Comportamento

As melhores escolhas do cuidar

● Quantos familiares podem proporcionar qualidade de vida?

A autora com a mãe, Tokiko Suzuki, de 97 anos de idade, que está com Alzheimer diagnosticada há mais de 10 anos

Em 2023, os idosos – pessoas com 60 anos ou mais – totalizavam cerca de 30 milhões no Brasil, superando, pela primeira vez, o número de jovens na faixa etária de 15 a 24 anos. escolhas

Pela estimativa da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), esse número deverá dobrar até 2050, tornando-se na sexta maior do mundo. A expectativa de vida aumentou de 71,1 anos em 2000 para 76,4 em 2023 e a projeção é chegar a 83,9 anos em 2070.

A mortalidade vem se reduzindo graças à melhora nas condições de nutrição, saneamento, acesso a serviços de saúde e medicamentos, à prática de exercícios físicos em academias e ao ar livre, além de avanços no campo da Medicina.

O tempo passa para todos e a consciência disso é maior quando, ao chegar aos 60, 70 anos, a memória começa a falhar, o corpo trava, quedas se tornam frequentes trazendo consequências sérias e os problemas de saúde começam a se multiplicar.

Como lidar com isso? Não só nós, mas nossos avós, pais, irmãos e tios enfrentam essa situação. E quem cuida desses idosos?

Quantos familiares podem arcar com o ônus para proporcionar uma melhor qualidade de vida a eles? Recorrer ao serviço de cuidadoras? Interná-los em casas de repouso?

Dignidade e respeito

É um dilema que vem preocupando a todos. Especialistas, como geriatras, são requisitados cada vez mais para tentar auxiliar e dar apoio a eles. Mas nem sempre os idosos são tratados com dignidade e respeito. O tema começa a aparecer na literatura.

No livro “Velhos demais para morrer”, por exemplo, Vinicius Neves Mariano narra episódios de como os idosos são maltratados e cita instituições que batizou de Felix Mortem, criadas para que os idosos e seus familiares se inscrevessem para se beneficiarem do BCN (Bônus pelo Compromisso com a Nação).

Os idosos se sacrificavam em prol dos jovens, que contribuíam para o reequilíbrio econômico do país.

O personagem desse episódio constata que não existe beleza na velhice. “Na velhice, você se torna um pedinte de qualquer sobrevida que alguém tiver sobrando”, diz.

Vinicius mostra, em outros dois episódios, as agruras de uma senhora grávida e a triste história do menino obrigado pelo pai a caçar velhos para uma milícia e acaba protegendo um idoso que poderia ser abatido pela arma do pai.

A crueldade praticada contra os idosos remete ao filme “A Balada de Narayama”. O filme, lançado no Japão em 1983, escrito e dirigido por Shôhei Imamura, revela uma tradição: o morador que completa 70 anos deve subir numa montanha, o Monte Deus Narayama, e ali aguardar sua morte.

Carregando um ancião nas costas

Quem se recusar a cumprir a regra, traz desgraça para sua família. A cena principal do filme mostra um samurai carregando um ancião nas costas para levá-lo ao topo da montanha.

Na vida real, notícias recentes vindas do Japão revelam assassinatos de velhos, doentes, praticados por pessoas sem condições financeiras para cuidar deles e que acabam se suicidando em seguida, por remorso.

Mas estamos longe de dramatizar. Apesar do preocupante aumento do número de idosos no Brasil, cada família tem cuidado dos avós e pais da melhor forma possível. Mas como e até quando é possível cuidar deles com respeito e dignidade, como convém?

Nesse ponto, exponho minha experiência pessoal: minha mãe, Tokiko Suzuki, está com 97 anos de idade, sofre de Alzheimer, diagnosticado há mais de 10 anos.

Estava morando há 7 anos com minha irmã mais velha, que não teve condições de continuar cuidando dela. A família, então, decidiu colocá-la numa casa de repouso.

Percorremos várias antes de decidirmos por aquela que, acreditamos, dará toda a assistência que minha mãe precisa. Ela tem se adaptado bem à nova casa e curte feliz a visita das filhas, dos netos e dos bisnetos.

Para quem tem recursos, esta é a saída.

Imagem: Arquivo pessoal

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Nair Keiko Suzuki

Jornalista, avó de Olivia, Nicole, Gabriel e Felipe

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