Diversão

O ‘pin’ de Mme. Khrushcheva

● Uma inusitada condecoração para a primeira dama russa

Nina Kukharchuk, a Madame Khrushcheva, com o marido Nikita, que então era o líder máximo da União Soviética

– Brasilia sindicat. Khrushcheva

Com essas duas palavras, Arruda Campos – que não falava russo – identificou para Nina Khrushcheva a delegação brasileira presente ao Congresso do Desarmamento e da Paz.

Moscou fervia de calor em julho de 1962, quando sediou o encontro a que compareceram personalidades do mundo todo. Só brasileiros havia 170.

As solenidades tinham lugar no moderno Palácio do Congresso, no interior do Kremlin. Como acontece no teatro, havia intervalos para descanso: eram oportunidades para congraçamento.

Os participantes se misturavam e trocavam apertos de mão, pequenos presentes e, quando possível, algumas palavras.

Madame Khrushcheva, que preferia usar o sobrenome de solteira, Kukharchuk, estava ali porque seu poderoso marido, o primeiro-ministro Nikita Khrushchev, iria discursar um pouco mais tarde.

Era o centro de um pequeno grupo em que se viam Indira Gandhi (futura primeira-ministra da Índia, mas, ao tempo, ainda sem projeção internacional) e o herói espacial da União Soviética Iuri Gagarin.

Os soviéticos tinham o costume de homenagear forasteiros com “pins”.

Confeccionados aos milhares, esses pequenos distintivos de metal evocavam façanhas do regime – na época estavam em moda os feitos ligados às conquistas do espaço, como o satélite Sputnik e a nave Vostok.

Ritual obrigatório

O procedimento era simples: bastava inserir o adorno na lapela ou na camisa do homenageado e com ele trocar um aperto de mão.

Alguns brasileiros se aproximaram do grupo de Madame Khrushcheva para confraternizar. A cena que se seguiu foi um típico exemplo do agudo senso de humor de Arruda Campos.

Madame Khrushcheva, cumprindo o ritual obrigatório, tomou a dianteira e tratou de pespegar os gloriosos “pins” soviéticos nos recém-chegados.

Khrushcheva
. . . . O ‘pin” do Corinthians

O único a retribuir foi Arruda Campos: já conhecia o costume de sua visita anterior à URSS, em 1956, e enfrentou de igual para igual os anfitriões em “batalhas de distintivos”.

Antes de partir para o congresso, munira-se de grande quantidade deles. Um foi condecorar o austero tailleur cinza da austera primeira-dama soviética.

– Brasilia sindicat, repetiu ela, talvez imaginando que o escudo representasse os marinheiros do Brasil, decerto tão heroicos quanto os do encouraçado Potemkin: tinha leme, cordas, âncora.

Madame Khrushcheva agradeceu calorosamente e, nas horas seguintes, circulou pelo congresso exibindo na lapela um distintivo do Corinthians.

Em tempo: Arruda Campos era torcedor do Palmeiras. É que só achara “pins” corintianos às vésperas do embarque, quando fora comprar “munição” na Rua 25 de Março, em são Paulo.

Arruda Campos era o nome usado na magistratura pelo juiz de Direito paulista Dácio Aranha de Arruda Campos (1915-1981).
Os autores são seus filhos. Luiz Antônio, então com 20 anos, assistiu à “condecoração”.

 

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Luiz Antônio Arrudão e Bias Arrudão

Luiz Antônio Arrudão é advogado, e Bias Arrudão, jornalista

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