O tempo passa, lembranças ficam
● Recordações de uma avó vendo os netos crescer muito depressa
► No portão de entrada e saída das escolas dos alunos do maternal e primeiro grau acotovelam-se os que levam ou buscam os pequenos. São os vovôs e/ou vovós aposentados que chegam, a maioria de carro próprio. Tempo passa.
Não só cumprem essa rotina em frente às escolas. Dão a eles almoço, acompanham a lição de casa e depois os leva para as aulas de Natação, Futebol, Inglês, Judô, Karatê, alternadamente nos dias da semana.
É comum servir-lhes o jantar, dar banho e entregá-los aos pais prontos para dormir.
Vovô e vovó não se lembram de terem se dedicado tanto assim a cuidar dos filhos quando crianças. Isso porque trabalhavam fora, muitas vezes em período integral.
Os filhos são de uma geração que cresceu sob os cuidados de uma babá, na maioria das vezes de uma empregada que se dispunha a dormir no emprego e ia para sua casa nos fins de semana.
Os pais compensavam a pouca convivência com os filhos à noite, pouco antes de dormirem. Levavam-nos a passear e visitar familiares e amigos aos sábados e domingos. Caprichavam nas viagens de lazer, principalmente durante as férias.
Anualmente, os aniversários eram comemorados com festa em casa ou em buffets. Isso tudo era possível porque pai e mãe tinham condições financeiras e a família não era tão numerosa como na época dos bisavós dessas crianças, a maioria constituída de imigrantes.
O peso da idade
Outra mudança que se verifica hoje, no relacionamento familiar, é que, depois de curtir o nascimento dos bebês – um, dois, no máximo três – e de acompanhar por pouco tempo o desenvolvimento deles, os avós são surpreendidos com decisões dos filhos de ir morar em outras cidades ou no exterior, para agarrar oportunidades profissionais que surgem.
Entra-se, então, numa fase da programação de viagens para poder passar alguns dias com os netinhos.
Se passam a morar em cidades próximas, dá para conviver com eles com certa frequência.
Mas, quando passam a morar nos Estados Unidos, Canadá, cidades europeias, ou do outro lado do mundo, na Austrália, Nova Zelândia, Japão, por exemplo, contam-se meses e mesmo anos para poder visitá-los e matar as saudades deles.
E nesses encontros esporádicos dá para notar como os meninos e as meninas cresceram, já não são mais bebês, alguns já são pré-adolescentes. Não dá mais para pegá-los no colo, jogá-los para o alto para fazê-los rir.
De crianças dependentes, que necessitavam de cuidados e atenção, o nível de interesse muda, querem fazer programas diferentes, ser parceiros em jogos e brincadeiras infantis e juvenis.
Escolhem suas próprias roupas para se produzir, conversam como gente grande e passam a ser companheiros enquanto estiverem juntos, principalmente em viagens.
Nessa fase, vovô e vovó já sentem o peso da idade, enfrentam problemas de saúde, não conseguem ter energia como antes para poder se dedicar aos netos. Os filhos assumem a rédea e passam a acompanhá-los.
Mas a lembrança de quando os netinhos dependiam dos avós permanecerá viva. O amor e o carinho entre eles continuam intensos.
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