Vovô, por que a gente morre?
●● Este é o 3º texto da série escrita pelo avô para a neta em gestação
► Vovô… gente
– Oi, Liz.
– Por quê que a gente morre?
– A gente morre, Liz?
– Sim. A Luciana, minha colega da escola, não foi à aula hoje. Aí eles falaram que foi porque a vovó dela tinha morrido.
– Você conhecia a vovó dela?
– Ela já foi muitas vezes na nossa festinha… Brincava comigo…
– Ela era muito legal, então, Liz…
– Sim, muito legal.
– Sei.
– E então, vovô? Por que a gente morre?
– A vovó da Luciana estava doente?
– Não sei.
– A gente morre quando fica doente…
– Outro dia, você lembra, vovô? Eu fiquei doente.
– Gripada, né?
– É. E por que eu não morri?
– Porque a gripe não é uma doença grave…
– Grave?
– É. Uma doença grave é quando ela deixa a gente tão fraquinho que aí a gente não aguenta…
– E morre. E aí?
– Aí o quê, Liz?
– O que acontece com a gente?
– A gente nunca mais vê a pessoa e…
– Ela vai pra onde?
– Ô Liz… Meu celular. Deixa eu atender…
– Pai…
– Oi, Pretinha.
– É a mamãe, vovô? Deixa eu falar com ela.
– Pode falar, toma…
– Oi, mamãe…
– Oi, querida! Tá tudo bem aí?
– Eu estou conversando com o vovô.
– Ele está te contando histórias?
– Não.
– Então vocês estão conversando sobre o quê?
– Sobre morte.
– Deixa eu falar com o vovô, minha filha.
– Beijo, mamãe.
– Pai, que história é essa?
– Ela que perguntou.
– Desconversa pai… Como você vai sair dessa?
– Espero que só daqui alguns anos. Eu quero viver muito ainda.
– Êh, pai, tô falando da pergunta da Liz.
– Eu sei lá!
Despiste… filminho gente
– Pai, faz o seguinte: despiste ela, chama ela pra ver um filminho, leva ela lá pra baixo. Vê se faz ela esquecer desse assunto…
– A avó da coleguinha dela morreu.
– Qual coleguinha?
– A Luciana.
– Nossa, a dona Clara morreu? Que pena, meu Deus!
– Você a conhecia, minha filha?
– Sim, estive com ela na semana passada.
– Pois é.
– Vou ligar pra escola, pra saber o que aconteceu.
– Faça isto minha filha.
– Puxa, que dó, né, pai?
– É, minha filha.
– Beijo, pai. Tchau!
– Vamos ver um filminho, Liz?
– Agora não.
– Vamos dar uma volta?
– Onde?
– Lá embaixo.
– Quero agora não, vovô.
– Então o que você quer fazer?
– Continuar conversando.
– Então tá.
– Fala, vovô.
– Sabe que hoje eu fiz um exercício legal lá no pilates?
– Como foi?
– A gente fica pendurado em duas barras… Assim ó, sabe?
– É perigoso, vovô?
– Não, perigoso não é não.
– Se você cair você morre?
– Não… Posso só machucar um pouquinho.
– Quando a gente morre, a gente vai pra onde, vovô?
– Liz, o vovô não sabe.
– Mamãe sabe?
– Não.
– O papai sabe, num sabe?
– Também não.
– As vovós? Vovó Tucha é professora, ela sabe. O vovô Cláudio…
– Acho que não.
– Quem sabe, então, vovô?
(…)
Até breve.
PS: Estou acatando sugestões.
O autor escreveu 41 “diálogos hipotéticos” com a neta ainda em gestação, entre a data do primeiro ultrassom e o nascimento dela, em 2012. Este é o 3º texto dessa série aqui no portal avosidade, e outros serão publicados brevemente.
Então. Então. Então. Então. Então. Então. Então. Então. Então. Então.
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Então. Então. Então. Então. Então. Então. Então. Então. Então. Então. Então.
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