Cotidiano entre gerações – escola
● Experiências de coeducação com crianças e adolescentes
► Esta é a terceira reflexão sobre o convívio das gerações no cotidiano que tenho registrado neste portal avosidade. Já comentamos como convivem na atualidade as diferentes faixas etárias no âmbito familiar e no mundo do trabalho. Escola
Concluindo essa trilogia, vejamos o que acontece no espaço escolar e o que pode ser feito para nesse local seja possível promover uma mais intensa interação social entre professores, alunos e funcionários.
A escola, sem dúvida, é um local de convívio muito importante na vida de todos nós. Nele passamos boa parte de nossas vidas, embora saibamos que, lamentavelmente, muitos jovens, no Brasil e no mundo, não têm suficiente acesso aos estudos.
Essa experiência, para a maioria das pessoas começa cedo, desde a chamada pré-escola até a adolescência, incluindo, principalmente para as classes de suficiente poder aquisitivo, a universidade.
Cabe lembrar que para os profissionais do ensino, professores, diretores, coordenadores pedagógicos, além dos funcionários, o tempo de convívio intergeracional no espaço escolar é ainda mais longo, já que se soma aos anos em que esses trabalhadores eram estudantes em sua juventude.
Há também o fenômeno da intergeracionalidade presente nas relações entre crianças, pré-adolescentes e adolescentes em escolas que abrigam cursos voltados a um arco etário mais amplo.
Diga-se, de passagem, que a relação entre crianças e adolescentes é escassa de estudos e de projetos intergeracionais. Esses dois universos não entram muito em contato, nem mesmo na família, e menos ainda na escola. Entender melhor esse distanciamento me parece útil e interessante.
Aproveitar os equipamentos
Na área da Educação, temos também oportunidades de relações intergeracionais no ambiente das Universidades e Faculdades Abertas à Terceira Idade, entre professores, em geral mais jovens que seus alunos, e seus estudantes idosos.
Em meu livro “Coeducação entre Gerações” relato a pesquisa que empreendi sobre essa relação, destacando as trocas de experiências vivenciadas e o aprendizado mútuo alcançado.
Outra modalidade de encontro de gerações na área educacional se dá no programa de Educação de Jovens e Adultos, conhecido como EJA, uma importante política governamental que propicia o acesso a maiores de 15 anos que não tiveram condições de ingresso quando crianças ao Ensino Fundamental e Médio.
Esse programa, como sabemos, inclui adultos e até mesmo aqueles de idade avançada. Lembremo-nos que o índice de analfabetismo entre idosos brasileiros, lamentavelmente é grande.
Trata-se, portanto, de uma ação que propicia a inclusão por meio da leitura, além de propiciar a um encontro de várias gerações que pode ser potencializado pela uma oportunidade de um fecundo processo de coeducação.
As escolas, principalmente as públicas, são equipamentos que deveriam ser melhor aproveitados não só por professores e alunos, mas pela comunidade na qual estão inseridas, sobretudo nos finais de semana, momento em que, via de regra, permanecem fechadas.
A ausência de uma política mais específica efetiva nesse sentido, em âmbito municipal, estadual e federal, faz com que atividades comunitárias e, portanto, intergeracionais, ocorram muito raramente em algumas escolas.
Estatuto do Idoso
Quando ocorrem, isso se dá por iniciativa da direção ou do corpo docente. Nessas ocasiões muito esporádicas, atividades esportivas, sociais e culturais podem contar com a presença de pais e avós dos alunos.
Além do evidente benefício aos moradores do entorno, à medida que a comunidade se apropria desse espaço, a ocorrência de roubos e depredações das instalações escolares, como atestam várias experiências do tipo, tende a diminuir expressivamente.
O Estatuto do Idoso recomenda a sensibilização da sociedade para a situação dos que envelhecem, por meio de uma educação para o envelhecimento, desde a pré-escola até a universidade.
A construção de uma imagem mais positiva dos mais velhos entre os jovens enseja um convívio mais saudável entre jovens e velhos tanto dentro, quanto fora dela.
Aliás, fora do espaço escolar, mas dentro da área educacional, destaco o Programa Assessores Sêniors promovido pelo Governo do Chile, que criou um programa intergeracional com um duplo objetivo:
● valorizar a contribuição social da população idosa;
● e beneficiar crianças pobres de várias localidades do país por meio de aulas de reforço
. escolar fornecidas a elas pelos idosos selecionados para esse programa.
Nessa ação, além das tarefas escolares, há uma preciosa oportunidade para que os idosos transmitam sua experiência de vida a essas crianças.
Esse investimento na educação de filhos de famílias pobres, sem dúvida, é a principal estratégia, como sabemos, para a redução da desigualdade social em qualquer parte do mundo.
Envolver a comunidade
No momento em que escrevo estas linhas vivemos no Brasil um momento crucial que exige a urgente construção de uma transformadora política educacional voltada para a infância e adolescência mais vulnerável.
Outro programa que merece menção foi o desenvolvido pela South Liverpool Primary Care Trust, em um bairro pobre de Liverpool, Inglaterra com o objetivo de reverter os baixos índices de aproveitamento escolar e os altos índices de gravidez de adolescentes.
Em decorrência da falta de emprego entre os jovens e da consequente elevada criminalidade, muitos idosos sentiam-se receosos de saírem de casa, temerosos de agressões por parte de jovens infratores.
O programa promoveu, então, uma aproximação entre idosos e alunos de uma escola local que levantaram ideias em relação a como satisfazer as necessidades de saúde, educação e serviços para as várias gerações.
Nesse processo outros setores da comunidade foram envolvidos. Os resultados foram positivos em relação à inclusão social dos idosos e a uma postura mais amistosa e solidária dos jovens em relação a eles.
Essa experiência nos mostra a relevância de ações institucionais voltadas à mediação e à superação de conflitos sociais por meio de um trabalho de aproximação de jovens e idosos, ao fomentar o diálogo intergeracional.
Ressignificar a vida dos velhos
Lembro ainda a exitosa experiência de aproximação das gerações do Instituto Kairós na pequena cidade de São Sebastião das Águas Claras, região metropolitana de Belo Horizonte.
Essa instituição ressignificou a vida dos velhos, isolados pela perda de vínculos sociais. Dentre as várias ações efetuadas, destaco, na área da educação, a presença de idosos da comunidade convidados a conversar com as crianças da escola pública local.
Os relatos da história da cidade e das famílias, como mostraram os depoimentos recolhidos, gerarão admiração e muito interesse desses alunos e provocaram uma elevação da autoestima desses velhos moradores.
Instituições culturais, de natureza pública ou privada, podem cumprir um estratégico papel na promoção de programas intergeracionais por meio de atividades que tenham como meta reduzir o preconceito etário ou o idadismo, tanto do jovem em relação ao idoso, quanto deste em relação aos mais novos.
Os chamados Centros Intergeracionais, mais comuns nos Estados Unidos, constituem um projeto interessante que aproxima fisicamente escola infantil ou de ensino médio a um centro de convivência de idosos ou uma instituição de longa permanência para pessoas idosas vulneráveis.
Nessa parceria entre instituições há, obviamente, espaços físicos específicos, mas também espaços de convívio intergeracional envolvendo atividades de lazer. Essa proximidade de equipamentos permite ações sistemáticas de longo prazo que, por isso, produzem resultados positivos e consistentes.
Imagem: Ivan Aleksic / Unsplash
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