Gerações

Um presente inesquecível

● A composição de sucesso feita secretamente para a avó

Cazuza e sua avó Maria José no camarim do Canecão, no Rio, na estreia do show "O tempo não para", em outubro de 1988

Aproveitando a comemoração de mais um Dia dos Avós, vamos conhecer uma linda homenagem de um neto para a avó. Um presente inesquecível do compositor, poeta e cantor Agenor de Miranda Araújo Neto, conhecido como Cazuza.

Todos sabem que ele nos deixou de forma prematura e triste quando tinha só 32 anos, em 1990, vitimado pela Aids, doença que ceifou tantas vidas naquela ocasião.

E passou para a história sendo aclamado pela crítica como um dos principais poetas da música brasileira. Ele fez muito sucesso como vocalista, líder e principal letrista da banda de rock nacional Barão Vermelho, onde tinha como parceiro musical o guitarrista Roberto Frejat.

Cazuza também ficou conhecido por sua rebeldia, seus excessos de comportamento e por expor sem disfarces aspectos de sua vida pessoal que na época causavam polêmicas.

Também não escondia que era extremamente apaixonado pelas suas duas avós. O que poucos sabem é que uma de suas composições de maior sucesso, a música “Poema”, foi escrita para a avó paterna, Maria José.

Essa história é contada no livro “O Tempo não Para”, escrito pela mãe de Cazuza, Lucinha Araújo.

Quando Cazuza ainda era adolescente, com 17 anos, faleceu sua outra avó, a avó materna Maria Alice, e ele escreveu para ela, ainda sob o choque do acontecimento, um poema que está gravado em uma placa de bronze no túmulo dela.

Foi aí que a família descobriu sua veia poética, que ele até então escondia de todos. Sabendo disso, a avó Maria José disse que também queria um poema do neto dedicado a ela, mas queria receber o presente com ela viva.

Caixinha de lembranças

O neto apaixonado imediatamente escreveu os lindos versos que logo a seguir vocês poderão conferir que foi realmente um presente inesquecível.

E a avó guardou cuidadosamente o manuscrito com os recortes de notícias, fotos e outras lembranças do neto, que logo começou a ficar famoso, numa caixinha que ela não mostrava para ninguém.

Quando Cazuza faleceu, toda a família quis conhecer o poema, mas a avó, com ciúmes, insistiu em guardar só para si, até morrer. E ela viveu até os 100 anos!

Inesquecível

Foi então que as filhas dela, tias de Cazuza, pegaram a caixinha em que a avó guardava como um tesouro as lembranças no neto querido. E a entregaram para a mãe dele.

A surpresa foi encontrar, entre vários objetos, oito anos após a morte do autor, o tal poema intitulado simplesmente “Poema”, que tinha sido mantido em segredo por 23 anos.

Lucinha ficou encantada com o poema escrito pelo filho adolescente e teve a ideia de pedir ao amigo e companheiro dele na banda Barão Vermelho que transformasse o poema em música.

Frejat não demorou mais do que um diz para compor essa obra prima, que foi logo gravada por Ney Matogrosso, um dos maiores amigos e companheiros de Cazuza, e lançada no ano seguinte no álbum “Olhos de Farol”.

Poema que virou canção

Vamos ouvir como se fosse dedicado a todas as mães e avós, nesta interpretação de Ney Matogrosso.

Para acompanhar o vídeo

Poema

Eu hoje tive um pesadelo
E levantei atento, a tempo
Eu acordei com medo
E procurei no escuro
Alguém com o seu carinho
E lembrei de um tempo
Porque o passado me traz uma lembrança
Do tempo que eu era criança
E o medo era motivo de choro
Desculpa pra um abraço ou um consolo
Hoje eu acordei com medo
Mas não chorei, nem reclamei abrigo
Do escuro, eu via o infinito
Sem presente, passado ou futuro
Senti um abraço forte, já não era medo
Era uma coisa sua que ficou em mim
E que não tem fim
De repente, a gente vê que perdeu
Ou está perdendo alguma coisa
Morna e ingênua que vai ficando no caminho
Que é escuro e frio, mas também bonito porque é iluminado
Pela beleza do que aconteceu há minutos atrás.

Mais poema

Uma curiosidade: Cazuza tinha o nome do avô paterno, dado por insistência justamente da avó Maria José. Mas a mãe dele não gostou da interferência e antes mesmo do nascimento dele já tinha escolhido o apelido que ele usou a vida inteira.

Cazuza, quando foi à escolinha pela primeira vez, sequer sabia o próprio nome e não respondeu à chamada. Ele só foi aceitar o nome já adulto, quando soube que o compositor Cartola também se chamava Agenor.

Vamos ouvir de novo essa linda canção, desta vez numa intepretação intimista de Lucas de Castro.

Então. Inesquecível. Pois. Inesquecível. Então. Inesquecível. Pois. Inesquecível. Então. Pois. Então. Pois. Então. Pois. Então. Pois. Então. Pois. Então. Pois. Então. Pois. Então. Pois. Então. Pois. Então. Pois. Então. Pois. Então. Pois. Então. Pois. Então. 

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É. Oi. É. Oi. Então. Pois. Então. Pois. Então. Pois. Então. Pois. Então. Pois. Então. Pois. Então. Pois. Então. Pois. Então. Então. Pois. Então. Pois. Então. Pois. Então. Pois. Então. Pois. Então. Pois. Então. Pois. Então. Pois. Então. É. Oi. É. Oi.
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Elisabete Junqueira

Publicitária e jornalista, fundadora e editora do portal avosidade, avó de Mateus, Sofia, Rafael, Natalia, Andrew, Thomas e Cecilia Marie

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