Gerações

É de graça?

● Acumular aniversários aumenta características como as manias

As gratuidades adquiridas com o status de pessoa idosa fazem a vida se tornar um verdadeiro parque de diversões

Dizem que o tempo é um mestre sábio, mas o que poucos contam é que ele também é um grande aumentador de características pessoais. Me refiro às nossas próprias peculiaridades. Graça.

À medida que os aniversários se acumulam, não apenas os cabelos brancos e as dores nas costas se tornam mais evidentes, mas também aquelas pequenas manias que sempre estiveram lá, esperando pacientemente para atingirem seu potencial máximo.

Se uma pessoa era teimosa aos vinte anos, aos sessenta e tantos ela se torna uma fortaleza inabalável de opiniões. Não adianta tentar argumentar com o velho amigo. Perda de tempo. Teimoso é quem teima com ele.

Aquela senhora que sempre foi chatinha, com o tempo, refina sua chatice a níveis quase artísticos. Seu radar para identificar erros no serviço do restaurante, no corte de cabelo da nora ou na organização da vizinhança está afiadíssimo.

O garçom treme ao ver sua presença, pois sabe que a temperatura da sopa será medida com um termômetro invisível que não admite falhas.

E os esquecidos? Ah, esses não apenas continuam esquecendo, mas ganham um toque especial de improvisação. Criam histórias tão convincentes para preencher as lacunas da memória que poderiam facilmente ser roteiristas de novela.

“Eu já te contei sobre aquela vez que conheci um artista famoso?” Sim, já contou, mas desta vez a história ganhou novos detalhes: agora o artista não apenas apertou sua mão, mas também pediu conselhos sobre a vida.

Os ansiosos, por sua vez, tornam-se especialistas em prever desastres iminentes. “Você viu aquela nuvem no céu? Melhor levar um casaco, porque isso pode virar um furacão.”

“Vai viajar de avião? Já olhou as estatísticas de turbulência na região?” O que era uma leve preocupação na juventude agora é uma consultoria especializada em riscos do cotidiano.

Frequentador de vernissages

O caso mais pitoresco que conheço é de um senhor que adora tudo o que é de graça. Vale qualquer coisa oferecida, não importa por quem, onde ou de que forma. Na juventude, era frequentador assíduo de vernissages, lançamentos de livros e outros tantos eventos.

Ele gostava de arte e cultura? Talvez! Mas as bebidas e canapés servidos nessas ocasiões eram imperdíveis, e, claro, grátis. Devo dizer que jamais comprou um livro, quadro ou gravura dos anfitriões.

Com o passar dos anos, essa característica ganhou contornos inimagináveis. Aos 70 anos, com gratuidade nos transportes urbanos, interurbanos e outros serviços disponibilizados para pessoas dessa faixa etária, a vida tornou-se um verdadeiro parque de diversões.

Mas nem tudo é problema! Aquele amigo brincalhão, que sempre fazia piadas nas rodas de conversa, continua aprimorando seu repertório.

Agora, ele não precisa nem se esforçar, pois tudo ao seu redor se torna material para novas piadas: a fila do banco, o preço do supermercado, os comerciais de televisão.

“Eu não envelheci, virei um comediante de stand-up gratuito”, ele diz, arrancando risos de todos.

E quem sempre teve um coração generoso? Ah, esses viram verdadeiros avôs e avós do mundo. Sempre prontos a ouvir, a dar um conselho carinhoso ou a oferecer um bolo quentinho, porque, segundo eles, “nada se resolve sem um bom café e uma fatia de bolo”.

No fim das contas, a velhice é como uma lupa: amplia tudo o que já existia em nós. Seja para o bem ou para o entretenimento dos outros, o importante é que seguimos sendo quem somos.

E, convenhamos, a vida sem esses personagens tão aprimorados perderia boa parte da graça!

Imagem: Divulgação

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Então. Pois. Então. Pois. Então. Pois. Então. Pois. Então. Pois. Então. Pois. De graça.
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Elisabete Junqueira

Publicitária e jornalista, fundadora e editora do portal avosidade, avó de Mateus, Sofia, Rafael, Natalia, Andrew, Thomas e Cecilia Marie

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