Saúde

Dr. Beny Schmidt: a qualidade da morte

O autor provoca nova reflexão ao afirmar que se fala muito sobre qualidade de vida, mas nada se ouve sobre a qualidade da morte

● Palavra de especialista

 

► Durante nossa vida, escutamos sempre a frase: “cuide da sua qualidade de vida, faça isso e aquilo”… Mas nunca ouvi ninguém dizer nada sobre qualidade da morte.

Após ter vivenciado um episódio humilhante em um hospital de Paris, onde fui tratado na UTI por um acidente vascular cerebral (AVC), gostaria de dizer aos idosos que é preciso sim pensar e tomar providências para a qualidade da morte.

A primeira e mais importante, na minha opinião, é que ela jamais ocorra num hospital. Sobretudo se for fora do Brasil, onde a medicina está longe de ser humanista, causando humilhação em milhões de pessoas.

Na hora H, um dos principais segredos é ter a paz de que fez o suficiente para estar contente com a vida que teve. E se achar que faltou alguma coisa perdoar-se a si mesmo.

Fundamental a presença dos familiares queridos que inacreditavelmente são proibidos de permanecerem juntos em centenas de hospitais.

O lar é o melhor lugar para esses momentos. Prever e preparar, pois o pior nessa hora é ter que ouvir um médico falar uma tolice.

A desumanização na medicina tornou-se algo inaceitável. Chamar um filho, uma filha ou a esposa e escolher aqueles que você não quer ver ou escutar a voz.

Reumanização

E evitando o hospital, em muitos casos, estaremos evitando a humilhação que é pior do que a dor.

Pois, enquanto a dor fere nosso corpo físico, a humilhação arranha nosso espírito e diminui a luz da nossa alma que, ao partir em paz, pretende uma nova jornada suave.

Que se escolha bem os enfermeiros, cuidadores, familiares, no último momento o que nos resta é nossa alma.

Peço desculpas por esse texto fúnebre. Desejo, muito pelo contrário: saúde e felicidade a todos os leitores nesse Natal e Ano Novo que se aproximam.

É que fiquei indignado com os incidentes que passei num hospital de Paris, no mês passado. Não são só os médicos e enfermeiros que necessitam de reumanização.

Atualmente, com a internet e os aviões, podemos ligar em um segundo para o Japão e viajar a China. Somos 7 bilhões de pessoas universais, mas estamos muito distantes de sermos uma comunidade!

Somos todos nós que, através da educação e aproveitando os ensinamentos de todas as civilizações, precisamos pretender sermos humanos!

 

Sobre o Dr. Beny Schmidt

Beny Schmidt é chefe e fundador do Laboratório de Patologia Neuromuscular da Escola Paulista de Medicina e professor adjunto de Patologia Cirúrgica da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp). Ele e sua equipe são responsáveis pelo maior acervo de doenças musculares do mundo, com mais de 12 mil biópsias realizadas, e ajudaram a localizar, dentro da célula muscular, a proteína indispensável para o bom funcionamento do músculo esquelético – a distrofina.

Possui larga experiência na área de medicina esportiva, na qual já realizou consultorias para a liberação de jogadores no futebol profissional e atletas olímpicos.

Foi um dos criadores do primeiro Centro Científico Esportivo do Brasil, atual Núcleo de Reabilitação Esportiva Fisioterápica e Fisiológica (Reffis), do São Paulo Futebol Clube, e do Cecap (Centro Esportivo Clube Atlético Paulistano).

Em 2016, recebeu o registro de qualificação de Especialista em Neurologia e com isto tornou-se o único médico que acumula os títulos de patologista e neurologista fora da Europa (apenas um médico na Europa também acumula estes dois títulos).

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Seu livro mais recente, “O Médico”, está sendo lançado agora o final de novembro de 2016. Conta casos reais e inusitados em que o especialista conseguiu, de forma surpreendente, dar esperança a pacientes já sem força e vontade de viver. O livro é uma apologia à medicina humanista e tem como principal objetivo gerar uma reflexão entre os médicos brasileiros.

A inspiração veio do livro “O Homem que Confundiu sua Mulher com um Chapéu”, em que o cientista e neurologista Oliver Sacks transforma casos clínicos em artefatos literários.

O Dr. Beny Schmidt é filho do médico Benjamin José Schmidt, que foi o responsável por introduzir no Brasil o “teste do pezinho”.

 

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Dr. Beny Schmidt

Médico, cientista e avô

5 Comentários

  1. Dr. Beny achei muito interessante e importantíssimo o desabafo no texto sobre a desumanização que acontece na maioria dos atendimentos nos ambientes de saúde, que na realidade são ambientes de doença…Eu pude lecionar a matéria de Humanização no Instituto Federal de Santa Catarina – Câmpus Joinville e tive a oportunidade de obter relatos que nunca imaginava que o ser humano passa em um ambiente hospitar…Realmente temos que ter a empatia nas atitudes e no comportamento, pois não sabemos quando estaremos do outro lado…Realmente é uma matéria importante, pois sinaliza e alerta aos profissionais que atuam na área da saúde, que o primordial é o acolhimento e o carinho com todos que estão em busca de uma orientação, socorro e amparo. A reciprocidade deve haver com os profissionais da área da saúde, para poder assim lidar com os pacientes…Por isso à todos que escolherem sua ou suas profissões, os façam com AMOR…Pois tudo que é feito com AMOR sai bem feito…E prospera…<3 Um grande abraço Dr. Sou sua fã…Vou adquirir o seu livro…"O médico".

  2. Dr. Beny Schmidt, há pouco menos de 2 meses perdi minha irmā de 52 anos com câncer de pulmão e metastases no cerebro. Diante do quadro clinico e da impossibilidade de um tratamento particular, minha irmā foi tratada pelo SUS. Foram seis meses de tratamento de radioterapia e quimioterapia, não internamos minha irmā pois ela não queria ficar sozinha no hospital, ficou em casa, rodeada de cuidados e muito amor e carinho de familíliares e amigos. Esse tempo foi uma preparacão para nós e para minha irmā que partiu sem dor, sem medo, com todos da familia ao seu lado fazendo uma oração. Foi como o apagar de uma vela.

  3. Amei saber que, assim como eu, existem pessoas que compreendem que é necessário se pensar sobre a morte de uma maneira positiva. Acredito que muitas vezes a dignidade da morte não é respeitada… muitos familiares deixam os seus nos hospitais… acreditando que será o melhor que podem fazer por eles, quando, na verdade, podiam deixar que simplesmente seus familiares cumpram o final da sua jornada no aconchego do seu lar e na companhia daqueles que lhes são caros.
    Renata Parra, enfermeira, Hospital das Clinicas, São Paulo

  4. Tema absolutamente necessário, mas que quase todo mundo evita falar…
    Há uns três meses atrás fiz uma escritura pública de vontades registrando em cartório que não queria ser mantida em UTI, não deveria ser reanimada, receber cuidados em casa e nela morrer. E se por acaso viesse ser acometida de doença incurável, ser levada para um país onde a “morte assistida” já seja legalmente.praticada.

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