Gerações

‘Meu neto me salvou’

Avós são um porto seguro, não um esconderijo, não um espaço de fuga; avô é uma pessoa que faz os netos se sentir amparados, protegidos

Entrevista com o jornalista José Ruy Gandra

É assim que o jornalista José Ruy Gandra define a relação com o neto Rodrigo: me salvou. Ao ter que lidar com a perda trágica do filho Paulo, ele encontrou no papel de avô a possibilidade de recriar o afeto.

No livro “Coração de pai”, José Ruy explicita todos esses sentimentos que envolveram a alegria pela chegada de um neto, que por sua história de vida, imaginou que nem conseguiria conhecer, e a dor da partida de um filho.

“É incomparável pelo amor que eu tenho por ele. Esse menino salvou minha vida. Deus me deu o antídoto antes de me dar o veneno”.

Jornalista há 30 anos e escritor há uma década, hoje em dia, além do papel de avô, José Ruy tem se dedicado a dar palestras sobre a importância dos valores aplicados na família e em organizações.

Para ele, esses valores são liderança, superação e lealdade, que deveriam ser experienciados nesses dois ambientes, mas nem sempre é o que acontece.

 

Salvou

 

Além de Paulo, José Ruy teve outro filho de um segundo casamento, o Pedro. Para ele, a separação afetou bastante a vida do filho mais velho.

“Só pode separar por uma razão muito justa. A gente não faz ideia do que uma separação acarreta na cabeça de uma criança. O Freud tem uma frase espetacular: ‘A grande dor dos filhos é saber que a vida deles não foi o bastante para manter os pais deles unidos’. Para os adultos, a separação é um processo racional, mas para as crianças é um processo emocional. As estruturas que mais abalam são as emocionais e que são as mais importantes para a formação da personalidade.”

Para o mundo

O jornalista faz questão de ressaltar que, apesar desse laço estreito e intenso com o neto Rodrigo, sabe bem o lugar dele.

“Eu sou um avô, eu não sou um pai, por mais que eu me esforce eu não vou cumprir o papel de pai”, afirma, ao explicar que o avô pode ser um conselheiro dos pais, mas as decisões, como por exemplo, na educação dos filhos, não cabem aos avós.

“O grande papel do avô é amar. Amar, amar, amar. É ser um porto seguro, não um esconderijo. Uma pessoa que eles sabem que se chegar nelas estarão amparados, protegidos, que efetivamente os amam. Mas não um espaço de fuga.”

José Ruy Gandra acredita que o grande desafio dos pais é preparar os filhos para o mundo, que está cada vez mais hostil, mais competitivo. E, sabendo o seu lugar, os avós podem dar grande contribuição a isso caminhando junto.

“Acho que a gente tem que guiar essas gerações. O negócio do avô é manifestar o amor e ter um olho ligado no entendimento desse mundo. A gente está precisando entender esse mundo. As pessoas até são fáceis de entender, mas o mundo não é fácil. E você precisa fazer um esforço para entender esse mundo em nome dos filhos e netos, da felicidade deles.”

Confira os melhores trechos da entrevista:

Salvação
O veneno chegou quando já tinha chegado o antídoto

“Eu tive meu neto e oito meses depois perdi o pai dele. Teve duas coisas que salvaram minha vida: a primeira foi ter nascido o Rodrigo. E quando veio nesse momento tão difícil, me ajudou muito a enfrentá-lo”

 

Resgate
Oportunidade de corrigir os erros como pai

“O Rodrigo pra mim passou a ser a possibilidade de um resgate. De dizer: se eu não dei a devida atenção por egoísmo, por ‘porralouquice’ juvenil ao Paulo, eu vou dar essa atenção ao meu neto”

 

Ser avô
Relação muito bacana, intensa, com muito amor

“Eu sou um avô, não sou um pai. Então por mais que eu me esforce eu não vou cumprir o papel de um pai. Eu vou ajudar a ele entender a figura masculina. Eu acho que ser avô é acima de tudo ser doce”

 

Separação
Processo racional para adultos, mas, e as crianças?

“A grande dor dos filhos em uma separação é saber que a vida deles não foi o bastante para manter os pais unidos”

 

Educação
Avó é para dar carinho e proteção, não para educar

“O sentimento de utilidade, de amparo, de estar ajudando é muito grande. Avô deve se ater ao papel de provedor de carinho irrestrito, deve amar e não deve querer educá-los”

 

Tempo
A obsolescência dos pais e avós, e os remorsos

“Eu perdi meu pai aos 20 anos, a gente brigava feito cão e gato. Hoje eu falo é um outro grande remorso na minha vida, porque não deu tempo [de reconciliar]”

 

Amar
Longevidade e infantilidade também podem caminhar juntas

“Amar não é fácil. Amar traz ciúme, amar traz inveja, uma série de sentimentos”

 

Valores
Liderança, superação e lealdade são os princípios fundamentais

“Nesse mundo todo mundo quer achar o seu lugar. E o que os pais querem? Que os filhos saiam, de uma família, bem criados, e que sigam seu caminho profissional bem preparados”

E mais…

Veja também o artigo deste entrevistado no portal avosidade:

http://avosidade.com.br/o-veneno-e-o-antidoto/

http://avosidade.com.br/marina-o-caldeirao-e-docura/

http://avosidade.com.br/minha-neta-predileta/

http://avosidade.com.br/o-neto-e-um-sonho-esculpido/

Salvou saovou salvou
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Elisabete Junqueira

Publicitária e jornalista, fundadora e editora do portal avosidade, avó de Mateus, Sofia, Rafael, Natalia, Andrew, Thomas e Cecilia Marie

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