As incríveis viagens do vovô Amoroso
● Entrevista com Alceu Amoroso Lima Filho
► Levar a trupe de netos para excursões, sem tevê nem celular, foi o jeito que o professor Alceu Amoroso Lima Filho encontrou para criar laços com os descendentes. Na convivência, mantém os modos que aprendeu com o pai escritor, que ficou famoso com o pseudônimo Tristão de Ataíde: “A mesma liberdade que tive com meu pai, Tristão de Ataíde, tento passar para os descendentes”.
Amoroso
Junto com sua esposa Elisa, o engenheiro e professor universitário Alceu Amoroso Lima Filho, de recém-completados 80 anos, criou a tradição de levar os netos pequenos para viajar – sem os pais. Sempre foi uma boa oportunidade para a convivência entre os primos e os avós, já que alguns moram em cidades diferentes.
Nessas excursões, o casal se esmera ao propor atividades que os netos devem cumprir e duas regras de ouro a serem seguidas: televisão e celular ficam proibidos. As decisões são tomadas em consenso e até o dinheiro de todos é depositado num fundo único, com todos os gastos sendo feitos em conjunto. Com isso, aprendem a viver em sociedade, abrir mão de suas vontades e a ajudar os menores.
São experiências vivenciadas com 12 netos e agora também com um bisneto. Até o avô teve aprendizados com essas viagens. Uma vez, proibiu os netos de ouvir música no ônibus. Até que um deles o colocou numa saia justa: “Decidimos, em consenso, que queremos o som”. Ele precisou se dobrar: “Eles tinham razão”.
“A gente tenta exercer influência de forma natural”, diz ele. No dia a dia, seguem os exemplos do patriarca famoso. “Meu pai achava que a maior virtude é a naturalidade, a pessoa ser o que é. E que o pior vício é o farisaísmo, a pessoa querer ser o dono da verdade. E tinha muito senso de humor. Eu penso que senso de humor e inteligência são idênticos”.
Entrevista Amoroso
A seguir, os principais trechos da entrevista com o vovô Alceu Amoroso Lima Filho
Liberdade que atravessa gerações
A filosofia de vida usada para criar os filhos serve também para os netos, mas com mais moderação…
“Acho que a gente deve estender a mesma filosofia de vida e de criar seres humanos para os netos, porém com moderação. Respeitando a liberdade dos filhos em relação a seus filhos. Como nossa posição foi sempre de muita liberdade para os filhos, no sentido do que querem fazer, que profissão querem seguir, onde querem morar, se querem casar, se têm ou não têm religião… Nós apenas tentamos dar o exemplo do que temos convicção e principalmente de liberdade. Acho que liberdade é absolutamente fundamental e isto eu tive inclusive na geração anterior, dos meus pais, e procuramos passar para eles.”
Viagens de avós e netos
A novidade foi levar os netos pequenos para viajar sem os pais, criando a oportunidade para a convivência entre primos que moram em cidades diferentes
“Nós procuramos inclusive cultivar essa relação e fizemos um projeto, minha mulher e eu, de levá-los a passeios diversos, a viagens diversas, principalmente no Brasil, que hoje em dia talvez se visite muito menos do que outras partes do mundo, eles especialmente. Fomos ao Pantanal, a Foz do Iguaçu, fomos a uma fazenda do interior de São Paulo, a Monteiro Lobato. Fomos a vários lugares com os netos, sem os pais, justamente para cultivar essa relação que você está procurando determinar, entender. Provocamos inclusive atividades nessas viagens. Por exemplo, quando nós fomos para Monteiro Lobato, eles tinham a missão de fazer uma pesquisa sobre o Monteiro Lobato, seja sobre personagem, seja sobre livro, seja sobre história.”
Amoroso
Avaliação dos trabalhos de férias
Julgamentos eram uma decisão diferente, não era democrática, nem ditatorial, mas muito menos: era consenso
“Eles tinham atividades e eram julgados no sentido da qualidade e sobretudo do esforço, porque é difícil julgar a qualidade do que faz um menino de sete anos e outro entre 10 e 15 anos (porque a partir de 15 anos eles têm outros interesses e os avós passam a ser menos prioridade), mas eles eram julgados no sentido de expor o que fizeram e mais: a decisão não era democrática, nem ditatorial, muito menos, era consenso.”
Conflito de gerações
A dificuldade do avô de impor disciplina com netos muito espertos
“Numa dessas viagens, eu falei: ‘consenso… consenso… consenso… a democracia tem mil virtudes, Churchill dizia que era o pior dos sistemas, tirando os outros todos, mas o consenso é melhor porque você consegue interagir melhor, etc., etc.’. Na hora de ir embora, era de ônibus, nós estávamos de ônibus porque era tanta gente… Tinha umas regras bastante autoritárias: ‘ninguém leva celular… nós não vamos botar CD no ônibus, não pode’. Aí um deles, por sinal uma cabecinha privilegiada, chegou pra mim e disse assim: ‘Vovô, nós chegamos por consenso à decisão de que gostaríamos de ouvir música’. (…) Eu era bem rigoroso, autoritário, nazista… Depois, no meio da viagem, fiquei pensando, paramos no primeiro lugar para comer um lanche, eu disse: ‘Olha, podem ligar o que quiserem, música, rock, o que quiserem, porque realmente vocês têm razão’.”
Então. Então. Então. Então. Então. Então. Então. Então.
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É muita gente para administrar, hein vovô???
Um dos meus grandes mestres, Dr. Alceu, Diretor de Marketing na Bahema S/A.
Muito bom ouvi-lo, suas histórias e a eterna sabedoria. Tenho um neto, desejo que por enquanto, e “copiarei” essa filosofia.
Utilizo, com minha equipe, muita coisa do que aprendi com o senhor. 1 grande abraço.