Gerações

Mais do que reviver: ressuscitar

Vovó Eliana e a neta mais velha: dar cambalhotas, brincar de esconder, fazer castelo de areia... e se divertir de verdade com isso

Reflexões de uma avó sobre a-mortalidade dos seres humanos

Hoje, eu e minha neta mais velha conversamos pelo skype. Ela numa cabana de almofadas em Londres e eu numa tenda de cobertor em São Paulo. Ressuscitar…

– Como você está?

– Tudo bem, e você?

– Tudo bem.

– Que bom. O que você almoçou?

– Carninha e legumes.

– Ah, que gostoso!

É nossa conversa secreta, privada, íntima. Depois eu assisto ela montar um quebra-cabeças, mandamos muitos beijos uma para a outra e desligamos. Eu transbordando de amor e vida.

Assim tem sido.

Eu tive quatro filhos. Acho que sou cem por cento mãe desde antes de tê-los tido. Avó, me descobri cento e muito mais por cento. Como isso é possível, não sei. Há espaço para mais. Para cumplicidade, para observação dedicada, para alegria compartilhada.

Sei, pode ser clichê. Ter netos remoça a gente. Mas assim acontece comigo. Aos 61 anos dando cambalhotas, brincando de esconder, fazendo castelo de areia… e me divertindo de verdade com isso.

Não é como se fosse um trabalho: estou cuidando das minhas netas, então tenho de fazer certas coisas. Não. É mesmo uma retomada de prazeres simples. A recuperação de algo que estava perdido. Um viver de novo não como reviver: como ressuscitar.

Na teoria é muito pouco

Por uma ou outra razão, tenho lido muito sobre o envelhecer. Mais recentemente, a autobiografia de Phil Collins, pouco mais velho do que eu, acabadaço, mas na ativa (o título do livro é Not dead yet); e Sapiens, um livro que mistura história e biologia, e traça a possibilidade da a-mortalidade dos seres humanos (ou seja, com o avanço tecnológico, poderá chegar o dia em que morreremos apenas por acidente).

Li o primeiro livro em Londres, enquanto saboreava a companhia de duas netas, uma de três anos e outra recém-nascida. O segundo, terminei em São Paulo, na companhia de outra neta, com pouco mais de um ano. E foi inevitável pensar: como me sinto jovem!

Jorge Luiz me pediu um texto sobre ser avó. Tenho pensado muito em como escrever algo que não seja o óbvio, ou que alguém já não tenha escrito ou pensado.

Cheguei à conclusão de que não existe essa coisa. Somos avós há milhões de anos. Sabemos o que é isso. Mas sabemos, de verdade, quando experimentamos. Falar em ser avó na teoria é muito pouco.

A carga de emoção dessa experiência a gente não consegue transmitir: sente e ponto. Mesmo assim posso dizer que ressuscitei há pouco mais de três anos e que hoje me sinto a-mortal.

Ressuscitar…

 

E mais…

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