Gerações

Vó Nairzinha: o centenário de Adroaldo, o sonhador

Educar pela arte foi a receita criada pelo professor Adroaldo para encher o coração das pessoas de força, ânimo, coragem e alegria

 ● Uma homenagem ao visionário criador da Hora da Criança

► Permanente disposição para o serviço desambicioso. São raras as pessoas que possuem essa qualidade ao longo de toda a vida. E quem a possui se imortaliza. Por isso, este professor sonhador, que se fosse vivo agora teria 100 anos, nunca será esquecido.

O nome dele, por inteiro: Adroaldo Ribeiro Costa. Marcou a vida de gerações e gerações, que cresceram influenciadas pelo seu talento e criatividade. Adroaldo priorizava a educação e a arte a serviço do aprendizado e do desenvolvimento de potencialidades.

E a expressão mais cristalina dessas suas raras qualidades se materializou em um projeto inovador: a “Hora da Criança”. Uma ideia da época da sua juventude à qual foi fiel ao longo dos anos, mantendo-se em permanente casamento até o último dia da sua vida nessa terra.

A “Hora da Criança” foi uma experiência interessantíssima de arte e educação, um feito revolucionário que beneficiou milhares de crianças.

Graças a Adroaldo, a formação dessas crianças se media pela convivência com a arte, traduzida nos valores éticos, no desenvolvimento da cultura e da estética, na teoria e na prática da música, da dança e do teatro.

Tudo podia acontecer sonhador

No trabalho dos bastidores e da parte prática, havia iluminação, contrarregragem e sonorização. Havia, ainda, confecção das roupas, adereços e cenários. Todos faziam tudo. Não havia o culto ao estrelismo.

Também não havia exclusividade de setores. Apenas um voluntariado verdadeiro que unia pais, professores, curiosos, admiradores e fãs, muitos fãs, que se encantavam com os pequenos atores, cantores, músicos e artistas em geral.

Era um tempo em que não se contava com computação gráfica, com o copiar e colar, com máquina de cola quente, com produtos revolucionários…

:

A serra tico-tico, as tesouras, as agulhas e linhas, a goma de farinha de trigo, a tinta manufaturada, as fitas, os pós dourados e prateados e, sobretudo, o talento e a criatividade, eram capazes de construir um mundo de encanto e beleza deslumbrantes, onde o talento era o ponto alto.

Tudo podia acontecer no palco e nas peças. A desconcertante espontaneidade da criança foi muitas vezes habilmente aproveitada. O inusitado dava o tom da liberdade e da felicidade com que os atores se engajavam nos scripts.

Nunca faltaram xixi no palco e outras coisas mais, textos esquecidos e recriados pela linguagem e pelo entendimento infantil.

Mas buscava-se a perfeição. Seus arranjos musicais eram tocados por orquestras e cantados por crianças afinadas, atentas à melodia e apuradas na sensibilidade do entendimento dos textos e das poesias.

O legado sonhador

Hoje estamos aqui, a maioria de nós seus ex-integrantes, já na terceira idade. Trazemos no corpo os sinais do envelhecimento, as vozes às vezes cansadas, a memória um tanto fraca. Nossos olhares, entretanto, trazem o brilho de quem aprendeu, pela arte, a olhar o mundo sem desencanto e a construir a própria felicidade.

adroaldo

Nossas almas permanecem de pé cheias de entusiasmos, com as introduções das músicas que nos remetem a um tempo que se faz agora, inesquecivelmente feliz.

Educar pela arte é criar um oásis dentro do coração do homem capaz de lhe dar força, ânimo, coragem e alegria. Para enfrentar qualquer situação na vida. Somos a prova de que a vida do nosso amado professor valeu a pena, para não deixar que o esquecimento sepulte o ideal.

Estamos aqui para que a Bahia e o Brasil redescubram o nosso querido professor Adroaldo e restaurem, nesses tempos de tanto desencanto, seu amor pela criança e sua exuberante metodologia. Porque somos capazes de criar um mundo novo.

Dom para a arte

Quero aqui relembrar um pouco da sua história desde o começo. Nasceu em Salvador, em 1917, mas foi na velha e serena cidade de Santo Amaro, no Recôncavo Baiano, onde efetivamente começou a viver, a enxergar o mundo, a sonhar, a olhar as estrelas e a construir sua cultura e sua personalidade.

Voltou para a capital do estado na juventude, para seguir o propósito da sua família, que sonhava ter um filho advogado. Mas seus sonhos eram outros.

Amante da música, da literatura e da poesia, aliou ao estudo do Direito seus dons artísticos. Tornou-se um advogado que também era teatrólogo, compositor, professor e jornalista.

Sua capacidade criadora o poderia ter conduzido, vitoriosamente, a quantas áreas desejasse (menos à matemática, ciência que nunca o fascinou, nem mesmo para o controle e ganho do seu próprio dinheiro).

Foi contemporâneo e amigo de Anísio Teixeira e Monteiro Lobato. E sempre foi um sonhador nato, um visionário. Entregava-se aos impulsos da vocação, do sonho, andava com a alma e o coração fora do peito. Dedicava-se ao ideal, sem qualquer preocupação quanto ao proveito material que pudesse colher.

 

E mais…

Veja também no portal avosidade

https://avosidade.com.br/vo-nairzinha-cabe-aos-avos-falar-de-etica-e-de-utopia/

https://avosidade.com.br/nairzinha-o-pintinho-piu/

https://avosidade.com.br/nairzinha-a-feiticeira-como-a-rosa-tao-formosa/

https://avosidade.com.br/capelinha-de-melao-e-de-sao-joao/

https://avosidade.com.br/um-balao-que-so-incendeia-coracoes/

https://avosidade.com.br/pais-educam-avos-deseducam/

 

Acompanhe o portal avosidade também no Facebook!

Acompanhe o portal avosidade também no Facebook, Instagram e podcast+!

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *