Gerações

Meméia

● Homenagem para a tia de mãos finas como as da rainha

A tia com sua filmadora portátil, em Paris, a cidade onde ela viveu as três histórias superdivertidas aqui narradas

Meméia, única irmã do meu pai, era Maria Amélia de Campos Aranha; depois acrescentou também Duval, do marido, nosso Tonton Jean, com quem se casou já com mais de 40 anos.

Já tinha o apelido quando apareceu a sobrinha atrapalhada da bruxa Alcéia, de quem os leitores de Luluzinha hão de se lembrar.

Nasceu em 1917, cursou Geografia na USP ainda no tempo dos professores franceses e em 1949 foi para Paris fazer doutorado na Sorbonne. Morou fora 20 anos. Morreu velhinha em 2012.

Meméia

Na França foi professora universitária e trabalhou na Embaixada do Brasil. Viveu intensamente a transição entre juventude e início da maturidade e a transformação da Paris do pós-guerra em metrópole moderna.

Três passagens divertidas dela:

Luxo de pintor

Era 1952 e o pintor nipo-brasileiro Yoshiya Takaoka chegou a Paris para uma temporada. Levou a mulher e os 3 filhos pequenos. Meméia morava num hotel modesto, o Hôtel de Nantes.

Os Takaoka e meus pais eram amigos; com poucos recursos, eles também se instalaram lá. Meméia tinha no quarto um fogareiro a gás, item terminantemente proibido no estabelecimento. Pois o bujão não explodiu?

Com a Meméia tudo bem, mas uma das paredes ficou preta. Salvou-a mestre Takaoka, que, com infinita paciência, passou semanas refazendo uma a uma as florzinhas do papel de parede danificado na explosão. E o acidente passou despercebido pela gerência.

Bonjour, Sartre!

Meméia tinha o sonho de dar de cara com Jean-Paul Sartre. Bem possível, pois ambos viviam em Paris e andavam a pé. Ela imaginava o encontro, o que conversariam.

E eis que um dia Meméia estava à espera de o sinal abrir para atravessar a rua e quem aguardava do lado de lá? Ele!

E a Meméia travou: o sinal abriu, o filósofo veio em sua direção, passou bem do ladinho e ela paralisada, muda. Nunca mais se encontraram.

Mãos de rainha

Na família temos as palmas das mãos bem finas. As minhas são (é genético, lavo minha louça), as do meu pai eram, e as da Meméia lembravam papel de seda.

Pois bem. Começo dos anos 1960. Meméia estava na Embaixada e veio a Paris Assis Chateaubriand, dono dos Diários Associados, um dos homens mais poderosos do Brasil.

Meméia

Muito rico. Tão rico que fez um agrado para os funcionários da Embaixada: levou todos para almoçar no famoso, chiquérrimo e caríssimo Maxim’s.

Na saída, apertou as mãos de um por um. Na vez da Meméia, se demorou e disse: “Só as mãos da Rainha Elizabeth são mais macias que as suas.”

E mais…

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Então. Pois. Então. Pois. Então. Pois. Então. Pois. Então. Pois. Então. Pois. Então. Pois. Então.
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Bias Arrudão

Jornalista

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