Época de ser avó é mágica
► Muito se fala sobre ser avó. O que mais se ouve é aquela conversinha social, lotada de chavões. Não me venha dizer, por exemplo, que ser avó é ser mãe duas vezes! Ou então, que toda avó estraga seu neto! Pior que isso: não me diga que é preciso sair de cena, abrir espaço para as novas gerações! Assim, eu acabo me sentindo enlatada, e, convenhamos, não há vidro de conserva que consiga acondicionar tanta experiência de vida!
Essa época de ser avó é mágica! Ela mistura luz e sombra, deleites e penúrias, como, aliás, qualquer outra época ou situação. Se cada tempo encerra sua magia, não haveria de ser diferente, na base, a fase progenitora. Fase diversa das outras, isso sim; mas diferente, não. Que há de constante, na vida, senão as mudanças?…
Não acredita que algumas penúrias se transformem em deleites?! Então, compare essas duas facetas da mesma época de vida: ser avó é praticamente concomitante, por exemplo, a ser sogra. Acho que nunca conheci palavra mais pesada que essa. Ser sogra pode parecer um único baque, mas, na verdade, faz parte de uma enorme série de pancadas.
No início da jornada de uma mãe, ela decide tudo pelos filhos: que roupa é mais conveniente – ou bonitinha, que comida é mais saudável… E isso não muda de uma só vez. Depois de aceitar as primeiras escolhas que não são nossas – que roupas nossos filhos vão vestir para aquela festa adolescente, qual o sentido dos piercings e outras coisinhas por aí, vêm as escolhas mais difíceis, porque envolvem outros seres, a quem chamaremos agregados: os amigos, namorados, ficantes, cônjuges, companheiros…
Aos poucos avó
A gente vira sogra sem a menor intenção. Vira alvo de chacota sem a menor chance de defesa. Como se não bastasse, a gente começa a perder o espaço que construiu com tanto esforço. Sim, há um enorme esforço, quando a gente se casa, em montar um espaço do jeito que a gente quer. A alegria é exatamente essa: ficar tudo “do jeitinho que a gente sonhou para o tempo em que passamos a ser donos do nosso próprio nariz”!
Aos poucos, no entanto, a gente divide esse espaço com os filhos. Mas a circunstância-chave é essa: aos poucos. “Aos poucos” dá tempo de a gente ir se acostumando com o se desacostumar. É isso mesmo: a gente vai acostumando os filhos a fazer as coisas do nosso jeito, mas a babá já não faz do jeito que a gente queria; a gente escolhe a escola do filho de modo a não mudar muito a educação dada em casa, mas a criança volta cheia de hábitos que nos causam espanto; vai morar num edifício de gente do mesmo nível, mas o nível não é tão “o mesmo” como a gente acreditava… essas coisas.
E o inevitável vai se infiltrando… e explode na adolescência dos nossos meninos: cruelmente, ao que nos parece, eles vão pensar pela própria cabeça! Vão nos afrontar! Vão fazer suas próprias escolhas! O lado bom é que… todos aqueles conflitos “velhos conhecidos nossos” vão ajudando a gente a se desacostumar, a se desprender daquela vida idealizada quando a gente encontrou alguém pra viver em paz e amor.
Corrida genética
Foram tantas as pressões culturais quando tivemos nossos filhos! “Que você prefere: menino ou menina?” “Tanto faz, desde que venha com saúde!!!” Há pais que, tendo filhos portadores de alguma anomalia, não aguentam o impacto e os abandonam! Alegam que não têm estrutura para lidar com isso. Outros, sabendo dessas anomalias durante a gravidez, abortam sem dramas de consciência…
A sensação primeira é a de que temos de ter bebês lindos, saudáveis, perfeitos, superdotados, como um troféu que se mostra ao mundo. Não é verdade que cresce a corrida genética na pista das escolhas produtivas? “Quero um bebê do sexo masculino, loiro, de olhos azuis, semialfabetizado, com covinhas nas bochechas e tendências para o business world”, portanto inseminado artificialmente com o esperma de um homem muito bonito, inteligente e bem situado economicamente!!!
