Gerações

Declaração de Amor

Vovó Valderez e os netos Júlia e Pedro

O sorriso que a Júlia e o Pedro abriram para mim, quando fui buscá-los numa dessas sextas-feiras para passarem o final de semana em minha casa (os pais foram viajar), me deu a certeza absoluta que eles me amam de verdade. Engraçado, deve ser por alguma influência da genética, do parentesco, ou, quem sabe até, por alguma ligação espiritual.

O fato é que estou convencida de que eles me amam de verdade. Interessante é que eu nunca fiz muito para merecer esse amor.

Não os levo ao cinema, não leio histórias para dormirem, não vou a parques, não ando de patins, ou bicicleta, não pulo corda, nem brinco de pique-esconde. Estou sempre muito ocupada.

Sei que muitas avós da minha geração vão entender o que eu estou falando. Viemos de tempos difíceis, ralamos para criar os filhos e agora que estão crescidos e são pais, não perdemos o embalo. Continuamos trabalhando e, quando não, passamos a ser aprendizes de um monte de coisas. Cantamos em corais, fazemos pós-graduação, arte, pilates, viajamos pelo mundo afora e até vamos em busca de informações sobre Deus, de quem a gente sempre ouviu falar, mas não entende bem o que possa ser. Ufa! O dia não cabe em tantos compromissos.

O tricô e o crochê ficaram no passado. Com isso, o apego, a posse, a necessidade de amor incondicional e a forma de amor mudaram.

Nossos filhos. Ah! Estes não chegam a entender. Já fui acusada de não ter ajudado a cuidar dos netos recém-nascidos e de não vê-los com frequência. Mas, no fundo, bem no fundo, os filhos nutrem respeito por nós e ficam aliviados por não sermos aquelas avós que interferem na criação dos netos, que monitoram cada passo e que querem ser amadas a todo custo. Os tempos são outros.

Quero sim, ver meus netos crescerem, quero conhecer os primeiros namorados. E para ser pretensiosa, até mesmo conhecer os filhos dos meus netos. Mas quero, principalmente, que eles entendam a minha forma de amor.

Nesta direção, estabelecemos um acordo tácito: nenhum dos lados deve depender do outro lado para ser feliz. Eles me amam sem querer contrapartidas. Já o meu amor por eles não é desesperador, preocupado e tenso. É um amor maduro, desinteressado, desapegado, sereno.

É um tipo de amor que aquece o coração, como me sinto agora quando falo neles.

 

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