Gerações

José Afonso da Silva: “É gostoso estragar os netos”

O jurista José Afonso da Silve é avô de Joaquim (15anos), Mathias (8 anos), Tom (3 anos) Dora (1 ano) e Nuno (1 mês)

● Entrevista com o jurista José Afonso da Silva

 

No papel de avô, um dos maiores juristas brasileiros esquece leis e regras. “Na minha casa não faço opressão”, diverte-se José Afonso da Silva, aos 90 anos, sobre a relação “que só tem vantagens” com os seis netos. Ele explica: “A relação é muito boa porque o avô, por regra, não tem responsabilidades”.

 

Tendo saído do interior de Minas já adulto e sem o curso secundário, somente aos 32 anos José Afonso da Silva formou-se em Direito e com 43 teve o primeiro dos três filhos, atrasado, comparando com o normal da sua geração. “Como fui um pai tardio, meus amigos costumavam brincar que eu pulei uma fase e já fui ser avô. Mas não é verdade, não é uma questão de idade”, ri. Apesar de começar tarde tanto na carreira quanto na formação da família, foi até mesmo alfaiate logo que se mudou para São Paulo e chegou aos 90 anos reconhecido como um dos maiores juristas do País e realizado com o papel de avô de avô de Joaquim (15 anos ), João (13), Mathias (8), Tom (3), Dora (1 ano) e Nuno (1 mês).

Hoje professor aposentado da Universidade de São Paulo, admira-se com o universo familiar em que crescem os netos, rodeados de livros e cultura. “Eles se relacionam bem com os livros. A menina mais nova, de um ano e meio, até reconhece a letra do nome da avó!”. Para ele, os pais e avós ajudam a compor o ambiente de formação dos pequenos. “A gente quer que eles tenham boa formação, que, na nossa ótica, é abrir espaço para uma vida intelectual e de estudo.”

Além de especialista em Direito Constitucional e um dos mais destacados colaboradores na elaboração da Constituição Brasileira de 1988, José Afonso gosta de música e toca viola. Fica de olho nos netos ao pianinho de brinquedo e já notou que um deles tem até talento (“Estou começando a achar que Mathias tem ouvido absoluto”).

Mas ele sabe que é cedo para pensar na vocação da turma, que tem entre 1 mês e 15 anos. Por enquanto, quer mesmo é aproveitar o tempo com os pequenos. “Às vezes reclamo com meus filhos que não me deixam estragar os netos”, brinca. Por não envolver imposições e cobranças, já que avô “não tem responsabilidades”, o jurista acredita que a relação é muito fácil: “É uma relação que não tem ônus, só vantagem”.

 

A seguir, os principais trechos da entrevista com o vovô José Afonso da Silva

 

Sem regras, sem opressão

“Às vezes, quando ele quer alguma coisa assim que não pode, aí ele pede pra ir dormir lá em casa. Especialmente quando está sofrendo uma opressão mais forte, ou porque fez alguma coisa e, porque fez isso, não vai ver televisão durante três dias ou não vai pegar o iPad. Aí ele pede pra ir lá pra casa. Se a mãe não quiser isso, então não deixa ir. Se os pais não querem que isso aconteça, então não deixem ir lá pra casa. Lá em casa não vou fazer opressão, não vou estabelecer regras. Vou deixar… É claro que se ele estiver fazendo coisas que não são devidas, inconvenientes, a gente também impõe regra, não é que ele possa tudo, fazer o que quiser. Tem que dormir em certa hora, tomar banho… Algumas coisas tem que fazer porque é necessário que faça. Não há campos de conflitos possíveis entre a orientação dos pais e nosso modo de relacionar com eles.”

 

Circunstâncias especiais

“Tem que também ter em conta que no relacionamento dos avós com netos as circunstâncias especiais. Se o neto vem morar com o avô, a relação é diferente, porque aí o avô tem responsabilidade, então o avô tem que estabelecer regras, estabelecer limites. Os pais também têm que estabelecer limites para o filho, e aí pode haver um pouco mais de atrito. Se os netos estão sendo criados pelos pais, na casa dos pais, então a relação com o avô não tem por que ser de constrangimento, porque é coisa passageira, um relacionamento mais esporádico, por mais que seja cotidiano, vou lá, fico 10 minutos, 15 minutos, 1 hora, isso não é problema., mas se ele viesse morar, é claro que teria que atender certas regras da casa.”

 

Estragar é gostoso

“Não há conflito, mas às vezes eu reclamo com minha filha pra ela me deixar estragar o neto. Mas estragar é gostoso, né? A gente só estraga no sentido de que você dá certa liberdade na relação com o neto, principalmente quando ele vai lá pra casa e faz o que ele quer. Essa liberdade não é a liberdade que a mãe dá. Esse é o estragar que a gente fala. Ele gosta muito dessa liberdade e pode ficar rebelde com a mãe quando a mãe quer estabelecer regras. Regra é um sistema de contenção.”

 

 

O que se quer para os netos

“A gente quer que eles tenham uma boa formação. Na nossa ótica, boa formação é abrir espaço para uma vida intelectual, de estudos, para que eles, desde logo, saibam que o estudo deve ser uma coisa boa.”

 

Veja também:

– No canal “vo canta”, o vovô José Afonso da Silva tocando a viola caipira, como costuma fazer para acalentar os netinhos.

 

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Elisabete Junqueira

Publicitária e jornalista, fundadora e editora do portal avosidade, avó de Mateus, Sofia, Rafael, Natalia, Andrew, Thomas e Cecilia Marie

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