Gerações

“Pais educam, avós deseducam”

Vovô Milton tem um lema: sempre estar disponível para o neto Ângelo, para fortalecer cada vez mais o laço entre ambos

● Avós querem ser amados, querem agradar, mas sem contravenção

Quantas vezes você já ouviu esta frase ou outras parecidas? Eu ouço o tempo todo, nos últimos três anos, desde que o pequeno Ângelo entrou na minha vida. Se alguém vê alguma foto nossa em uma rede social, ou ouve o relato sobre uma tarde que passamos juntos, sempre vem o comentário sobre as delícias de ser avô, porque a responsabilidade de educar é dos pais e nós ficamos só com a parte boa das brincadeiras, “estragando” a garotada longe da vista do pais, com subversões em relação ao que aprendem em casa.

Nunca tinha parado para refletir a respeito até o dia em que minha filha anunciou a minha mudança de status: ela, grávida, me transformava em avô. Depois de ter ajudado a criar três filhas, três mulheres incríveis, que tipo de avô eu seria?

Vovô Milton e seu grande companheiro, o netinho Ângelo: encontros semanais, mas intensos

Desde o primeiro instante, eu que já amava aquele ser que ainda nem tinha nascido (nem o sexo sabíamos). Queria ser amado por ele. Queria participar o quanto fosse possível. Acompanhar cada progresso, como tinha acontecido com as minhas filhas – agora com a vida mais estabilizada e mais tempo.

Não quebrar regras dos pais

Talvez este seja o ponto: avós querem ser amados! Querem agradar de todas as maneiras. Mesmo que para isso tenham que burlar a ordem da mãe ou do pai para evitar os doces antes das refeições. Ou deixar brincar com objetos que estão vetados para os pequenos entre os bibelôs da casa.

Avô e neto parecem duas crianças quando brincam juntos no chão

Desde o começo da minha aventura na avosidade, percebi que não queria ser um avô padrão, o que deseduca. Primeiro porque minha filha preparou-se muito para ser mãe e acredito no trabalho dela com o Ângelo. Minha ligação com ele seguiria outro caminho.

Laços para a vida inteira

Sem contravenções. Resolvi que meu neto teria em mim alguém disponível, para qualquer coisa, dentro das regras. Mesmo com a dificuldade de estarmos em cidades diferentes e nos encontrando, em média, uma vez por semana.

pais
Momento único: catar conchinhas com o vovô, que nunca recusa uma solicitação

Quando Ângelo quer companhia para montar o quebra-cabeça, vovô senta com ele no chão da sala. Descer a rua para dar uma olhada naquele cachorro peludo que fica no jardim de uma casa a 300 metros.

Basta pedir que o vovô leva, às vezes de cavalinho. Na praia, quem passa horas brincando com as ondas, as conchinhas? Vovô nunca recusa uma solicitação.

Resolvi que meu neto teria em mim alguém disponível, para qualquer coisa, dentro das regras, diz o vovô

Ir buscar na escola de vez em quando. Passar uma manhã de sábado com ele quando a mãe tem um compromisso. Estar junto num show do “Palavra Cantada”… Estamos criando laços. Imagino que para a vida inteira. Criando uma relação de amor e carinho.

Hoje ele sabe que pode contar comigo para brincar com os bonequinhos da “Patrulha Canina”.

Os anos e o crescimento trarão outras tantas questões, mais importantes, e Ângelo terá uma certeza: vovô estará sempre disponível.

 

E mais…

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Milton Leite

Jornalista, narrador esportivo do canal SporTV e avô de Ângelo e Serena

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