Sinais de envelhecimento também podem ser sintomas de mielofibrose
● Conheça esse tipo raro de câncer no sangue que pode levar anos para ser diagnosticado
► A mielofibrose é um tipo raro de câncer que afeta até 1,5 a cada 100 mil pessoas no Brasil (1), e que tem como grande desafio o diagnóstico precoce, dificultado por apresentar sintomas muito semelhantes aos do envelhecimento, podendo se manifestar entre os 50 e 80 anos de idade, com maior incidência após os 60 (2).
Um mau funcionamento das células tronco prejudica a produção de células sanguíneas, afetando a medula óssea (3). A doença, que é progressiva, se não tratada a tempo tende a evoluir para leucemia mieloide aguda e até óbito, apresentando complicações como hemorragias, tromboses, infecções e falência de órgãos nas fases mais graves.
A médica Cristiana Solza, doutora em Hematologia pela Universidade Federal do Rio de Janeiro e membro da Sociedade Brasileira de Hematologia e Hemoterapia, comenta os tabus que envolvem envelhecer e a dificuldade do diagnóstico da doença:
– “Pacientes com mielofibrose podem ter febre, suor noturno, emagrecimento, insônia, irritabilidade, impotência sexual, alterações do humor, coceira ou prurido, zumbido e dor de cabeça. É uma doença em que existem muitas proteínas inflamatórias circulando no sangue.”
– “Os sintomas da mielofibrose podem se confundir com os do envelhecimento. Portanto, é muito importante mencionar ao seu médico qualquer diferença que você note no seu dia a dia.”
– “O diagnóstico não é fácil porque ela tem sintomas que podem ser confundidos com os de várias doenças. O diagnóstico muitas vezes é demorado pra ser feito. Em média uns dois anos pra conseguir ter o diagnóstico fechado.”
Planos de saúde e SUS
A Dra. Cristiana Solza também é responsável pela coordenação do Serviço de Hematologia e Hemoterapia do Hospital Universitário Pedro Ernesto, no Rio, onde também atua na Unidade de Transplante de Células Tronco Hematopoiéticas.
Ela destaca que “o diagnóstico precoce é muito importante porque, muitas vezes, quando se chega ao diagnóstico, pode ser tarde demais”. E esclarece:
– “Muitos estados não possuem médicos patologistas treinados para diagnosticar doenças hematológicas e há obstáculos para conseguir realizar exames genéticos necessários para detecção correta da doença.”
– “Nem todos os planos de saúde oferecem opções de tratamento mais avançados, ou seja, que gerem regressão da doença e permita uma melhora significativa na qualidade de vida dos pacientes. A diretriz mais comum hoje é fazer o manejo dos sintomas.”
– “É necessário pensar em alternativas para redução de custo, como centralizar os atendimentos em centros de referência regionais, que contem com aporte financeiro e com profissionais qualificados, além de lutar para que o SUS e a ANS (responsável pelos planos de saúde) incorporem os exames genéticos necessários, assim como os tratamentos mais modernos para garantir o acesso dos pacientes.”
Lenta e não hereditária
Ela destaca que “a mielofibrose é uma doença bastante lenta e que “o especialista mais adequado para fazer o diagnóstico é o hematologista. Existem dois exames fundamentais para que esse diagnóstico seja confirmado: a biópsia de medula óssea e a pesquisa de mutações genéticas”. E acrescenta:
– “A mielofibrose ela não é uma doença hereditária, na grande maioria das vezes. Raríssimos casos são descritos como sendo familiares. Ela ocorre porque durante a vida a pessoa adquire uma mutação. Nós chamamos essa alteração de mutação somática. E não há fatores que possam aumentar o risco.”
Tratamento e cura
A Dra. Cristiana esclarece que “o único tratamento que cura a mielofibrose é o transplante halogênico de medula óssea. Mas é um tratamento que está restrito a pacientes de até 70 anos e que não tenham nenhuma outra doença grave, e que possuam um doador. Não é um tratamento simples”. E revela que:
– “Nós temos hoje em dia drogas que podem controlar alguns sintomas, como reduzir o tamanho de baço, e aumentar o tempo de vida com mais qualidade.”
– “Como todas as doenças, o diagnóstico precoce está associado sim a uma qualidade de vida melhor e a um tempo maior de vida. Então, é muito importante buscar o especialista quando houver a suspeita e iniciar o tratamento que estiver mais adequado à sua idade e a sua fase de doença.”
A especialista na mielofibrose arremata com um aceno de esperança para a população 50/60+: “A vida pode ser praticamente normal, dependendo, claro, do momento do início do tratamento”.
(1) Ver: https://www.telessaude.unifesp.br/index.php/dno/agenda-da-saude/382-20-de-setembro-dia-mundial-de-conscientizacao-da-mielofibrose
(2) Diretrizes Oncológicas: https://diretrizesoncologicas.com.br/wp-content/uploads/2019/12/Diretrizes-oncológicas-3_Mielofibrose.pdf
(3) O que é mielofibrose – Abrale: http://abrale.org.br/mielofibrose/o-que-e-mielofibrose
E mais…
Veja também no portal avŏsidade: