Maria Adelaide Amaral: “A palavra é acolher”
Vovó Maria Adelaide Amaral tem mais facilidade para lidar com os netos maiores
● Entrevista com Maria Adelaide Amaral
► Autora de tramas em novelas, séries, livros e peças de teatro, Maria Adelaide Amaral gosta de contar histórias também para os netos. E já definiu o próprio papel na vida deles: “Eu acolho”. A dramaturga não folcloriza a infância e acredita ter mantido o espírito adolescente: “Tem uma identificação muito grande entre mim e eles. A gente se entende”.
Aos 72 anos, a escritora e dramaturga Maria Adelaide do Amaral faz questão de estar próxima dos cinco netos, apesar de muito ativa profissionalmente, cheia de projetos: “Sempre que posso ajudo a fazer lição, conto história, levo ao cinema, ao teatro ou para jantar”. A autora de novelas como Ti Ti Ti, Anjo Mau e das séries Queridos Amigos e A Casa das Sete Mulheres, entre outras, fala de igual para igual quando se refere aos netos, que têm entre dois e 14 anos: “Não é que eu seja ‘amiguinha’, mas tenho solidariedade. Vejo com identificação. Eu os compreendo”.
Ela assume ter mais facilidade para lidar com as crianças maiores: “Gosto de contar histórias para elas a partir de uns quatro anos. Antes disso, sou meio desajeitada”. A escritora, que nasceu em Portugal, diz não ter boas recordações da própria infância, época em que seu país vivia as dificuldades do pós-guerra e o autoritário regime salazarista. Já a adolescência ela viveu no Brasil, e se identifica muito com a chegada da primeira neta à adolescência: “A Tônia Carrero disse que não saí da adolescência. Acho que não saí, mesmo”.
Autora de diversos sucessos de audiência, ela conclui, sobre os netos: “É muito bom saber que você fez a diferença na vida de alguém. Isso justifica sua passagem pelo planeta. E você sente mais isso quando eles são adolescentes, porque sua palavra é mais efetiva na formação”.
Quando recebeu “avosidade” em sua casa, em São Paulo, Maria Adelaide andava ocupada com seus trabalhos, entre eles os roteiros de Sagrada Família, novela que estreia em 2016 na Rede Globo. Mas antes de se despedir, deu um suspiro: “Obrigada por terem vindo. Foi muito bom parar um pouco para falar sobre isso”.
A seguir, os principais trechos da entrevista com a vovó Maria Adelaide Amaral
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Vovó também educa
“Eu sou daquele tipo que beijoca muito, abraça muito, mas eu tenho uma característica disciplinadora. Aquele negócio de que em casa da vovó pode tudo, mas na minha casa não pode tudo, eles sabem disso. Eles sabem que eu fico disciplinando a hora em que eles comem, o jeito que eles comem, o que eles comem. Eu fico atenta, fico até assumindo coisas que deviam ser do pai e da mãe, apesar de que o meu filho criou os filhos dele muito à minha linha… ele acha importante, e eu também acho, a criança dizer bom dia, boa tarde obrigado, com licença, sensibilizada, ter consideração pelos outros, conhecer seus limites, gostaria que eles, meus filho e eles, tivessem um relação tão afetiva e tão grata, por exemplo, com empregados, quanto eu tenho. Eu acho um privilégio você gostar sinceramente das pessoas.”
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Criança sofre
“É uma descoberta de uma nova geração também, do jeito que eles pensam, o que eles querem… No fim é a mesma coisa, você trocando em miúdos, com toda tecnologia, criança é criança. E gente é gente. Continuam se angustiando, sofrendo… Não sei por que as pessoas… A infância não é necessariamente uma coisa feliz. Infância é uma fonte de angústia, ansiedade. A escola pode ser uma fonte de sofrimento, por não conseguir atingir a performance que se espera, por ser alvo da zombaria… Claro que hoje em dia é muito fácil, naquela época que eu estudava era um horror, porque os professores eram tremendamente autoritários, era um regime tremendamente autoritário. Mas mesmo assim… Uma vez a Regina Casé falou assim pra mim “Eu tenho pena de criança”. Mas eu entendo o que ela quer dizer, porque criança sofre.”
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Cabeça adolescente
“A palavra, o verbo é acolher. Eu acolho. É fácil pra mim acolher. É como se houvesse uma identificação muito grande entre mim e eles, é natural. Uma vez a Tônia Carrero falou pra mim: “Você nunca saiu da adolescência. De um certo sentido eu nunca saí mesmo. Eu sinto assim que às vezes eu tenho a cabeça meio adolescente.” (26’44”)
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Embolados no sofá
“Agora, eu acho muito enriquecedor, afetivamente falando, e mais do que afetivamente, a relação com os netos. Acho assim… Principalmente quando eles crescem. Uma sexta-feira dessas aí o pai não podia, a mãe não podia, e eu falei ‘Vem aqui pra casa’. Era uma noite de frio, pedi uma pizza e meu neto falou: ‘vó, nunca comi uma pizza tão maravilhosa como essa’. E ficamos os três embolados no sofá assistindo televisão. Não é uma delícia, isso? É o melhor programa que tem. É muito gostoso. Como é gostoso o menorzinho que ficou aqui e toda manhã eu levantava, cruzava com ele no corredor e ele dizia ‘Bom dia, vovó’. Eu queria morrer, né?”
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Mais importante na adolescência
“É bom saber… É muito bom saber que você fez a diferença na vida de alguém. É muito bom saber. Que bom, então isso justificou minha passagem por esse planeta, por essa vida. É importante você ter feito a diferença na vida de alguém. Isso é fundamental. E você sente mais isso quando eles são adolescentes do que quando são crianças, porque exige mais cuidado, mais mão de obra. Mas, realmente. Quando sua ação, sua palavra é mais efetiva na formação, nas decisões… Aí, realmente, é bom, né?”
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