Gerações

Era uma vez duas almas… (parte final)

Sete filhos, todos homens, diz a lenda que o último vira lobisomem, mas ele escapou da sina porque o irmão mais velho foi seu padrinho

 

  • Terceira parte

(último capítulo da série iniciada em dezembro)

 

► Lua de mel no Rio de Janeiro é chique até hoje. Imaginem naquela época, há 70 anos. Rosinha aproveitou para visitar seu irmão, Rui, na cidade maravilhosa. Mas, ficou hospedado em um ótimo hotel com sua amada. Duas almas destinadas a amar. Como lembrança dessa viagem, Matilde carrega no ventre o primeiro fruto desse amor.

Mas, nem tudo eram flores no casamento dos Rosa. (Minha avó sempre me dizia, que todo casamento é imperfeito. Quando entramos nessa aventura é para aprendermos juntos, tolerarmos uns ao outros. Ela dizia: muita paciência e carinho em tudo que se faz. O amor cada dia mais forte é uma consequência de tudo isso.)

O inexperiente Rosinha gostava de sair para jogar baralho e tomar sua cervejinha. Algumas vezes largou sua amada em casa e saiu pra passear. Matilde se sentiu triste e sozinha. Um dia, arrumou sua malinha e foi comunicar à sogra sua partida para Nova Era. Dona Zuzú prometeu conversar com o filho, ensinando-o como proceder sendo agora um homem casado. Deu certo, seu comportamento mudou e passou a frequentar clubes como Lyons, mas, dessa vez, com sua esposa sempre ao seu lado.

O primeiro filho nasceu em Nova Era no ano de 1943. Maurício. Foi um susto. Tide foi passear na casa dos pais e o rebento resolveu nascer por lá.

Apenas um ano depois de Maurício, nasceu Max. Enquanto o novo bebê mamava, Matilde adulava Maurício que ficava ao seu lado, só observando. Matilde sentia que Maurício começava a ficar enciumado e abria suas asas, como uma galinha a proteger seus filhotes.

O terceiro teve o nome de Márcio. O quarto menino recebeu o nome de Mauro. Todos os filhos que nasciam eram homens e com a mesma letra no nome, M. Em homenagem à mãe: Matilde.

A família vai crescendo. Na simplicidade, elegante. Na educação, carinhosa. Nas refeições em família e nos passeios variados, sempre impecáveis os meninos de Matilde e Rosinha. Bonitos e educados, é o que todos dizem até hoje.

Toda vez que engravidava, Matilde esperava que viesse uma menina. O casal apelou até para algumas crendices, diziam que trocar do lado da cama era bom pra engravidar de menina. Pois Deus mandou outros três meninos: Marcone, Marcelo e Magno.

Finalizaram com sete filhos homens, um número simbólico, de grande força. Existem várias citações na Bíblia acerca do número sete, várias profecias, ditos populares. O número sete, sem dúvida é muito especial. Os setes selos do Apocalipse, os sete pecados capitais, sete cores do arco íris, Deus criou o mundo em sete dias, sete vezes setenta e sete são as vezes que Jesus mandou que perdoássemos nossos irmãos.

Até a lenda do lobisomem cita o número sete. Ela é bem assim: uma família que tiver sete filhos homens, o sétimo vira lobisomem. Mas, existe um antídoto contra esse mal. O primeiro filho, o mais velho, batizando o filho caçula, quebra a maldição.

Achei incrível o fato de, sem querer, meus avós terem colocado o filho mais velho para batizar o mais novo. Minha avó ria de mim quando falava isso com ela. Disse que era normal isso acontecer nas famílias do interior.

Mas, minha imaginação voou nesse momento e já contei pra todos que Magno podia ser um lobisomem. Todos riram e brincam até hoje com ele, dizendo que ele é o lobinho da família, não é à toa que é todo peludo e maluco por lua cheia!

Sempre sonhamos com aquele amor de romances. O amor é o tema mais requisitado em livros, filmes, teatros e novelas. Os romances clássicos são contados e recontados por gerações. Além de serem fictícias as histórias são trágicas. A história dos meus avós é verdadeira e tem final feliz. Parodiando Carlos Drummond de Andrade: E eu nem sabia que a minha história era mais bonita que a de Robinson Crusoé.

 

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