Gerações

Lea Diamant: “A distância aproxima”

Vovó Lea com os netos Rafael e Carolina, que vivem em Houston, nos Estados Unidos

● Entrevista com a médica Lea Lederer Diamant

 

A médica Lea Lederer Diamant, com títulos de especialista em endocrinologia pediátrica e endocrinologia geral, usou um recurso criativo para pressionar as três filhas a lhe darem um neto antes que fosse, no cálculo dela, tarde demais. Promoveu um concurso, tão bem sucedido que o premiada foi ela: teve seis netos quase embolados: Ariel, o vencedor do concurso, hoje com 7 anos; Beny, 7 anos; Chloe, 5 anos; Liam, 5 anos; Rafael, 6 anos; e Carolina, 4 anos.

Dois terços dos seus seis netos nasceram e vivem fora do Brasil. Mas a médica Lea Lederer Diamant relata uma experiência estranha, de conversar mais com as filhas no exterior do que a que trabalha ao seu lado e mora na mesma rua, em São Paulo. Coisas das metrópoles de hoje em dia.

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Mas os netos que moram no Brasil proporcionam à vovó um prêmio especial: ficam com ela sem os pais por perto. “Com os pais junto, não tem graça. Eles atrapalham muito, muito”, diz, numa gargalhada. Então, inventou que toda quarta-feira é dia da avó. E são os netos que visitam a avó e jantam com ela…

 

A seguir, os vídeos com os principais trechos da entrevista com a vovó Lea Lederer Diamant

 

Concurso deu resultado

Com as filha já passando dos 35 anos e sem filhos, a médica Lea não se aguentou e tomou a iniciativa de provocar resultado

“De repente, minhas filhas estão passando dos 35 anos e ninguém resolve ter filho. E eu estou preocupadíssima, porque eu quero ser avó antes dos 60, pra poder sentar no chão, brincar… Aí, eu faço um concurso, eu resolvi oferecer que eu ia pagar a faculdade do neto pra quem tivesse o filho antes. Um concurso das filhas. E aí, a minha filha caçula, que era a única com quem eu não estava preocupada – mas eu tinha que incluir ela no concurso –, ela me liga e pergunta: “Mãe, você paga a creche em vez da faculdade, porque a faculdade é muito longe”. Eu falei: “Pago, eu pago a creche”. E ela foi a primeira. O meu neto mais velho é filho dela, está com 7 anos, e dois meses depois nasceu o filho da minha filha mais velha, que também está com 7 anos, e seis meses depois nasceu o da minha filha do meio, que está com seis anos agora. Então, o concurso foi maravilhoso, foi espetacular. Depois eu fiquei meio com remorso, porque achei que não devia privilegiar só uma, mas pra pagar para as três não dava…”

 

Netos fora do Brasil

Quem tem netos longe não tem mais viagens de férias e quer aproveitar todas as folgas pra passar com eles, onde estiverem

“E era bem complicado pra mim porque eu ia visitá-las pelo menos duas vezes ao ano, e eu tinha de fazer duas viagens, primeiro para Washington e depois para Denver. E essas viagens, além das visitas que eu fazia regularmente, eu fui para os partos das crianças, então, nós tivemos quatro partos lá, e cada vez eu ficava mais ou menos três semanas. Então, desde que as meninas estão lá e desde que as crianças nasceram, eu praticamente não tenho férias, de dizer que eu fui viajar pra não sei onde, fiz uma viagem maravilhosa, não tenho, porque quando eu posso parar o consultório e sair um pouco, eu vou visitá-las, porque é o que eu tenho mais vontade de fazer.”

 

A distância aproxima

Ser avó só depois dos 60 anos pode ter prejudicado um pouco, mas não impediu de viajar intensamente para encurtar distância dos netos que vivem no exterior

“A minha mãe, por exemplo, ela foi avó com 45 anos, porque eu tive filho logo, ela também tinha tido logo, é muito diferente. Então, você ser avó com mais de 60, sua coluna não é mais a mesma coisa. Por exemplo, pôr louça na máquina de lavar louça pra mim é um horror, porque tem que abaixar e depois na hora de levantar, crec, crec, crec. É muito complicado, mas é uma delícia. Aí, eu passei com cada uma delas uma temporada quando nasceram as crianças, depois, um dos nenês precisou de uma cirurgia, eu tive também que ir, ficar com o mais velho. Quando ela vêm pra cá, se hospedam na minha casa, e eu quando vou lá me hospedo na casa delas. Então, a gente tem um contato bem intenso. É muito próximo porque a gente participa da rotina delas e elas participam da rotina da gente. Eu falo mais com as minhas filhas que estão fora do que com a daqui, porque a daqui está que corre, corre, faz isso, faz aquilo, e como ela trabalha aqui no consultório também, ela é arquiteta e tem a sala dela aqui, como a gente está sempre se vendo, a gente não conversa tanto. É uma coisa muito maluca. A distância aproxima.”

 

Com os pais junto, não tem graça

Vovó Lea diz que os netos se comportam de maneira diferente com mãe perto. “Ficam manhosos, eles chantageiam a mãe, não é?”

“Como nos fins de semana era muito complicado porque eles estavam sempre cheios de programas, a gente estabeleceu que quarta-feira é o dia da vovó. Eu normalmente faço consultório até 7 e meia, 8 horas, e na quarta-feira eu paro, a última consulta é às 4 e meia, eu vou pra casa, eles moram na mesma rua que eu, então eles vêm lá pra casa, conversam, jantam, ficam um pouquinho, depois minha filha pega. Mas eles vêm sozinhos, sem ela, porque, quando os netinhos estão com as mães, não é a mesma coisa. Assim, é supergostoso. Tem de ser sem os pais. Com os pais junto, não tem graça. (Os pais) atrapalham muito, muito. E eles se comportam completamente diferente com mãe perto e sem mãe perto. Com mãe perto eles são manhosos, eles chantageiam a mãe, não é?”

 

Contra ter filho muito tarde

A experiência familiar da vovó mostra que não vale a pena deixar para ter filho muito tarde

“Não vale a pena deixar para ter filho muito tarde. Elas pensam em carreira, e que ter filho vai atrapalhar a carreira. E atrapalha mesmo, mas atrapalha em qualquer época que elas tiverem. Se tiverem cedo, elas vão construir a carreira depois. Se tem muito tarde, essa carreira já está construída e ela acabam sendo interrompida, do mesmo jeito… e se é tarde, essa carreira está sendo interrompia. Eu vejo principalmente minha filha do meio, que foi para os Estados Unidos, fez MBA na Harvard, ocupou posições impressionantes, mas depois que as crianças nasceram ela não conseguiu mais trabalhar. Então, ela está parada, em casa. Tanto faz se isso tivesse sido antes ou depois. Eu acho bobagem esperar. Que tenha logo, e constrói a carreira depois.”

 

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Elisabete Junqueira

Publicitária e jornalista, fundadora e editora do portal avosidade, avó de Mateus, Sofia, Rafael, Natalia, Andrew, Thomas e Cecilia Marie

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