Comportamento

Dra. Olga: fofoca é do mal

● Pode parecer inocente, mas às vezes gera mágoa e sofrimento

Quem costuma fazer fofoca sofre de baixa autoestima e acha a vida dos outros mais interessante que a sua

A fofoca é um relato com informações não baseadas em fatos com intenção de enganar ou de transmitir uma falsa impressão sobre determinada pessoa ou certo acontecimento. É relatar algo com informações equivocadas ou mentirosas, muitas vezes citando pessoas que, em geral, nem sabem de tal situação.

Quem conta um conto…

Uma fofoca pode começar a partir de um mau conceito ou de mal-entendido a respeito do que se ouviu de uma pessoa. Quem não presta muita atenção ao que escuta ou não entende direito o que ouviu pode completar as lacunas criando histórias de acordo com o que pensa, acredita ou imagina, o que abre uma porta para aumentar, distorcer ou alterar o fato em si.

Relatar aquilo que se observa de alguém é muito diferente de questionar a reputação ou o caráter da pessoa com base apenas no que se viu ou se ouviu falar dela. A fofoca pode ser também uma forma de manchar a imagem de alguém de quem não se gosta, que desperta inveja, que provoca medo ou que transgride as regras sociais por ser diferente, bizarro, excêntrico – em suma, que, ao fugir do padrão imposto socialmente, constitui uma ameaça.

Quem sente necessidade de fofocar para prejudicar o outro ou difamá-lo em geral tem complexo de inferioridade em relação a ele. Sofre de baixa autoestima, sente ódio, tem inveja do “brilho” do outro. Fofoca com prazer, com comentários maldosos e descabidos. A fofoca, aqui, é sempre baseada na crítica, porque a pessoa alvo da fofoca incomoda de alguma forma o fofoqueiro.

Muitas pessoas sentem prazer em falar da vida alheia apenas por diversão. Outras fofocam para fugir de uma realidade monótona e sem graça. Quem fala demais da vida dos outros não vive a própria vida (à exceção daqueles para quem a fofoca é sua atividade profissional).

… aumenta um ponto

Pessoas muito vaidosas costumam ser orgulhosas e arrogantes, o que também pode levá-las a fofocar. Já os egoístas são indiferentes aos semelhantes e sua falta de escrúpulos pode fazer com que inventem mentiras sobre os outros.

Quem vive querendo agradar os outros costuma ser carente. Fofocar faz com que o fofoqueiro se sinta parte de um grupo e com liberdade de expressar sua opinião. Transmite a sensação de “intimidade” e, principalmente, atrai para ele a atenção dos outros à sua volta. Falar sobre alguém ou um fato é divertido, aproxima as pessoas, proporciona momentos de riso, espanto e proximidade.

Fala-se ainda mais se o comportamento observado foge dos padrões comuns da sociedade: se a pessoa se veste ou fala de modo diferente, se se comporta de modo estranho ou incomum. É algo “intrínseco ao nosso DNA”, digamos assim. O novo, o diferente, o incomum, assustam e amedrontam, pois podem vir a nos causar algum tipo de sofrimento.

Fofocar pode provocar estragos enormes, causando nos envolvidos mágoa e sofrimento, muitas vezes pela vida afora. A fofoca pode destruir relações de amizade, de trabalho e afetivas e causar sofrimento não só àqueles sobre quem se comenta, mas a outras pessoas em volta de quem é alvo dela.

Para se defender de uma fofoca não se deve tirar satisfações com o fofoqueiro, até porque isso só serve para alimentar a fofoca. Lembre-se de que ele deseja ser o centro das atenções: a melhor forma de ação, portanto, é ignorá-lo. Se ele falar mal de alguém diretamente para você, procure elogiar a pessoa alvo da fofoca: esse é o antídoto certo para fazê-lo se calar!

Baixa autoestima

O fofoqueiro pode passar a imagem de não ter coisas mais importantes para fazer na vida a não ser falar mal dos outros e cair no descrédito porque sempre aumenta, distorce ou inventa fatos. No longo prazo, ele pode se sentir isolado ou solitário, pois suas fofocas fazem com que as pessoas à sua volta se afastem, seja porque se sentem prejudicadas de alguma forma, seja porque temem que sua imagem seja ameaçada por eventuais fofocas que venham a ser feitas a seu respeito. Também pode se tornar alvo de vingança de quem foi afetado por suas mentiras.

Uma pessoa emocionalmente equilibrada não tem necessidade de falar mal das demais. Mas alguém que esteja se sentindo por baixo pode passar a se sentir um pouco melhor (de maneira ilusória) falando mal de outra pessoa. É aquela tendência de rebaixar o outro para parecer que está bem, para se sobressair.

Se cada um cuidasse da própria vida como cuida da alheia haveria bem menos gente frustrada, fracassada e mal-amada, pois elas só são assim porque a vida dos outros lhes é mais interessante que a sua. E aí chegamos na questão essencial: boa parte dos brasileiros tem baixa autoestima, o que colabora, e muito, para o gosto pelas fofocas e por sua propagação.

Termino com uma frase do professor Eugenio Mussak: “Uma fofoca é como o vento. Passa, mas vai deixar alguma consequência. Se for apenas um ventinho, a consequência nem será sentida, mas se for um vendaval, pode deixar um rastro de destruição.”

Crédito da imagem: Ben White/Unsplash

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Dra. Olga Tessari

Psicóloga (CRP06/19571), formada pela Universidade de São Paulo (USP), pesquisa e atua com novas abordagens da Psicologia Clínica em busca de resultados rápidos, efetivos e eficazes, voltados para uma vida plena e feliz; ama o que faz e segue estudando muito, com várias especializações na área; consultora empresarial, leva saúde emocional para as empresas; escritora, autora de 2 livros e coautora de muitos outros; realiza cursos, palestras e workshops pelo Brasil inteiro e segue atendendo em seu consultório ou online adolescentes, adultos, pais, casais, idosos e famílias inteiras que buscam, junto com ela, caminhos para serem felizes

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