A distância entre mim e minha neta

● Primeiro texto de uma série escrita pelo avô para a neta em gestação
► Meus diálogos com minha futura neta são absolutamente improváveis. De fato a criança hoje é de tal sorte estimulada por inúmeras e diversas fontes que o repertório para os diálogos trazido por ela, portanto, provavelmente terão elementos completamente distintos daqueles utilizados aqui por mim. distância
Meus diálogos imaginários não se aplicam aos tempos pós-internet, à TV paga e a toda gama de informações de fácil acesso a uma criança como deverá ser Liz. Além da minha incapacidade de construí-los com esses atributos da modernidade está posto que dialogo comigo enquanto criança.
Por isso, escrevo como um recolhimento à preparação. Há muitos anos meus filhos tornaram-se adolescentes e depois adultos. Afinal, era outra época quando meus filhos foram Liz.
Nem se trata de ver em minha época ingenuidade, candura, pureza e na época presente toda sorte de exposições, especialmente aquela orientada a consumo em volume, fragmentação e efemeridade.
Minha questão é outra distância
Então, como estabelecer diálogo entre a minha época e a de minha neta sem perder elementos da minha mais profunda tradição e, a todo momento, nos assustarmos mutuamente?
Assisti ontem ao filme “Mamute”, protagonizado por Gerard Depardieu e Isabelle Adjani (alguém aí os conhece ou se lembram deles), indicado à Palma de Ouro de Berlim em 2011. Aliás, seria bom que o leitor pudesse assisti-lo para que nosso diálogo ampliasse.
Sinto-me como um mamute, de uma época em que dizer a um irmão ou coleguinha: “Vai peidar n’água!” implicava risco de surra com chicote e/ou castigo de ficar de pé com a cara virada para a parede.
Era uma feiúra. Então.
O autor escreveu 41 “diálogos hipotéticos” com a neta ainda em gestação, entre a data do primeiro ultrassom e o nascimento dela, em 2012. Outros textos dessa série serão publicados brevemente.
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