A casa é sua, por que não chega logo?
► Depois de ter experimentado todos os tipos de amor que eu conhecia, achei que a vida já tinha me presenteado com o que tem de melhor. Não imaginava nem de longe o que o universo ainda me reservava. Amar os pais, os irmãos, é uma coisa. Amar o homem que você escolhe para ser seu companheiro é outra. Os filhos? Algo absolutamente indescritível, deliciosamente infinito. Estava eu, portanto, certa de que já tinha amado de todas as maneiras possíveis quando, de repente, um novo e pequenino personagem entrou em cena para me mostrar que não era bem assim.
Luísa demorou a chegar. Foram 41 longas semanas. Tinha um quarto lindo, um berço confortável e um armário cheio de cabides com vestidinhos encantadores. Tinha até música feita pelo Arnaldo Antunes, perfeita para o tempo de espera. E a gente vivia repetindo o refrão “A casa é sua por que não chega logo? Nem o prego aguenta mais o peso desse relógio…” Quando Luísa finalmente decidiu espiar o mundo que existia fora da acolhedora barriga da mamãe Isabella me pegou de surpresa, no trabalho. Sem carro, saí da redação do Valor, que fica na Barra Funda, às seis da tarde de uma sexta-feira chuvosa sem ter a menor noção de como cruzar a cidade para chegar ao hospital. A companhia da Cândida Vieira me ajudou a encontrar um rumo. Sem nenhum taxi a vista, chegamos a pé na estação no metrô e lá descobri que teria de pegar um trem para ir até Osasco e de lá pegar outro com destino a estação Morumbi.
Obstáculos vencidos, estávamos todos grudados na janelinha da sala de parto quando o papai Felipe mostrou aquele bebê lindo, que apesar dos 4,400 quilos, nasceu de parto normal. Quando deixei mãe e filha a sós já sabia que uma nova fase estava começando na minha vida. Luísa chorou, esperneou, se contorceu em cólicas, deixava os pais malucos nos primeiros meses, mas bastava olhar para ela que o mundo inteiro se iluminava. Aos poucos vieram os dentinhos, as gargalhadas, as papinhas, os primeiros passos e suas próprias descobertas. E eu alí, babando escancaradamente, feliz da vida por sentir um friozinho no estômago que não tinha outra explicação: tinha descoberto o amor na sua forma mais pura!
Se não tivesse autocontrole acho que colocaria uma foto dela por dia no facebook. E sempre que podia fugia mais cedo do trabalho para estar com ela. Mas também isso a pequena Luísa me ensinou: ser vovó pode ser uma delícia, mas, por favor, descubra e respeite os limites. Levei um susto quando, aos oito meses, ofereci a ela a pontinha de uma colherinha com creminho de canjica. Os pais voaram sobre mim e ok, estava entendido: nada de açúcar para a pequena que hoje, aos dois anos e nove meses, graças aos bons hábitos dos pais, é um belo garfo. Seu prato predileto é arroz cateto com quibebe e quiabo. Pode?
Pode. Neto pode tudo. E é motivo para a melhor das prosas, durante horas a fio. Imagine então como me sinto agora com mais um neto – o pequeno Lucca, filho do meu primogênito Bruno e da Nilana, que chegou há apenas seis meses para fazer meu coração transbordar de alegria. Dois netos!!! Acho o máximo! E que venham outros (viu, Marina?) para juntos me permitirem viver momentos da mais genuína felicidade, seja num domingo ensolarado embaixo de um pé de mexerica no sítio da vovó Suzana – minha companheira de corujisse da Luísa – seja num feriado gelado, tocando a pele macia e quentinha do rosto aveludado do já muito amado Lucca.
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Sei bem o que é isso, Marlene. Tenho sete netos (de todas as idades) que alegram a minha vida!! Uma maravilha!!
Quando a gente pensa que quase viveu tudo, chegam os pequeninos para mostrar que há um universo novo a desvendar. Emocionante relato, o seu. Amei.