Gerações

Vovó Virginia Lucia e seus ensinamentos

Elisabete na poltrona gigante com um dos seus 4 netos, contando histórias que ouvia de sua vovó Virginia Lucia

► Minha avó materna, já no seu merecido descanso, foi uma das mentoras deste portal “avosidade”. Seguramente, ela sabe disso. E agora vocês também vão saber: vovó Virginia Lucia foi a melhor contadora de histórias que conheci. Ela tinha o dom de entreter muitas crianças de uma só vez com suas fabulosas histórias.

Que me perdoem os estúdios da Disney e similares, mas as princesas da minha avó tinham enredos melhores, usavam vestidos mais bonitos, descritos com uma precisão de alta costura, e eram muito mais espetaculares.

Sou a sua 17ª neta, mas sempre me senti tão especial e tão querida por ela quanto todos os seus outros 21 netos. É, foram 22 netos que nasceram ao longo de 36 anos, de 1941 a 1977. Ainda tinha netos nascendo quando começaram a chegar os bisnetos. Aí, foram tantos que eu tentei fazer a conta e me perdi…

A todos ela ensinou a ser fortes e justos. Mas é melhor que eu conte o começo da história. Nascida em Salvador (BA) em 1892, Virginia foi educada nos melhores moldes das moças da província, aprendeu violino e outras prendas.

Casou-se ainda muito jovem com um descendente da oligarquia rural e juntos foram construir a vida nova em Feira de Santana, então uma pequena cidade no interior baiano. O casal teve seis filhos criados – outros dois não vingaram, como se costumava dizer na época.

Elisabete e Rafael -770

Eu estava prometida para herdar seu nome – Virginia Lucia –, mas uma prima nascida pouco antes ganhou o direito de prestar a homenagem (boa escolha para levar o nome da vovó: Virginia Lucia, neta, é uma pessoa incrível).

Não ganhei o nome, mas fiquei com muitas coisas dela. Para começar, uma casualidade fez com que vovó Virginia fosse nada menos que a minha parteira. É que nasci repentinamente (quase fui um daqueles casos de bebês que os bombeiros fazem o parto na rua). Para sorte de minha mãe, vovó Virginia a visitava naquela hora e ajudou no parto, dividindo a tarefa com uma vizinha.

Me lembro muito bem que, durante a infância, cada vez em que eu era acometida por uma daquelas doenças infantis como catapora, sarampo etc., ela sempre estava presente com os banhos de cânfora, os maravilhosos mingaus que abriam qualquer apetite e outras providências para aliviar os incômodos.

Aí chegamos àquele ponto em que ela nos ensinou a ser fortes e justos. Fomos encorajados a resistir aos machucados decorrentes das nossas brincadeiras, e principalmente a resistir às frustrações da vida. Nada poderia ser suficientemente grande para nos abater. Ainda escuto a sua voz determinada diante de alguma dificuldade apresentada: “Não podemos ser mofinos!”

Quando me tornei adulta e tive meu primeiro filho aos 21 anos, foram dela os ensinamentos para amamentação e os conselhos que me trouxeram imensa tranquilidade para o exercício da maternidade.

Vovó Virginia dava jeito em tudo, com os netos e os bisnetos. Se o bebê nascesse “cangalha” ou “zambeta”, ela consertava suas perninhas envolvendo-as com fraldas de pano. Era uma mágica de deixar os cirurgiões boquiabertos. Também só com fraldas ela corrigia cabeças achatadas, orelhas de abano e outras coisas desse tipo. Tudo tinha o mesmo destino: a solução da vovó.

O ápice, para mim, foi fazer sumir uma hérnia umbilical do meu primeiro filho, amarrando a barriguinha dele com fraldas e faixas. Inacreditável, mas aconteceu.

Sua aparência era de uma vovozinha de antigamente, com coque no alto da cabeça e vestidos severos. Contudo, sua força, sua sabedoria e sua disponibilidade, em todos os momentos, me faz refletir sobre isso até hoje.

Ela ajudou a criar seus 22 netos, aportando a ensinamentos preciosos, principalmente pelo seu talento para se comunicar com a criançada. Podem achar que é exagero de neta entusiasmada, mas estou certa de que ela, se tivesse vivido em outra época e circunstância, teria sido uma fantástica escritora de livros infantis.

Espero dar aos meus netos um pouco desses ensinamentos que recebi.

 

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Elisabete Junqueira

Publicitária e jornalista, fundadora e editora do portal avosidade, avó de Mateus, Sofia, Rafael, Natalia, Andrew, Thomas e Cecilia Marie

13 Comentários

  1. Pena que a conheci tão pouco tia! Saber mais sobre ela me faz pensar o quanto devemos honrar o nosso feminino e a nossa força interior! Adorei!!!

  2. Vovó Virginia Lucia I era tão fantástica quanto a Vovó Virginia Lucia II que ainda nos proporciona sábios e prudentes ensinamentos.
    E eu, fã incondicional das duas.
    Ainda pude compartilhar de algumas piadas de Vovó Virginia e eram sem dúvidas grandes ditos.

  3. Elisabete teve o privilégio de conviver e participar da vida de sua avó Virrgínia, o que com certeza faz dela uma avó melhor, lembrando-se das historias maravilhosas que essa grande mulher contava como ninguém e de todos os seus bons conselhos.Eu também tive essa felicidade, de conhecê- la e de viver momentos mágicos ao seu lado,pois também sou sua neta,por sinal irmã gêmea da outra Virgínia Lúcia.

  4. BETH querida,
    Que texto gostoso de ler! Que lembranças queridas!
    E que idéia maravilhosa de criar esse espaço para homenagearmos as avós e contarmos um pouco da nossa experiência dessa fase da vida
    Beijo

  5. E bem que alguns dos ensinamentos dela, minha mãe transmite para as novas gerações…como consertar cabeça chata, ou um que não foi citado aqui, consertar orelhinhas disformes de recém-nascido! As Virgínias Lúcias passam assim a ser sinonimo de mulheres sábias para mim! Bom saber mais sobre minha bisa!

  6. Liz, fiquei super feliz com seu texto, porque também tive a oportunidade de conviver com nossa doce e maravilhosa voinha, e dela também tirar muitos ensinamentos. Feliz também por saber que você já tem tantos netinhos, que são a maior gratificacão das nossas vidas a essa altura. O meu segundo neto chegará em fevereiro. Bjo e sucesso prima.

  7. Bete querida, somente ontem li seu texto. Que maravilha, livre, leve e muito solto e com emoções definitivas .Muito bom mesmo querida. Já levei pra minha página no FB porque quero repartir com meus amigos o doce sentimento de ser avó e as sutilezas que permeiam essa relação.
    Beijos.

  8. Acabei de ler as histórias das duas avós. Um mesmo olhar admirativo sobre duas personalidades tão diferentes. Duas singularidades que compuseram a paisagem de uma infância feliz. Lições de vida e de amor. Que bom crescer com referências diversas e fortes e poder transmiti-las. Bete nos encanta com suas lembranças. Lindo textos.

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