Gerações

Um é bom, dois… É ótimo!

O autor com a nora Débora, que espera o neto Gabriel: o segundo neto inspira o vovô a comemorar a vida, que nunca se repete

Encantamento renovado com a chegada de um novo neto

Nosso primeiro neto, Rafael, tem agora cinco meses (*). Essa experiência nova, da avosidade, entrou, portanto, em nossa vida há pouco tempo, mas é como se aí estivesse desde sempre. Tudo mudou para nós. Um neto passa a ser régua e compasso da existência dos avós. Um é bom.

Divagamos contemplando o pequeno, e ficando boquiabertos diante dessa maravilha corporificada num esperto e alegre menino que nos surpreende a cada instante. O desenvolvimento físico e as demonstrações de inteligência também chegam a assustar.

É maravilhoso ver como a Vida, matreira, inventiva e sábia, nos oferece a todo momento novidades aparentemente simples porém de fato complexas, garantindo a evolução de nosso pequerrucho como um representante da espécie humana.

Virar-se na cama sozinho, emitir sons como desejando falar, fixar o olhar em nós e sorrir como nos reconhecendo, examinar tudo o que o cerca, chorar aparentemente sofrendo, mas realmente demonstrando que deseja mesmo é colo e atenção – são situações desse universo de surpresas que se incorporam à vida dos que se tornam avós e podem curtir seus netos, de perto ou mesmo à distância, hoje mais curta, seja com as facilidades das viagens, seja com os novos recursos de comunicação, fotos, vídeos, que presentificam os netinhos.

Outra novidade em relação a netos são sua multiplicação em gêmeos. Estes sempre existiram, mas hoje são quase a regra, com as tão bem sucedidas técnicas de inseminação.

Mas a situação que vivo agora não é tão comum. Eis que, tendo o Rafael seis meses, vem aí Gabriel, a nascer dentro de algumas semanas. Portanto, nós que nenhum neto tínhamos, teremos agora dois. São primos que chegam ao mundo quase juntos, oxalá indicando uma convivência, harmoniosa e benfazeja, pela vida afora.

Barrigas preciosas Um é bom

O barrigão de Débora, ventre que contém o Gabriel, repete Adriana com sua bela barriga a esperar o Rafael. Reedita-se a beleza da gravidez existente nessas bonitas norinhas e em toda futura mamãe. Esse milagre da Vida embeleza o corpo e engrandece a alma de qualquer mulher.

Numa situação como essa, há que se ter cuidado com as inevitáveis comparações. A “corujice” dos avós, que amplia até ao infinito as qualidades dos netos, tende a desejar que elas se repitam no novo netinho que chega.

Isso é “humano, demasiado humano”, como diria Nietzsche. Mas não podemos esquecer que a singularidade é a pedra de toque para um saudável reconhecimento e respeito pelas diferenças.

Mas, cá entre nós, e a despeito dessa “filosofação” aí acima, acabamos comparando. No nosso caso: serão os primos parecidos fisicamente? Será que Gabriel vai ser tão alegre e bonzinho como o Rafael?

As noites mal dormidas por causa de dores de barriga também acontecerão? Com seus cinco meses, Gabriel estará tão esperto, atendo, sagaz e engraçado quanto o Rafael?

E por aí vão nossas ansiosas comparações, que não passam de desejos intensos e compreensíveis de projetar o melhor do neto que existe no neto que vem.

Há uma sabedoria nas coisas que nos ajuda a lidar, ou evitar, as comparações. Cada ser é distinto e único. Tanto as qualidades como os defeitos são, em suma, incomparáveis. Por isso, encontramos em cada um suas virtudes e seus defeitos.

No final das contas, encontraremos em cada neto um tesouro maravilhoso e singular. As semelhanças, se houverem, serão festejadas. Cada diferença será celebrada e tornada mais um motivo para “corujice”.

Alegria em dobro Um é bom

No nosso caso, um é bom, dois é ótimo. E, com a pequena diferença de idade, existe uma comparação benfazeja. Explico: avós de primeira viagem, como nós, tendem a imaginar poder repetir, nos netos, o que deu certo na criação dos filhos. Porém, rapidamente, descobrimos, na prática, que a Vida não se repete.

O passado pode ser um farol que nos alumia lá de longe, nos ajudando a lembrar de como se cuida de uma criança. Não obstante, a luz forte da realidade de hoje exige que aprendamos novas maneiras, outras práticas e diferentes atitudes condizentes com o presente.

Não podemos esquecer de que muitas das “novas maneiras” nada mais são do que práticas antigas revisitadas e modernizadas. Há um exemplo simples de entender. Nossas mães e avós, quando queriam saber se a água para o banho do bebê estava na temperatura ideal, simplesmente afundavam o próprio cotovelo na água, tornando-o um inusitado termômetro.

Pois bem, ao tentar fazer isso, na hora do banho do Rafael, puseram-me nas mãos um aparelhinho simpático: um patinho de plástico amarelo que, quando o pomos flutuando na água, mostra a temperatura certa. Vejam que maravilha esse instrumento simples, que nos traz praticidade e exatidão!

Claro que os papais e mamães jovens já estão cansados de conhecer esse e outros instrumentos, como intercomunicadores, de áudio e vídeo, novos tipos de sabonetes, loções, novos modelos de fraldas e uma infinidade de novidades facilitadoras.

Mas, cá entre nós, avós talvez um tanto “enferrujados”, é bom saber que o velho cotovelo estará sempre à disposição…

Vem aí o Gabriel. Nova pessoinha, nova experiência, novo encanto.

Netos. Um, dois e quantos mais – uma maravilha multiplicada.

(*) Este texto foi escrito originalmente em agosto de 2019.

Então. Pois. Então. Pois. Então.

Então. Pois. Então. Pois. Então.

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Então. Pois. Então. Pois. Então. Pois. Então. Pois. Então.
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Jota Carino

Professor aposentado da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), com formação em sociologia e filosofia; é escritor e membro da Academia Fluminense de Letras, cadeira nº 20; tem vários livros publicados, de crônicas e de contos, e brevemente publicará seu primeiro livro de poesia

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