Meu avô, Antonio Lomanto Júnior
► Falar de meu avô é falar de humildade, de sabedoria, de dedicação, de fé e de amor.
Jovem do interior, ele exerceu a política passando por diversos cargos públicos e saiu do governo carregado pelos braços do povo. Político firme, dedicado e exemplo de líder servidor.
Marido apaixonado, até hoje, aos 90 anos, quer beijar minha avozinha. Até hoje canta para minha vó a música “A Noite do meu Bem”.
Pai extremoso, puro amor, tudo é em prol da família. E avô? Avô é o verdadeiro sinônimo de meu avô Antonio Lomanto Junior.
Como neta mais velha posso dizer que nossa relação é de pai, mestre, melhor amigo, meu avô…
Falar de meu avô é falar de minha vida, é falar de minha infância, minhas descobertas, meus sonhos, minha adolescência, meu crescimento profissional, meu hoje e meu amanhã. Tantos aprendizados, tantas lições. Com ele aprendi o quanto é preciso se doar e amar para conquistar o que se quer.
Com ele aprendi a sentir o que é amar e o que é se sentir amada. Ele é só amor!! Amor no vozeirão, nos elogios (sempre eu era a mais bonita, a mais magra, a mais inteligente), no esfregar das mãos, nos conselhos. Meu avô é amor!
Desde cedo percebi que ele era tudo para mim, logo cedo eu entendia seu amor por mim. Minha mãe me contava: “Duda, quando você tinha 1 mês, seu avô lhe levou no bosque em Brasília perto do aeroporto para respirar ar puro, de repente você estava toda de formiga”…
Qualquer outra mãe ficaria brava com o sogro, mas desde cedo minha mãe e meu pai entenderam que nossa relação – eu e meu avô – era diferente. E que com ele eu podia tudo.
Meu avô era um amante da natureza e dos animais… Ele me ensinou a importância de respeitarmos a natureza e os bichos. Ele me deu minha primeira cachorra que se chamava Natascha, me deu meu primeiro cavalo que chamava Campeão e com esses bichos tive experiências únicas junto com meu avô.
Ainda pequena, em Brasília, nós costumávamos passear no Landau azul-marinho dele com minhas amigas (amigas até hoje). Dávamos a volta ao Lago Paranoá, pintávamos horrores no carro e ele só dizia: “Duda, esse lago aqui é uma beleza…”
Até hoje minhas amigas falam das grandes recordações da nossa infância com o vô Lomanto. Ele era avô de todas…
Veja a simplicidade de meu avô, costumávamos ir bem cedo, nos fins de semana, em Brasília, para a Água Mineral (um parque) e ele dizia: “Duda aqui é o melhor lugar do mundo!!!” A natureza encantava meu avô.
Na fazenda, na cachoeira, ele ia com sua toalha no ombro e ficava lá cantando com o vozeirão. A água gelada… E ele amava. Costumávamos passar as férias na fazenda com ele, e ele queria que fizéssemos tudo com ele, de tomar banho de cachoeira a tirar leite da vaca no curral e aos passeios pelas roças de cacau. Ele adorava contar as histórias… Sem dúvida, com ele aprendi a amar a natureza. A Fazenda Floresta é um lugar sagrado!
Tive a sorte na infância de meu avô morar em Brasília no 6º andar e eu morava no 3º andar do mesmo prédio. Tudo era com meu avô. Eu ouvia um “não” de meus pais e então subia e ouvia o “sim” com tanto amor que aos poucos que fui crescendo, fui entendendo a responsabilidade de dizer e de ouvir os “sins” da vida. Quanta sabedora. Ele dizia o “sim” e explicava as consequências…
Imagina uma criança com tanto “sim” e tanto amor, era para eu ter dado errado na vida? Mas acho que não dei. Sou realizada e bem sucedida e tenho certeza que sem os “sins” de meu avô e sem esse excesso de amor eu não teria dado certo. Amor em excesso não estraga, tenho certeza disso.
