► Ao trabalhar com o marketing do eterno “capita”, Diego Torres viveu aproximação tardia e fértil com vovô Cacá – o capitão da seleção tricampeã.
Diego sempre soube, desde pequeno, que o vovô, afinal, era “um cara diferente”. Que tinha erguido a taça do tricampeonato brasileiro. Tinha marcado um dos gols mais famosos do Brasil e das Copas do Mundo.
Mas diz ter se dado conta mesmo do tamanho disso tudo quando os dois trabalharam juntos, a partir de 2010. É que Diego estudou marketing esportivo e, com 25 anos, geriu uma reconstrução na imagem de Carlos Alberto Torres. O avô tinha 66.
“Fizemos um reposicionamento e ele passou a dar palestras, divulgar grandes marcas globais. A gente viajava o mundo todo e era muito impressionante ver como ele era amado por milhões de pessoas. Além disso, não tem como mensurar o valor disso, de como ele é uma inspiração para as pessoas”, diz com admiração.
Além de uma renovada na carreira do craque, então comentarista, a parceria rendeu uma aproximação entre avô e neto que não tinha sido possível durante a infância de Diego.
Um negócio inseparável capitão
Afinal, imagine como é difícil encaixar a agenda de um treinador de futebol com a de avô – a partir dos anos 1980, Carlos Alberto Torres orientou equipes como Fluminense, Corinthians, Miami Freedom (EUA) e Once Caldas (Colômbia).
“Ele não era um cara tão bom com crianças quanto com adolescentes e adultos. A gente não tinha um contato diário. E tinha um certo brilho que distanciava por ele ser ‘o capita’”, lembra o neto.
Diego conta que, nesse sentido, e a situação mudou totalmente durante a parceria profissional, que trouxe junto a convivência: “Nesta época, a gente ficou muito junto – eu, meu pai (o também jogador Alexandre Torres) e meu avô. Ficou um negócio inseparável, uma coisa muito gostosa de viver”.
Lições de craque capitão
O trio viajou para quase todos os continentes, só faltou a Oceania. Dos quatro netos, Diego acabou sendo o que tem mais histórias com o avô. Carlos Alberto foi para Diego “parceiro de negócios, mentor, amigo e, no final, avô”.
Nas viagens, era ele quem cuidava das dores de cabeça, dos problemas no joelho do “capita”. As recordações de dentro e fora de campo brotavam no dia a dia. Mas o que mais impressionava o neto eram as histórias e exemplos que leva para a vida até hoje.
Um dos maiores laterais de todos os tempos, Carlos Alberto Torres sempre foi famoso pela personalidade forte e igualmente por ter o respeito de todos os companheiros, feras como Pelé, Rivellino e Tostão.
Não à toa, levava, de fato, a braçadeira de capitão no tricampeonato brasileiro em 1970, no México.
Gol obra prima capitão
O “capita” carregou também por toda vida o destaque da autoria do quarto e último gol do Brasil contra a Itália na final da Copa, considerado pela crítica especializada como uma obra-prima de talento e, enfim, entrosamento de equipe.
“Ele me ensinou a extrair o melhor de mim e dos outros”, reflete Diego. “Mesmo gerindo minha agência de marketing, vejo no dia a dia muito do que meu avô falava. Portanto, ele me ensinou muito sobre liderança e gestão”.
“Também me ensinou a ser um ser humano do bem, a respeitar tudo e todos, jamais permitir desrespeito. Sinto que eu absorver isso faz parte do legado dele”, diz, com um certa vaidade virtuosa.
A convivência íntima entre os dois durou cerca de seis anos. Mas Diego faz uma conta diferente, mesmo com a morte do ídolo brasileiro em 2016: “Fomos grandes amigos. Quer dizer, somos. Ainda converso com ele, considero que continuamos próximos”.
Jogador, treinador, campeão e… avô
Nos últimos meses de vida, o “capita” tinha escolhido ser avô. Diego até se emociona de lembrar. No final da festa de aniversário de um ano da sua filhinha, o avô o chamou de canto e disse:
– “Eu já conquistei tudo o que um homem pode querer na vida. Agora, independentemente do valor financeiro, só quero fazer coisas que tragam valor para mim”, dizia, então.
E prometeu conviver com a bisneta tudo que não pôde aproveitar com filhos e netos.
Diego sabe que, quando morreu, Carlos Alberto Torres estava feliz da vida. Eterno “capita”, treinador, comentarista, palestrante, campeão do mundo. E bisavô da Maria.
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