.

Daniel ia de cliente em cliente perguntando o que mais queriam. Isabel escolheu um livro que achou interessante e Daniel:

– Temos também, como você pode ver aqui, livros da escritora infantil Miriam Leitão.

Mariana, de longe, falava com pessoas imaginárias.

– Sim, temos que resolver tudo hoje. Entendi. Não, não pode ser assim. Olha, já resolvemos isso, isso e isso – e ia eliminando itens supostamente escritos em sua prancheta.

– Ufa! Ainda bem que esta reunião acabou bem – exclamou ao final e voltou para a sua mesa de trabalho.

Daniel avisou que tinha algo importante para fazer e foi para outro lado com um velho computador que nem liga mais, passou a digitar e falar ao mesmo tempo.

– Tem que ter isso aqui. Não, não é bem assim. Ai, errei de novo. Agora sim!

Interrompi aquele intenso momento criativo ao teclado e perguntei:

– Daniel, o que você está fazendo?

– Estou montando o blog do Café.

– Ah, o blog.

– É a gente tem que escrever assim: hashtag blog do café. Tudo junto.

Nesse meio tempo, Isabel escolhe um dos livros e decide comprar.

– Não, isso não está à venda. Não posso vender – disse Mariana

– Por que?

– Por que é o meu diário. Tem coisas secretas.

Daniel voltou com uma máquina de fotografar de brinquedo e começou a registrar várias cenas na loja.

– O que é agora?

– Preciso pôr algumas imagens no Blog do Café. Aliás, faz de conta que você é uma “astra” famosa e fala alguma coisa sobre o Café Boutique para eu pôr no blog.

Me esforcei para parecer uma “astra” famosa e falei muito bem do local.

Dias antes havia chegado ao apartamento de Manuela e Isabel e entrei em outra brincadeira.

– Vovó, vamos brincar de jornal. Fica aí assistindo. Instalou uma cadeira pequena na frente, ficou de tal forma a aparecer apenas em plano americano e começou.

– Boa noite. Estas são as notícias de hoje – disse Manuela, seríssima.

E passou a contar fatos mirabolantes, bem semelhantes aos da realidade. Isabel, que está ainda na fase de chorar quando a mãe sai de casa, escolheu outra brincadeira. Colocou seus pés mínimos no sapato de salto da mãe e saiu andando, repetindo a cena clássica. Pegou uma bolsa de brinquedo e falou para a irmã.

– Filhinha, estou saindo para o trabalho… estou saindo para o trabalho.

Manuela, absorta em sua outra atividade, não interagiu. E ela:

– Você tem que chorar Manu, eu sou a mãe e estou saindo para o trabalho!

Manu faz a vontade da irmã e finge chorar.

– Não chora, filhinha, eu vou voltar, você sabe que eu preciso ir trabalhar.

Chega no local do trabalho e passa a digitar furiosamente. Encerra o expediente e volta:

– Filhinha, cheguei. Eu não disse que voltava?

Eram apenas brincadeiras de crianças, mas nas fantasias que criam aparecem os sinais das imensas transformações da vida cotidiana. Mulheres saem para o trabalho, participam de reuniões importantes, estamos todos atentos às notícias, lojas misturam café e livro e não podem dispensar ferramentas de divulgação e marketing do mundo digital como o#blogdocafe.

 

Este texto foi publicado originalmente no dia 2 deste mês pelo Blog Matheus Leitão. Com esta publicação, o portal avosidade abre uma exceção única à sua própria regra de só publicar textos inéditos e exclusivos.

 

[crédito da foto: Tomás Rangel]

 

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Um Comentário

  1. Elisabete, Adorei a página! Trabalho lindo e inovador para avós contemporâneos e absolutamente integrados neste nosso novo mundo digital! Parabéns!

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