Caso, sem qualquer explicação, os filhos passem a demonstrar gostos exóticos, imediatamente os vizinhos fulminam-nos a nós, as mães, com olhar desaprovador. Se seus cabelos estão despenteados, as mãos sujas, a blusa fora da calça, a mãe é que é desleixada. Não é fácil livrar-se disso, mas é questão de sobrevivência. Então, a gente se contorce até conseguir. Há pais que transferem esse olhar de desaprovação que veio dos vizinhos, passando, eles mesmos, a olhar atravessado para um filho que se descobriu homossexual, por exemplo. Mas mesmo isso acaba se mostrando um tiro no pé, então, repito: a gente se contorce até conseguir mudar de atitude.
Que paradoxo!
Depois de muito tempo se desacostumando, se desgarrando dessas algemas e correntes, aprendendo a respeitar os filhos como seres pensantes, apreciando mesmo as suas decisões, orgulhando-se das capacidades que eles desenvolveram com ou sem a nossa ajuda, curtindo os amigos e namorados deles, mergulhando nos conflitos, ora com calma, ora com impaciência…
Depois de todo esse engendramento, a gente começa a pensar como teria sido bom educar os filhos com a maturidade que adquirimos justamente a partir da experiência com eles! Que paradoxo! Mas, aí, vêm os netos!!! Poderia existir momento melhor? Nada como poder, depois de ajustar os conceitos, colocá-los novamente em prática!
Isso de “ser mãe duas vezes”? É só jogo de palavras! E “Estragar o neto” é, na verdade, ser um contraponto às pressões que os pais sentem pela educação padrão que têm de dar às crianças. “Sair de cena”? No palco da vida há papéis para cada um! Basta a gente não perder o prumo a ponto de querer assumir o papel da mãe! Desempenhar-se bem como avó já é um enorme compromisso! E ainda tenho que escutar essa conversinha medíocre de que ser avó é o paraíso, porque a gente tem o prazer sem as responsabilidades! Sai pra lá, jacaré!
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Avó. Avó. Avó.
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Cristina Cunha parabéns pelo seu belo texto.
Ser avó é tudo de bom , com ou sem chavões.
Belo texto, parabéns!
Adoro ser avó, com a responsabilidade que me cabe, curto muito.
Acho que a mulher, em especial, é um adaptar-se contínuo de enfrentamentos mistos e, por isso mesmo é mulher que se dá o direito de enfrentar esse misto de sentimentos que a vida nos encarrega.
Ser avó !!! que surpresa a vida me trouxe, eu não imaginava nunca que poderia viver este amor inexplicável, e com ele agregar alegrias, criancices, e muito mais…só posso agradecer , tenho 4 netos, com certeza posso afirmar para vocês que eles são o meu melhor .
Obrigada Luca, Manuela, Maria Clara e Sofia por estar tendo a oportunidade de viver esse amor, sem explicação
SER AVÓ É O MEU MELHOR PAPEL NO TEATRO DA VIDA.
É amor além do fim, inexplicável, profundo, fundo.
Sou avó de um garotinho de três anos, eu 40.
Meu filho foi pai com 16 anos, com 17 veio a falecer.
Minha nora e meu neto moram comigo, ela trabalha eu fico maior parte do tempo com ele.
Acabo por reviver toda essa maternidade, acho que acaba por ocorrer por nossas experiências… E o texto acima me descreveu perfeitamente, porém bem mais voraz. Com todas as turbulências… E qdo tudo estava a entrar nos eixos, fiquei sem chão…
A questão é… Sirvo, mas não sirvo. E não sei, estou perdida e confusa, amo meu neto, não quero invadir, porém fico maior parte do tempo com ele, pois ela trabalha e até pouco tempo atrás ela estudava.
Vivo o céu por ter parte do meu filho no meu neto. Porém, tenho que administrar os ciúmes por parte da mãe, procuro não invadir. Pq eu mesma qdo nova odiava isso, então sempre busco meus sentimentos do passado.
Enfim, a mãe sempre ameaça em ir embora qdo sugiro algo que vejo que não está correto, mas só faço qdo realmente está muito, mas muito fora do comum. Como lidar com essas situações? Não sei…
Meu sentimento é sofrimento, me perdi em meio a tantas emoções…
Lindo texto! Meu pai me ensinou que ser avô era a coisa mais gostosa do mundo, e acho que sim, me sinto realizada como avó. Procuro não invadir o espaço, já que a experiência com minha sogra não foi uma das melhores. Então procuro ajudar sempre que possível, e sempre me disponibilizando. E curto muito meus netos.
Adoro ser avó. Tenho 4 filhas, agora tenho 6 netos, sendo 1 neto e 5 netas. Sou vó coruja. Adoro ficar com eles.