► Tem sido pela tela do celular o contato com a mais nova das mulheres da minha vida. Vivo num mundo feminino, esposa, quatro filhas, uma afilhada, quatro cunhadas, mãe, sogra e, há nove meses, uma neta. Em tempos de quarentena, um flagelo a mais para os vovôs e vovós tem sido ficar longe dos netos! Serena
Ainda mais no momento em que Serena, nossa menina gorducha, bochechuda e de incríveis olhos azuis, a cada dia tem uma nova descoberta, uma conquista. Rastejar na velocidade de um coelho pela sala, engatinhar, ficar em pé no berço ou na varanda, agarrada nas grades de proteção…
Voltando no tempo, nosso primeiro encontro foi precedido de uma pequena maratona. Depois de quase uma hora no ar no SporTv, apresentando o programa de abertura, faltava pouco para começar a transmissão da final da Copa do Mundo Feminina de Futebol. As seleções dos Estados Unidos e da Holanda estavam alinhadas em campo, ouvindo os hinos nacionais.
– Miltão, uma das suas filhas ligou na redação, mandou dizer que sua neta nasceu, está todo mundo bem – falou, com toda a calma do mundo, o coordenador da transmissão no meu ponto. E seguiu: “Logo depois dos hinos pode chamar as escalações”.
E eu nem sabia que minha outra filha tinha ido para o hospital, embora a gravidez estivesse no final, naquela fase do “pode nascer a qualquer momento”. Os hinos terminando e eu com os olhos cheios de lágrimas, nó na garganta e tendo que falar (e muito), nas duas horas seguintes.
Quando a bola rolou, não tive dúvida em anunciar em rede nacional que minha neta tinha nascido.
Primeiras palminhas
Eu estava no Rio, numa transmissão que chamamos “off tube”, sem estar no estádio (a competição aconteceu na França). Serena acabava de vir ao mundo numa maternidade em Jundiaí, a 60 km de São Paulo.
Quase três tarde daquele domingo, 7 de julho de 2019, consegui deixar a Barra da Tijuca num táxi a caminho do aeroporto Santos Dumont. Perto de 5 e meia estava em São Paulo.
Às 7 da noite de uma noite fria de inverno, segurei Serena pela primeira vez nos braços. Mais uma vez meus olhos se encheram de lágrimas no momento em que me apresentava a ela. Paixão à primeira vista.
O mais recente dos vídeos gravados pela minha filha mostra Serena engatinhando pela casa, atrás do companheiro Toy, um cachorrinho pequeno e sempre desconfiado das intenções de Serena.
No meio do caminho ela para, olha para trás e ouve a mãe cantar “Parabéns a você”. Imediatamente abre um sorriso, exibe apenas dois dentes, os de baixo (os de cima não tardam a aparecer), e acompanha a música batendo palminhas. Pela primeira vez as palminhas.
Aniversários sem data
Treinamento intensivo que mamãe Clara tem feito para a festinha do primeiro aniversário, que a esta altura nem sabemos se acontecerá ou se será adiada (Ângelo, meu primeiro neto, que já foi personagem de outros textos aqui, também tem a festa do sexto aniversário ameaçada).
Mandar beijo à distância, “dizer” tchau abanando a mão gordinha… Todas as novidades apenas pela pequena tela do celular.
Na distância, angústias ficam rondando, sem muita lógica (que lógica tem o amor?), será que vai lembrar de mim quando tudo isso passar, vai gostar de mim como se eu estivesse perto, vou perder quantas coisas mais da vida desta garota???
Um dia destes, obrigado a sair de casa por alguma razão, não tive dúvida, fui até a porta do prédio onde elas moram, pedi para descessem e durante cinco minutos ficamos próximos, “apenas” três metros nos separando. Sem toques, sem beijos, sem abraços… Cinco minutos, a três metros de distância, em quase 20 dias.
Bendita tecnologia com suas chamadas de vídeo. Viva a internet!
Ninguém consegue prever quanto tempo isso vai durar. Quanto tempo levará para que outra pandemia chegue depois desta. Ou, ainda, que mundo encontraremos quando pudermos sair de casa de novo. Que seja um mundo melhor. E para os vovôs e vovós só será perfeito com netos por perto, com muitos beijos, abraços, brincadeiras.
Pois. Então. Pois. Então. Serena. Então. Pois. Então. Pois.
E mais…
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