Por Mirian Ibañez
● Memórias ternas da neta sobre a avó, um relato feito com delicadeza
► As chuvinhas de ouro nas palmeiras do jardim e as avencas suspensas no tanque sombreado talvez sejam a síntese mais sublime de minha avó Angela. Filha de Joana, que veio do Tirol, era a segunda mais velha entre suas irmãs: Ursolina, a primogênita, Maria, Lucia e Lola, além do único irmão, Giacomo.
Da mãe, Angela herdou a autoridade, porém menos ostensiva. Ninguém ousava discordar de suas decisões. Enviuvou muito cedo. Luiz, o marido, se foi antes dos quarenta anos de idade porque o coração deixou de pulsar.
Era carinhoso aquele homem, nas lembranças emocionadas dos filhos: Clara, minha mãe, e seus irmãos Genésio, Paulo, Plinio, Carlos e Luiz, pré-adolescente quando ficou órfão.
Vovó, ao contrário, era contida. Cresci a seu lado, na casinha que ela mandou erguer, dividindo o terreno de seu lar, um retângulo sóbrio, em que o corredor de acesso aos cômodos, conduzia à cozinha, que reinava soberana sobre tudo mais.
Anel de noivado Angela
Naquele epicentro de paredes azuis como as pernas da mesa de tampo de madeira de lei, eu observava e repetia os movimentos da vovó. Sem pressa, ela seguia uma rotina bem definida. Acordava com os primeiros raios de sol, rezava, despertava os rapazes com o aroma de café coado e dos pães doces preparados nos fins de tarde de sábado.
Eram muitos seus afazeres: arrumar as camas, varrer a casa, deixar o banheiro impecável, lavar roupa, estacionar à beira do fogão, preparando o almoço. Eu sempre ali, antes e mesmo depois de ingressar na escola. Adorava as tardes com ela, aprendendo a tricotar, a fazer crochê, a costurar primorosas casas de botão e acabamentos.
Por mais que Angela tentasse e eu quisesse, não consegui fazer frivolité: nada além de uma navete e talento para transformar fios de linha em belos desenhos, como os que tenho na golinha bem guardada.
De Angela, herdei também o anel de noivado. E tudo que ela me ofereceu ao longo da vida. Se não demonstrava afeto com beijos e abraços, exceto quando bem velhinha, era o amor em pessoa. Com a delicadeza das avencas e chuvinhas de ouro.
Então. Pois. Então. Pois. Então. Pois. Então. Pois. Então.
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Então.Pois.Então. Pois. Então
E mais…
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Então. Pois. Então. Pois. Então. Pois. Então. Pois. Então.
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Então. Pois. Então. Pois. Então. Pois. Então. Pois. Então.
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Mirian Ibañez é jornalista e avó de Pedro e Beatriz