Com ele fui à Disney e nesse momento eu estava aprendendo a ler. Então, ficava lendo uma oração que minha mãe me ensinou: “Querido Deus, gosto muito de você, do papai, da mamãe…”
Lendo daquele jeito engraçado com as sílabas e meu avô achava lindo… Tudo que eu fazia era lindo e importante. Por que será que avô é assim? Que sentimento é esse tão sublime, tão puro?
Com ele tive minha primeira conversa sobre namoro, sobre sexo. Imagine, falar essas coisas, minhas experiências e minhas descobertas, com um senhor? Mas foi para ele que contei minhas descobertas, meus segredos. E ele me disse: “Agora, minha neta, você vai ter que casar…”
Do lado daquele homem visionário, tinha um avô machista, tradicional e superciumento. Ele falou para meu primeiro namorado: “Meu filho, se uma mosca pousar na minha neta, eu mato”. Que figura, esse Lomantão!!
Que delícia era esse sentimento de proteção e segurança. Esses sentimentos de amor fazem de mim o que sou hoje. Acima de tudo, feliz!!!
Já com vinte e poucos anos, precisei tirar os dentes sisos e lá estava meu avô segurando minha mão.
As pessoas diziam é muita paparicação, e eu digo: era amor! Amor sem ponto ou vírgula, somente com exclamação.
Meu avô não escondia de ninguém, nem dos outros netos, que eu era a neta preferida. Ele se justificava: “É a mais velha…”
Meus primos e irmãos entendiam e aceitam até hoje, respeitam esse nosso amor.
Os anos passavam e ele, meu maior amigo, cada vez mais. Comecei minha carreira, mudei para São Paulo e ele só me perguntava: “Te tratam bem? Você ganha bem? Precisa mesmo morar em São Paulo, o quê mesmo você faz?”
E assim eram as inúmeras perguntas… Meu avô sempre teve muito orgulho de mim.
Dia de domingo era dia de falar com meu avô e contar tudo a ele.
Chegou o momento de casar, imaginem a quantidade de perguntas que meu avô não me fez…
Que figura! Eu disse a ele: “Vô, combine já com meu pai e você vai entrar na igreja comigo”. Meu pai sempre teve orgulho e felicidade de ver nosso amor.
No dia do meu casamento, lá estava ele parecendo um lorde, me esperando na Igreja de Nossa Senhora da Conceição da Praia, na Bahia. Quando a Marcha Nupcial tocou, que emoção foi ver ele do meu lado para me levar para uma nova fase da minha vida! Todos se emocionaram, meu pai falou que foi a maior emoção da vida dele, e, para mim, um sonho realizado.
Em todos os momentos da minha vida, o que mais eu digo a meu avô é “obrigada por tudo”. Sem esse amor eu não seria o que sou. Obrigada pelos exemplos de dignidade, de humildade, de ética. Somos o reflexo de exemplos na nossa infância!
Meu filho chegou e, claro, fiz a homenagem a meus dois avôs: Eduardo, pai de minha mãe, e o Antonio a meu avô, pai de meu pai Antonio Lomanto (os três Antonios na foto). Todos os homens da nossa família têm Antonio no nome em homenagem a ele e a Santo Antonio, nosso santo de devoção. Tudo para meu avô era Santo Antonio. Meu filho chegava com o nome Eduardo Antonio.
No dia do nascimento, lá estava ele às 6 horas da manhã na porta do Hospital Aliança, me esperando, como sempre, ansioso.
Até hoje eu sei que será para sempre essa história de amor e cumplicidade entre nós.
Até hoje, ele, com seus 90 anos, já não estando com tanta consciência, eu converso com ele contando minha vida e minhas decisões. Sei que tem algo maior que a razão ou a consciência me ouvindo. Sei que nosso amor será eterno.
Assim, com esse excesso de amor e proteção, sou o que sou. Excesso de amor só faz bem.
Assim nossa família funciona.
Assim meu pai é com os netos!
Tenho o maior amor do mundo de meu pai e de minha mãe, mas o dele é diferente.
Assim que digo que meu avô é sinônimo do que é ser avô!
Meu avô, meu herói, meu grande amigo, meu amor, obrigada por tudo!!!
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Excelente e maravilhoso texto. Parabéns!