Comportamento

Dra. Elizabeth Monteiro: As suas mãos onde estão…

● Diálogo do fundo coração com o ente querido que se foi

A perda do seu companheiro, o vazio que ficou, o que fica na memória, a difícil travessia... e a vida que continua

“As suas mãos onde estão, onde está o seu carinho, onde está você…”. É com essa canção que início esse texto.

A nossa primeira dança foi “La mer”, ouvindo Ray Conniff. Nós nos conhecemos em um bailinho e, assim que a música acabou, você continuou segurando a minha mão. Entendi que esse gesto era o início de nossas vidas juntos e o nascer de um grande e único amor.

Tivemos quatro filhos, seis netos e uma vida muito difícil, mas nada nos abalava, porque o nosso amor enfrentava e sobrevivia cada vez mais forte, às muitas tempestades que enfrentamos.

Após 54 anos de convivência e 48 anos de casados, enfrentamos o pior de nossos momentos, quando o nosso filho Samuel foi diagnosticado com um gravíssimo linfoma. Aquilo nos derrubou. Você faliu, perdemos nossa casa, eu não consegui mais escrever e acreditar na vida, pensamos que fosse o nosso fim.

Samuel fez a primeira sessão de “quimio”, quando você, querido Ruy, foi diagnosticado com câncer.

Perdemos o chão. Nós não poderíamos visitar o nosso filho devido ao risco mútuo de doenças advindas da baixa imunidade de vocês dois.

Não acredito que perdi você, meu amor, em apenas seis meses.

 

Mãos

 

Samuel fez o transplante e hoje está bem… mas você se foi.

Ainda agradeço a Deus por ter te levado e preservado o Samuel.

Eu ainda não sei o que fazer de mim. Vivo um dia de cada vez, na esperança de aquietar o meu coração saudoso, mas sinto que essa luta não terá fim.

É preciso viver…

Quando olho para o futuro, não consigo imaginar mais um dia sem você. Aí eu durmo, acordo e penso que é preciso viver…

Viver pelos filhos, pelos netos e pelo tempo que me resta.

Nunca me esqueço da nossa despedida. Você agonizando no leito do hospital, tendo os filhos à nossa volta, perguntei se queria ouvir uma música. Você disse sim com a cabeça.

Ao som de “La mer”, como no dia em que nos conhecemos, encostei a cabeça em seu frágil ombro, peguei a sua inerte e fria mão e dançamos apenas com a alma, como naquele dia.

Você disse que queria se levantar… Lembra?… Foi o seu último sinal de lucidez.

Hoje mantenho a sua mão entre as minhas, esperando que a vida me conduza novamente à luz.

Enquanto isso, invento a sua presença nas saudades da minha memória.

Então. Pois. Então. Pois. Então. Pois. Então. Pois. Então. Então. Pois. Então. Pois. Então. Pois. Então. Pois. Então. Mãos. Oi.

E mais… 

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Então. Pois. Então. Pois. Então. Pois. Então. Pois. Então. Pois. Então. Então. Pois. Então. Pois. Então. Pois. Então. Pois. Então. É. Mãos. 
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Dra. Elizabeth Monteiro

Psicóloga e psicopedagoga, especialista em relacionamento entre filhos, pais e avós, autora dos livros “Criando Filhos em Tempos Difíceis”, “A Culpa É da Mãe”, “Cadê… o Pai Dessa Criança?” e “Avós e Sogras – Dilemas e Delícias da Família Moderna”; tem quatro filhos e seis netos, e escreve com frequência no portal avosidade

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2 Comentários

  1. Que texto mais emocionante! Você conseguiu me passar o grande amor que os uniu e que com certeza será eterno. Força! Beijo.

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