Nada como brincar de superavô
► O garoto de pouco mais de 7 anos esperou o caminhão de entrega de gás iniciar a marcha para então, sorrateiramente, pendurar-se na boleia, a bordo de sua bicicleta, e iniciar a aventura pela rua Sampaio Moreira, no bairro do Embaré, em Santos (SP).
O destemido feito durou o tempo de percorreu alguns metros. A avó do menino, sempre atenta, da janela do casarão ordenou que ele descesse e voltasse para dentro. Ainda que lhe custasse algumas lágrimas não escondidas, a avó sapecou umas três palmadas no neto e recomendou que isso jamais se repetisse.
Por pouco menos de uma década o neto foi criado pelos avós, em Santos, e quando sua mãe deixou a viuvez ele tomou o caminho de São Paulo para ser educado.
A influência da avó, seu carinho e dedicação calaram tão fundo que o neto pôde suportar os severos castigos prescritos pelo padrasto, porque sua mãe havia lhe transferido a responsabilidade de educar.
O menino virou homem e há quase 7 anos tornou-se avô. Como que por um passe de mágica, o avô virou espécie de super-herói sem armadura, apenas com um escudo protetor na forma de um imenso e generoso coração. Sua missão: ajudar aquele ser indefeso, frágil, a se desenvolver.
A relação foi alicerçada com base no amor à primeira olhadela, na primeira vez que, desajeitadamente, a criança lhe coube nos braços. Daí em diante foi como regar flores no vaso.
Um aprendizado mútuo. Por ter pais separados, boa parte do tempo Teodoro Franco Sultanum, o neto, passa com o avô os finais de semana. Perdeu boa parte do medo de animais, conheceu o amor por cavalos, cachorros, e agora tudo o que voa ou se move na terra.
Começou a dar as primeiras braçadas na piscina em companhia do avô, a ensaiar golpes à moda Guga nas quadras de tênis – o garoto tem jeito! Em contrapartida, Teo, como o chamamos, nos trouxe um amor incondicional, carinho à prova de arranhões e um humor sofisticado, acompanhado de um português irrepreensível desde pixote.
Em certo aniversário, não sei se de 4 anos, o pai dele estava presente e Teo não o largava por nada. Não havia presente que o distraísse ou esquecesse a presença do pai. Contente pela alegria do menino, não me dei conta de estar sentado à beira do caminho me deleitando com a emoção que Teo estava saboreando.
A certo instante, ao passar por onde eu estava, Teo, de mão dada com o pai, hesitou. Fitou-me por instantes, estendeu a outra mão e disparou:
– Vem com a gente, vô!
Imagino que ele estivesse dividido, e não era para menos. O pai, que raramente é presente, quando vem do Recife, estava fazendo o garoto deixar um pouco de lado justamente o homem que ora ele chama de vô, ora de pai-avô.
Bem aquele amigo de boa parte das horas e várias jornadas. O pai-avô ou avô que substitui o pai naquele dia que não deveria ser comemorado nas escolas, o Dia de Pais ou Mães separadas. [Ou se comemora Dia da Família, para que um avô possa substituir um pai-ausente, ou abolimos a data.]. O companheirão que vai à escola e joga no gol durante a pelada entre pais e filhos, aquele que acompanha sua evolução e trabalhos de casa.
Enfim, aquele que, junto com o neto, sonha seus sonhos dormindo juntos para completar a algazarra.
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Luiz Carlos Franco é uma das melhores pessoas que já conheci. Generosidade é um dos seus qualificativos. Nessa crônica vi um pouco do meu pai, que também foi um pai-avô para o meu filho. Fiquei comovida.Feliz dia, você merece!
Delicado relato de uma vivência tão agradável e amorosa.