Gerações

Lelinha completa um século

A vovó Lelinha na festa do aniversário de 100 anos, com o livro-homenagem, seu melhor presente, a filha e a neta Adriana, autora do livro

● A homenagem da neta escritora para a avó mais longeva

► Até à idade de dezesseis anos, meus quatro avós eram vivos. Dois deles morreram quando eu já tinha passado dos trinta. E, aos quarenta e cinco, minha avó Yolanda completou um século.

Dela recebi uma caneta gravada com a palavra ‘Vó’, presente dos seus amigos de trabalho em 1971. Yolanda, ou Lelinha, estava insuportavelmente eufórica com a gravidez de sua filha Sonia, minha mãe.

Ainda bebê, meus avós me levavam para viajar com eles. Nas festas da família, eu escutava histórias que os velhos contavam uns sobre os outros, às vezes sobre mim. Parece que num Natal eu funguei uma catinga de cachimbo e declarei que “esse Papai Noel tem um cheiro de tio Guido”.

Sempre gostei de ouvir e registrar as histórias, gravar objetos, guardar as fotos herdadas de tias-avós falecidas. Então minha mãe pediu para eu desenterrar um projeto de livro com as histórias de Lelinha, o livro seria uma surpresa para o aniversário de 100 anos da vó.

Eu me debrucei sobre anotações, fotos, documentos e minha lembrança. Encontrei informações incríveis na internet, localizei bibliotecas e acervos de museus.

Presente do século

Mostrei as fotos antigas, ampliadas numa tela de computador, para a quase centenária Lelinha. E ela lembrava de cada pessoa, de cada situação, descrevia contextos e passeios da família, ou seja, me dava mais informações para eu pesquisar.

Um dia, o ilustrador Osvaldo Pavanelli ficou em dúvida sobre uma foto do Antonio, meu bisavô. Liguei para ela: “Vó, seu pai tinha bigode?”. “Eu não lembro, faz muito tempo”. E ela foi ficando desconfiada com minhas perguntas, até que descobriu um livro sendo escrito.

Sem ter que manter o mistério, perguntei sobre o que ela cantou no coro de estudantes regido pelo maestro Villa-Lobos em 1931. “Eu não lembro a letra, já faz muito tempo!”. E duas semanas depois ela começa a cantarolar uma estrofe, baixinho… o suficiente para eu localizar a partitura da música.

Enquanto isso, Osvaldo trabalhava em outra cidade. Conversávamos online sobre detalhes das ilustrações, como ‘cortar polenta com barbante’, ‘fazer crochê’ e ‘segurar uma concha de sopa’. “Mas, Osvaldo, assim o avô vai derramar sopa quente na neta e queimar a criança”.

O livro ficou lindo. Segundo meu irmão Rui, ao receber seu presente de centenário “Lelinha completa cem”, minha avó abriu um sorriso sem vergonha de mostrar a dentadura.

Século

Links sobre o livro:
http://polenlivros.iluria.com/pd-388748-lelinha-completa-cem.html?ct&p=1&s=1
https://www.facebook.com/LelinhaCompletaCem/

 

Veja também no avosidade homenagens a outros avós de origem italiana;

Memória dos sabores de uma infância entre avós com sotaque italiano
http://avosidade.com.br/memoria-dos-sabores-de-uma-infancia-entre-avos-com-sotaque-italiano/

Uma lição em busca do equilíbrio
http://avosidade.com.br/um-licao-em-busca-do-equilibrio/

Minha avó, minha nona, minha inspiração
http://avosidade.com.br/minha-avo-minha-nona-minha-inspiracao/

Dos nonos e nonas
http://avosidade.com.br/dos-nonos-e-nonas/

Ausência – e presença – de avós
http://avosidade.com.br/ausencia-e-presenca-de-avos/

Oswaldo Conti, meu mestre andarilho
http://avosidade.com.br/oswaldo-conti-meu-mestre-andarilho/

Da Toscana às Gerais
http://avosidade.com.br/da-toscana-as-gerais/

 

Acompanhe o portal avosidade também no Facebook, Instagram e podcast+!

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *