Comportamento

Elizabeth Monteiro: “Ter netos sem discórdia”

A psicóloga Elizabeth Monteiro conta também com a experiência de ser mãe de quatro filhos e ter seis netos
  • Entrevista com a psicóloga e psicopedagoga Elizabeth Monteiro

 

Autora de livro sobre as relações das avós e sogras com suas filhas e noras, a psicóloga Elizabeth Monteiro explica qual é o papel de cada geração para a família se entender em harmonia. Para a especialista, a melhor forma de aproveitar a avosidade é sem regras nem cobranças: “Quando estou com meus netos, quero que sejam os melhores momentos da nossa vida”.

 

Ela é psicóloga e no seu consultório atende crianças, pais e avós, mas, antes disso, tem também a própria experiência com quatro filhos e seis netos. Depois de acumular as vivências técnicas e particulares, ela contou tudo em livros como Criando Filhos em Tempos Difíceis, A Culpa É da Mãe, Cadê… o Pai Dessa Criança? e Avós e Sogras – Dilemas e Delícias da Família Moderna.

“Escrevi o livro sobre avós porque percebi, no consultório, que os conflitos entre noras e sogras eram o que mais causavam brigas familiares entre os casais”, explicou para o portal avosidade. No livro Avós e Sogras – Dilemas e Delícias da Família Moderna, publicado pela Summus Editorial em 2014, ela trata das mudanças de papéis que acontecem na família com a chegada de um bebê.

A psicóloga diz que a maioria dos conflitos em torno do neto vem, por um lado, da necessidade de autoafirmação dos pais diante de seus próprios pais e, pelo outro, da dificuldade dos avós em abrir mão do poder para que seus filhos cuidem das crianças por si mesmas. Nesta entrevista, ela aponta caminhos possíveis para relacionamentos harmoniosos e afirma que ser avô é como ser “o anjo da guarda” de filhos e netos.

Elizabeth não tem dúvida sobre a melhor forma de aproveitar a avosidade: criar laços com os netos que não passe pelos pais deles. Para ela, os avós devem ter as próprias regras com as crianças. “Nossos filhos esquecem que fomos nós que cuidamos deles e eles estão vivos”, ri. Mas ela ressalta também que aos avós, por sua vez, não cabe querer intervir na criação dos pequenos: “A gente tem que ser desnecessária. Isso não significa não cuidar nunca, não participar, mas não se intrometer, a não ser que o outro peça”.

“Não somos a Dona Benta”

Beth acredita que o modelo de avôs mudou: “Nós somos de uma geração que viveu a ditadura militar, que foi às ruas, somos as primeiras mulheres que fomos trabalhar. Somos uma geração muito mais atualizada. O modelo não é mais a Dona Benta”. E defende que não há melhores avós do que os que têm a própria vida, além da família: “Nós somos os únicos responsáveis pela nossa felicidade. É preciso deixar os filhos e netos viverem”.

Ela observa também: “Tem duas estações maravilhosas na vida. A da infância, que tem como frutos as brincadeiras. E a estação dos avós, que tem como fruto a sabedoria. Então a gente tem que ser muito sábio. Inclusive a nosso favor”.

 

A seguir, os principais trechos da entrevista com a avó Elizabeth Monteiro:

 

Como surgem os conflitos

“No meu livro A Culpa É das Mães, eu digo que todo mundo fica infantil diante da mãe. Então, as mulheres ficam infantis diante da sua própria mãe e elas precisam se autoafirmar. Então elas batem de frente com os conselhos das sogras e das noras. Por outro lado, tem as avós que não querem largar a sua posição de poder. Os filhos já cresceram, têm 40 anos, e elas ainda acham que são crianças. Elas não querem largar o poder, aquela coisa da mãe que é uma posição de muito poder e então os conflitos aparecem, porque tanto a jovem quanto a [mãe] de mais idade quer se autoafirmar diante da mãe e a mãe sempre acha que os filhos são pequenos e revivem sua própria maternidade, e aí suas avós revivem a maternidade. Daí surgem os conflitos, quando poderiam ser excelentes parceiros.”

 

As novas sogras e avós

“Existe aí uma fantasia de que a sogra quer competir, quer roubar o filho. Muitas até querem. Mas hoje, essas gerações mais velhas, nós, mulheres que lutamos, vivemos a ditadura militar, somos mulheres que já iniciamos um movimento lá atrás. Somos mulheres hoje que somos outras sogras, não somos mais aquelas de fazer bolinho, de dar conselho, de se meter na vida de ninguém. Nós somos de uma geração que viveu a ditadura militar, que foi às ruas, que buscou pelo trabalho, somos as primeiras mulheres que foram trabalhar.”

