► Assim como resolvemos, desde muito cedo, que queríamos ter três filhos (eu tinha 17 anos e a Lúcia 15, na época dessa conversa, 50 anos atrás), ao longo da vida, ainda com os filhos pequenos, ficou claro que estávamos criando filhos para o mundo, não para viver sob nossas asas. Continentes
E mudar de cidade, mudar de casa, era uma rotina a que todos se acostumaram. Num ano estávamos em Florianópolis, no outro em Brasília e no seguinte em Porto Alegre. O jornalista tem que ir aonde o emprego está (isso no século passado, quando ainda existiam empregos para jornalistas).
Num belo dia, demo-nos conta de que estávamos sozinhos. Um filho foi morar em São Paulo, outro em Brasília e a filha acompanhou o namorado num estágio profissional na Alemanha. E, a partir daí, sabíamos que a nossa vida seria mais ou menos essa: os filhos estavam, como sempre sonhamos, voando.
Não demorou muito para que também formassem suas famílias. A filha, depois do estágio, retornou a Florianópolis, casou e, por força do emprego do marido, foram morar em Aberdeen, na Escócia.
O filho mais velho casou e foi transferido, pela multinacional em que trabalhava, para San Francisco, nos Estados Unidos. O filho do meio também casou, mas continuou em Brasília. E aí começou uma espécie de competição, para ver quem daria mais netos aos velhos pais.
O time ficou completo continentes
Nasceu o primeiro neto em Brasília, aí nasceu o segundo, em Aberdeen. O terceiro em Brasília. A filha, o genro e o neto escocês foram transferidos e nasceu o quarto neto em Perth, na Austrália. O pessoal de Brasília produziu o quinto neto. Até agora, só meninos.
A turma dos Estados Unidos se animou e deu-nos a primeira neta, sexta na contagem geral. A esta altura, os globe-trotters da Austrália tinham sido transferidos para Macaé, no estado do Rio de Janeiro. Aproveitaram o calor tropical para ter o terceiro filho, nosso sétimo neto.
Pouco tempo depois já se mudaram novamente, desta vez para Shenzhen, no sul da China. A turma de Brasília fez as trouxas e foi morar na França, para mestrado e doutorado. E os norte-americanos tiveram a segunda filha. Pronto, estamos com o time completo (por enquanto): oito netos. Espalhados pelo mundo.
Os avós eram chamados de vez em quando para passar um tempo, ajudando. Geralmente quando alguém estava para nascer. Assim, além de conhecer os netos e netas, também pudemos conhecer Aberdeen, Perth, San Francisco, Angoulême, Macaé e Shenzhen.
Reunião de família é coisa difícil, nem tanto pela distância, mas pelo desencontro de datas de folga e férias. Uma logística bem complicada. Mas já conseguiram reunir os primos dos Estados Unidos com os da França. Em outra ocasião, os da França e da China se encontraram em Florianópolis. Antes, a prima norte-americana veio ao Brasil e encontrou os primos de Macaé.
Jornalzinho com vídeo continentes
Na pandemia, com viagens suspensas, o jeito foi criar um jornalzinho em vídeo para incrementar um pouco mais as trocas de mensagem pela internet entre os três núcleos de netos. O lado ruim é que ainda não conhecemos pessoalmente a neta mais nova, que nasceu há uns seis meses.
Mas, como disse no início, essa distância geográfica não nos aflige ou angustia: nós criamos os filhos para isso mesmo. Para serem pessoas independentes e, mesmo à distância, amorosas e atenciosas com os pais e muito envolvidas com a criação dos filhos deles, nossos oito netos.
PS: Como dizia um amigo meu, o grande repórter José Alencar, pra tudo na vida é preciso sorte e arte. A arte é a habilidade, o conhecimento, o jeito certo de fazer as coisas. No quesito sorte, a turma que morava na China foi transferida para a Austrália (de novo para Perth) no ano passado, poucos meses antes de começar o enrosco do vírus. Ufa.
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