Em estado de graça
► Nem sei como surgiu a ideia. Mas a prática tem sido gratificante. Escrevo para meus netos. Pequenas passagens do cotidiano. Dessas coisas que, embora marcantes, são esquecidas com o passar do tempo. Talvez porque não decisivas. Talvez porque nossa memória não tenha espaço para tantas miudezas. Uma frase, uma palavra, uma passagem, um aprendizado, uma descoberta. Para uma criança tudo é novo. E para nós, com a presença delas, também.
O ritmo do que fica registrado depende dos acontecimentos. Às vezes há grandes lapsos de tempo, às vezes são quase diários. O que importa é o inusitado, o que foge ao corriqueiro. Um viés de repórter, acho. A linguagem é direta, sem rebuscamento. Quase uma pintura realista do que se passa.
Pedro e Bia amam a poética da pintura, do desenho. Sabem se expressar com linhas e tintas. Vão reconhecer os traçados, quando receberem o presente que preparo. A julgar por uma pequena amostra, sei. Imagino que vou entregar cada um dos escritos quando tiverem, sei lá, uns quinze anos de idade. Mas uma vez cometi a indiscrição de ler uma passagem para cada um. Embora fossem momentos alegres, e Pedro gosta muito de soltar o riso, Bia ficou bem quieta e, pouco a pouco, seus olhinhos se encheram de lágrimas, o queixo tremeu e ela chorou copiosamente. – “Ficou triste, querida?” – “Não, vó, achei bonito.”
Não é nada complicado chegar ao coração dos netos. Da mesma forma que é doce e simples o sentido contrário. Eu me derreto. É uma permissão tranquila, sem culpas. A vida foi me ensinando que é bom liberar as emoções. Trazer à tona sensações delicadas e, ao mesmo tempo, muito profundas. De raiz. Olhar para cada um deles é, às vezes, reconhecer a expressão de alguém que se foi faz tempo. É relembrar traços de seus pais, quando ainda crianças. Dos avós. Esse convívio estreito, embora nem sempre cotidiano, me faz evoluir, aprender mais sobre os seres humanos. Sobretudo os pequenos, que são capazes de tecer belas e surpreendentes sínteses do que observam.
Certa vez, Pedro, com seus três anos de idade, se encantou de tal maneira com a espuma do banho, que se saiu com essa: – “Eu adoro isso. Vou trancar tudo dentro do meu cérebro!” Ou a observação da Bia, ao contar uma série de suas atividades, quando visitou um sítio, com as crianças da escola, em tempos de jardim da infância: – “Tirei suco da vaca!”
A avosidade – tanto no sentido literal como no simbólico – é um estado de graça.
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Delicioso texto, Mirian querida!
Também tenho feito minha agenda do vô. Não tem, como as anotações que você vem fazendo, periodicidade, digamos assim. Faço uma agenda quando o encontro com Marina foi especialmente gostoso, ou houve novidades, surpresas. Tenho certeza de que será um presentão para ela quando tiver por aí, como você diz, uns 14, 15 anos.
Parabéns, e um grande abraço.
Sérgio
Querido amigo, belas palavras de quem vive em estado de graça, também, com sua linda neta. E dela faz imagens delicadíssimas. Grata em dobro!
Delicioso texto, Mirian querida!
Também tenho feito minha agenda do vô. Não tem, como as anotações que você vem fazendo, periodicidade, digamos assim. Faço uma agenda quando o encontro com Marina foi especialmente gostoso, ou houve novidades, surpresas. Tenho certeza de que será um presentão para ela quando tiver por aí, como você diz, uns 14, 15 anos.
Parabéns, e um grande abraço.
Sérgio
E um belo abraço! Mirian
Parabéns pela fantástica iniciativa!
Que bom que gostou!
Como você, Mirian, adoro escrever e registrar momentos. Tenho feito isso em relação ao meu neto. Recentemente ele completou 1 ano e eu coloquei fotos e textos em uma publicação que imprimi e distribui para amigos e familiares na festa dele. Um minilivro que ilustrou e falou sobre seu nascimento, suas primeiras gracinhas, seu desenvolvimento, batizado, escola etc. Fez bastante sucesso! O melhor será quando ele crescer e puder conhecer todas essas informações reunidas com amor em um único material. Continuo a registrar sua jornada que fica cada dia mais linda.
É um “trabalho” pra lá de gratificante. Tanto para nós como para eles!
Mi, conhecendo você há tantos anos, li o seu texto imaginando você escrevendo para o Pedro e para a Bia com olhar sonhador e seu sorriso meigo. Antevendo desde já a reação deles, adolescentes, quando lerem sua agenda dedicada a eles. Uma rica e deliciosa experiência, que tenho certeza, vai ser copiada por vovôs e vovós. Por enquanto, eu coleciono historinhas da neta mais velha, Olivia, de 4 anos. Foi bom reencontrar você nesse espaço.
Querida Nair, a vivência da avosidade é uma benção. Sei que você e o Oscar se dedicam a essa fase da vida com intensidade. Sorte dos netinhos! Saudade, com o carinho de sempre.