Gerações

Minha avó, minha nona, minha inspiração

A autora em momento de máxima felicidade, cozinhando massas com a avó Liliana (acima), e com a avó e os pais Márcia e Romano, no restaurante (abaixo)

► Minha avó, italiana autêntica que cozinha divinamente bem, teve uma ideia genial no calor de Salvador: transformar a casa em que morava, instalada num imenso terreno plano e todo arborizado na cidade de Lauro de Freitas, bem perto do Aeroporto de Salvador, em um restaurante para receber amigos e possíveis clientes.

Nona Liliana Morelli Allegro, nascida em Veneza, veio morar no Brasil há mais de 50 anos, atrás do meu avô, também italiano, Wilfrido Allegro, que não cheguei a conhecer. Vieram a trabalho, passaram pelo Rio Grande do Sul, tiveram seus três filhos no Brasil, deslizaram pela Região Sudeste e foram parar na Bahia.

A chácara da família onde o restaurante foi criado o que se chamava “Villa Ombrosa”, nome dado por Liliana por se tratar de um local com muito verde, com mangueiras enormes. Esse lindo lugar ficou perfeito para um restaurante com receitas típicas do norte da Itália: Veneza. O nome do restaurante foi uma homenagem a ela: Di Liana.

Minha avó sempre tomou conta de tudo praticamente sozinha, desde a cozinha, as receitas, a produção de pães e massas, às compras, à limpeza, à gestão de pessoas, o trato do jardim e os diversos animais que tínhamos lá, entre outras tantas funções operacionais.

Eu, logo que nasci, fui morar em uma casa dentro deste mesmo sítio do restaurante. Então, aprendi a falar vendo toda a logística do restaurante. Subia e descia um caminho que para mim era imenso, sozinha, sem nunca cair, e acompanhava o ritmo de trabalho de minha avó e meus pais até à hora do restaurante fechar.

Ah, desde pequenininha eu ia sempre olhar a produção de massas e me sentia muito à vontade com tudo aquilo. Com o passar dos anos, fui crescendo e cresci e ainda bem novinha, com uns 10 anos, eu aprendi a trabalhar no caixa.

Cadastrava os preços, fechava as contas e levava ao cliente, passava o cartão manual de crédito manual e dava troco. Confesso que sentia a insegurança dos clientes vendo uma criança brincar de ser “caixa”, mas eu adorava fazer aquilo ali e sentia que ajudava minha avó e meus pais.

Poucos anos atrás, Nona resolveu vender o restaurante. Estava cansada de tanto trabalho e ela não queria mais tocar todo negócio sozinha. Neste momento, meu pai, Romano, resolveu assumir o restaurante Di Liana e mudar o endereço para mais perto, no bairro de Ondina, em Salvador.

Até então eu amava o restaurante, porque cresci vendo todo o processo, mas também ainda queria alcançar outros desafios. Sempre tive o sonho de ter minha própria empresa, mas, quando entrei na faculdade, a pressão pra você ser um grande executivo também era tentadora.

Fui morar em Toronto, no Canadá, por um ano, e foi lá que idealizei um plano para o meu futuro: queria trabalhar na Ambev, uma empresa brasileira que tem seu espaço em praticamente todo o mundo. Cheguei a estagiar em outras empresas e por fim entrei na Ambev como estagiária.

Apenas oito meses depois, fui promovida para técnica e após mais três rapidíssimos meses fui promovida para analista. Estava indo com tudo. Mas, quando ganhei um prêmio do grupo americano DeVry para representar o curso de Administração de Salvador em um encontro de uma semana no Vale do Silício, as coisas mudaram.

Família-Allegro-7

Tive a oportunidade de conhecer um empresário admirável, fantástico e toda a minha vontade de ser empresária e criar meu próprio negócio voltou à tona. Participei de uma competição de startup entre os representantes das faculdades e universidades desse grupo no Brasil.

Meu grupo ganhou o prêmio, fomos julgados pelo presidente e diretores americanos do grupo, e tudo isso me empolgou muito. Com o passar do tempo, eu via que eu adorava a Ambev, mas não era aquilo que eu queria pra mim. Tive diversas indicações para trainee, mas recusei. Voltei de viagem decidida a sair da empresa e arriscar em um negócio próprio.

Meus pais, Márcia e Romano, sempre me apoiaram muito, sempre quiseram que eu saísse da Ambev e viesse tocar os negócios da família. E, juntando a minha vontade com o apoio deles, eu saí da Ambev com a intenção de montar um restaurante Di Liana menor pra mim.

Minha avó ficou feliz da vida com minha decisão, dizia que eu nasci pra tocar o restaurante e sucedê-la. Nós duas sempre fomos muito apegadas e somos cada vez mais. Admiro muito sua determinação, caráter, firmeza, objetividade, simplicidade, liderança, e sua maneira de encarar a vida e sua vontade de viver.

Ela é um grande exemplo não só para mim, mas para toda minha família, amigos e clientes. Ela fez história em uma época que o acesso à informação era muito restrito, criou três filhos, educou e formou diversos funcionários, e até hoje frequenta o restaurante, aprova os ingredientes novos, dá “esporro” quando tem que dar, mas também elogia, aprova nossas mudanças etc.

Ela é minha maior inspiração aqui dentro, e o que eu mais me espelho nela é a liderança. Não existe um único funcionário sequer que não a respeite até hoje. Essas qualidades e muitas outras me fizeram me apaixonar pelo negócio e me aproximar cada vez dela.

Hoje, fazemos tudo juntas, almoçamos, saímos, viajamos, eu a levo ao médico, durmo com ela, vou ao Shopping, a restaurantes, ao mercado etc. É minha grande companheira e meu xodó.

Atualmente meu pai e minha mãe são os donos do restaurante Di Liana, meu irmão Guido ajuda no que ele pode, e eu trabalho no dia-a-dia, assumindo todo o lado operacional do restaurante, além do comercial, atendimento ao cliente, negociação com fornecedores, e acima de tudo o Marketing.

De dois anos pra cá, quando comecei a entrar no negócio, implementei um trabalho de Marketing em mídias sociais, que não havia, e com isso trouxemos mais visibilidade e alcance ao restaurante. Começamos a agregar uma faixa etária mais jovem e ter clientes mais assíduos.

Ao longo desses dois anos nosso movimento cresceu nitidamente, construímos uma nova cozinha para atender eventos e o serviço de delivery, e estamos com planos de expansão para início de 2016.

Hoje me sinto completamente realizada com o que eu faço e nunca me arrependi da minha decisão, me encontrei profissionalmente e devo tudo a isso a minha família; principalmente minha avó! Nona, te amo e você sabe que sempre estarei ao seu lado!

 

Acompanhe o portal avosidade também no Facebook, Instagram e podcast+!

Veja também

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *