Comportamento

Dra. Elizabeth Monteiro: adolescentes e avós

A autora tem longa experiência com crianças, pais e avós que atende em seu consultório, e experiência própria com seus 4 filhos e 6 netos

● Palavra de especialista

 

► Quando a gente pensa na diferença entre essas duas gerações – adolescentes e avós – chega a arrepiar, mas é importante que você saiba que nem sempre essa relação é catastrófica. Por sinal, pode ser maravilhosa. Tudo depende das atitudes dos pais.

Tudo depende do vínculo entre os avós e o neto que foi feito na infância e do tipo de relacionamento dos pais da criança com os avós.

Tive uma mãe muito divertida e boa, mas ela era uma mulher bastante onipotente. Achava que ninguém fazia as coisas melhor do que ela. Era crítica e sempre me colocava muito abaixo dela no quesito dona de casa.

Quando o meu pai morreu, ela foi morar comigo. Tinha 80 anos, mas muita energia e vitalidade. Tanta, mas tanta, que faleceu aos 104 anos.

Bem, o problema começou quando ela se estabeleceu lá em casa, pois eu já tinha os meus quatro filhos e a casa funcionava do meu jeito.

Acontece que minha mãe bagunçou toda a estrutura que eu e meu marido havíamos montado para podermos trabalhar e ser país presentes. Pra começar, não parava empregada em casa, pois ela pegava no pé de todas.

Brigava diariamente comigo, me desautorizada e me criticava diante das crianças, fazendo questão de mostrar para eles o quanto eu era uma mãe e dona de casa incompetente.

Eu me calava, fazia as coisas do jeito dela e depois ia chorar escondido. Nunca me queixei da avó para o meu marido e para as crianças. Sempre achei que a minha mãe era um “problema” meu. As crianças ficavam iradas, pois viam o quanto ela me maltratava e eu apenas lhes dizia:

– A vovó tem muita idade, quer sentir-se útil e importante. Vocês devem respeitá-la. Ela ama vocês, a mim e ao papai. Foi uma pessoa fantástica quando jovem. Muito inteligente e trabalhadora. Eu não quero que vocês a magoem e maltratem. Ela é a minha mãe!

Livro Avos e Sogras 770

E assim, eu ia mostrando para eles que devemos entender e cuidar dos nossos velhinhos.

Meus filhos aprenderam a ver coisas boas nessa avó. Passaram a rir das suas implicâncias e a admirar o seu jeito forte de ser.

Quando adolescentes, foram muito respeitados pela crítica avó. Sabe por quê? Porque respeito gera respeito. Eu nunca permiti que as crianças “zoassem” dela e, assim sendo, ela nunca os desrespeitou.

Eles tiveram um vínculo muito mais saudável com ela do que eu.

Sabe o que eles fizeram no enterro da avó?

Levaram vinho, taças e enquanto o caixão descia brindávamos à grande mulher que ela foi.

Os adolescentes recebem da sociedade o rótulo de “aborrescentes”. Muitos deles incorporam o papel do marginal, do drogado, bagunceiro, complicado, porque não recebem o merecido respeito.

Claro que a adolescência é um período de muitos conflitos, mas o jovem que é respeitado na família, geralmente passa por uma adolescência menos conflitante. Bons avós podem ser excelentes auxiliares nos conflitos da adolescência.

O jovem que tem um forte vínculo com os avós, raramente buscará resolver as suas angústias nas drogas, porque sabe que irá magoar os avós que o amam tanto.

Agora, se você que é avó não formar um bom vínculo afetivo com o seu neto na infância, tudo será mais difícil. E se você, mãe, colocar o seu filho contra os avós… Está perdida… Nada justifica colocar a criança contra os seus pais ou sogros. Segure essa “onda”!

 

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Dra. Elizabeth Monteiro

Psicóloga e psicopedagoga, especialista em relacionamento entre filhos, pais e avós, autora dos livros “Criando Filhos em Tempos Difíceis”, “A Culpa É da Mãe”, “Cadê… o Pai Dessa Criança?” e “Avós e Sogras – Dilemas e Delícias da Família Moderna”; tem quatro filhos e seis netos, e escreve com frequência no portal avosidade

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