 

As regras da casa da vovó

“A relação com nossos netos, ela é única. Se a gente for inserir nessa relação os pais dos nossos netos, não vai acontecer. Nos momentos em que a gente está sozinho com cada neto, você tem que criar suas próprias regras. Deixo muito claro para os meus filhos que quando eles estão juntos com meus netos, eu me calo. Mesmo permitindo que meus netos pintem essa parede toda, se os pais estão juntos e dizem “não pintem”, eu me calo. Fico contrariada, mas me calo. Mas sempre digo pros meus filhos: quer deixar a criança comigo, vai ser uma delícia. Mas é do meu jeito. Eu não vou modificar meus valores, minha vida e minha rotina por causa da criança. E a criança tem que me conhecer do jeito que eu sou.”

 

Nossa função não é educar

“É assim: para, pensa pra você o que é importante. É aquele momento que você está com seu neto ou é o momento que você tá educando seu neto? Acho que nossa função não é educar. Pode até orientar, mas não é educar. Isso é importante ter na sua cabeça: o momento com meu neto, eu quero ter histórias com meus netos. Quando estou com eles, todos juntos ou sozinha, quero que aqueles momentos sejam os melhores das nossas vidas. Então eu faço o que me dá vontade, é ser espontânea. Tá pronto, não tem regras. De repente a criança não come, você vai ficar brigando? Não, você bota lá e pronto. Busco coisas lindas e lúdicas.”

 

Uma dica poderia resolver…

“Muitas vezes eu não consigo dormir. Vejo que tem uma coisa que, de repente, com uma dica poderia ser resolvida, mas eu espero. Até porque, quando a gente dá palpite assim [gesticula], eles nem escutam, né?”

 

Conflitos de casal por causa dos avós

“Sessenta por cento dos conflitos familiares entre marido e mulher se dão por causa das avós, da sogras. Então, é um universo que está precisando de muita ajuda, sim. E hoje as famílias mudaram, não temos mais aquelas famílias do pai que trabalha, da mãe que fica [em casa], da avó que ajuda, e vem toda a família, as tias…”

 

Se os homens não ficassem em cima do muro…

“Se alguns homens se posicionassem melhor diante das suas mães, esses conflitos entre a nora e a sogra diminuiriam. Porque a nora e a sogra querem competir e o homem não quer magoar a mãe nem a mulher, a companheira. Então, geralmente ele fica em cima do muro, a omissão piora o conflito. De repente, ele poderia falar: ‘mãe, não faça isso, respeite a mulher que é a mãe dos meus filhos’. E, de repente, ele poderia falar para a mulher: ‘Olha, eu estou cuidando da minha mãe’. Porque a família dele agora é a da mulher e dos filhos. Mas ele, não, ele fica falando pra mulher: ‘Você tem que entender minha mãe, ela é assim mesmo, aprende a lidar com ela, faz como eu’. Só que ele aprendeu a lidar com essa mãe desde pequenininho.”

 

Para avós: nada de se sentir preterido

“A coisa que os jovens mais se queixam é: ‘ai, sábado e domingo a gente tem que visitar o avô e a avó’. Ah, gente, essa família tem que ter vida própria, essas crianças precisam ir ao parque, precisam viajar… E tem casais que, se não bater o ponto na casa dos avós… no sábado, na casa de um; domingo, na casa do outro. Vira um inferno. E que mundo limitado! E avós dando palpites, e se o filho não foi, ‘por que o filho não veio…?’ Essas cobranças. Ficam esperando a família do filho pra ser feliz. Não. Nós somos os únicos responsáveis pela nossa felicidade.”

 

Agora é a vez deles

“Nós já fizemos as nossas escolhas, já vivemos a nossa vida, já construímos aquilo que quisemos, agora é a vez deles. A gente é ótima na resolução de conflitos, mas não podemos criar conflitos. A gente tem que ficar numa posição de ‘anjo da guarda’. Vem que eu tô por trás disso. Se precisar de ajuda, financeira, afetiva, espiritual… Estamos aqui. Essa é a nossa função; estar por trás, com os braços abertos.”

 

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Dra. Elizabeth Monteiro

Psicóloga e psicopedagoga, especialista em relacionamento entre filhos, pais e avós, autora dos livros “Criando Filhos em Tempos Difíceis”, “A Culpa É da Mãe”, “Cadê… o Pai Dessa Criança?” e “Avós e Sogras – Dilemas e Delícias da Família Moderna”; tem quatro filhos e seis netos, e escreve com frequência no portal avosidade

2 Comentários

  1. Sou fã de Elizabeth Monteiro. Já li A Culpa é da Mãe e agora vou comprar o Avós e Sogras…, que parece ser tão interessante quanto. Muito pertinente quando ela diz que devemos ser “anjos da guarda” dos filhos e netos. Função difícil e que requer muita sabedoria!!!

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