Comportamento

Os aspectos emocionais da obesidade

● Cerca de 60% das pessoas obesas têm conflitos mal resolvidos

A pessoa tensa busca na comida uma forma de aplacar os sintomas físicos, afinal, ninguém gosta de ficar sofrendo

A obesidade é uma questão complexa, envolve fatores genéticos, ambientais e psicológicos que interferem no ato de alimentar-se e de engordar!

Cerca de 10% da população de pessoas com obesidade devem ser tratadas por um médico endocrinologista já que, devido aos distúrbios orgânicos, a pessoa sempre engordará enquanto não corrigir o distúrbio orgânico.

E 30% da população de obesos têm seu peso elevado por conta de hábitos e culturas que os levam a comer demais, além daqueles que substituem muitos outros prazeres da vida pelo prazer de comer.

Segundo pesquisas, cerca de 60% das pessoas obesas apresentam conflitos emocionais mal resolvidos que as levam a comer em demasia, gerando a compulsão alimentar.

Um exemplo de como o alimento possui um forte componente emocional começa na infância: imagine um bebê no berço que chora porque está incomodado com uma luz forte que o impede de abrir os olhos.

A mãe vem correndo com uma mamadeira enorme, supondo que o bebê está chorando porque está com fome (para a mãe, o choro do bebê quase sempre indica que ele está com fome).

O bebê, cujo instinto o leva a sempre sugar o que lhe é posto na boca e continuar a sugar se for algo bom, fica prostrado após ingerir toda a mamadeira e com uma sensação física muito agradável pela ingestão exagerada de alimento, passando a associar, em sua mente, que, quando está incomodado com algo, é só comer que o problema desaparece.

E ele pode continuar com esse comportamento pela vida afora, sempre que se sentir incomodado com alguma coisa.

Associar amor e afeto com comida

Outro exemplo: quem é que nunca ouviu da mãe que, se comesse tudo, seria uma criança boazinha ou que o irmão dela é mais querido pela mãe porque sempre come tudo, com fome ou sem fome?

Passamos a associar amor e afeto com comida: “se eu comer tudo, a mamãe vai gostar mais de mim”.

Sempre que a pessoa passa por algum conflito emocional que não consegue solucionar, isso gera tensão e, de certa forma, instintivamente, a pessoa passa a buscar alguma maneira de aplacar os sintomas físicos que essa tensão causa, afinal, ninguém gosta de ficar sofrendo.

Só que a forma que encontrada para acabar com o sofrimento que o conflito emocional acarreta nem sempre é satisfatória: muitas pessoas passam a ingerir drogas, sejam elas lícitas ou ilícitas, outras tantas criam dependência de jogos, sexo etc.

E muitas pessoas fazem uso da comida para aplacar os sintomas gerados pelo conflito emocional não resolvido.

Obesidade

A ansiedade elevada é um fator que pode levar uma pessoa a comer em demasia, assim como o fato de estar entediada, irritada ou com raiva sem saber como ou sem condições de poder extravasá-la da forma adequada (é como se ela usasse o alimento para fazê-la “engolir” a sua raiva).

Solidão e carências

É comum comer demais para fugir da solidão, das carências, por conta de perdas importantes para ela (de namorado, amigos, marido, emprego, status), por conta de planos que não dão certo, por excesso de obrigações, por falta de lazer, por privações ou quaisquer outros conflitos emocionais que possam interferir na sua autoestima.

Comer é uma forma equivocada de tentar minimizar os efeitos físicos da ansiedade elevada, nem que ele seja temporário.

Mas, justamente porque seu efeito é temporário – somente enquanto o organismo realiza a digestão do alimento – logo em seguida é preciso comer novamente, o que leva a um comportamento compulsivo, uma vez que comer não resolve o problema da ansiedade elevada.

O excesso de peso é a consequência mais comum do ato de comer compulsivamente, além dos problemas de saúde que a obesidade pode acarretar.

E, na medida em que a pessoa engorda, como ela não consegue diminuir a sua “gula”, sua autoestima diminui porque ela tem consciência de que come em exagero, mas se considera incapaz de seguir uma dieta por mais do que alguns dias.

Ela se sente fora do padrão social (atualmente o padrão é ser magro, quase esquelético) e começa a fugir de situações em que precisa expor o seu corpo (praia e piscina, nem pensar!); ela passa a ser discriminada no seu meio, além de ter que conviver com comentários maldosos e ser sempre motivo de piadas de mau gosto.

Romper o círculo vicioso

Conforme engorda e se priva do prazer do convívio com outras pessoas e de se locomover livremente por todos os lugares, a pessoa passa a comer mais ainda, agravando o problema, o que pode levá-la à depressão, justamente por ela não conseguir vislumbrar uma saída para o seu problema.

No ato de comer de forma compulsiva, o problema não desaparece, apenas fica em segundo plano, fora da consciência por um certo tempo, retornando com toda força depois, levando a pessoa a buscar novamente o alívio temporário na comida.

E é importante salientar que isso se torna um círculo vicioso sem fim, porque os fatores emocionais que levam a comer demais não são resolvidos, apenas sufocados temporariamente.

Para emagrecer e, principalmente, manter o peso estável depois, é preciso que se investigue a fundo os fatores que estão por trás do “comer demais”. E, mais do que isso, aprender a lidar com eles e resolvê-los da forma adequada.

Procurar um(a) psicólogo(a) é o caminho para superar os conflitos emocionais. Na medida em que eles são resolvidos, a gula diminui gradativamente.

E é gratificante para a pessoa perceber que, embora ela nunca tenha tido “força de vontade” para emagrecer, ela vai emagrecendo naturalmente, sem perceber.

Sua autoestima se eleva, o que também a impulsiona a modificar sua forma de lidar com seus problemas e resolvê-los, proporcionando a ela a alegria de viver bem e feliz.

Imagens: Unsplash

E mais…

Veja também no outros textos da Dra. Olga no portal avŏsidade:

Dra. Olga: sorrir faz bem à saúde

Dra. Olga: vantagens da convivência

Dra. Olga: faz bem fazer o bem

Dra. Olga: fofoca é do mal

Afinal, o que é o languishing?

É possível viver sem medo?

O sofrimento do cuidador do idoso

Dra. Olga: namoro na 3ª idade

Dra. Olga Tessari: depressão, o que é?

Então. Pois. Então. Pois. Então. Pois. Então. Pois. Então. Pois. Então. Pois. Então. Pois. Então. Pois. Então. Pois. Obesidade. Pois. Obesidade. Então. Obesidade.
[. .]
Acompanhe o portal avosidade também no Facebook, Instagram e podcast+!

Dra. Olga Tessari

Psicóloga (CRP06/19571), formada pela Universidade de São Paulo (USP), pesquisa e atua com novas abordagens da Psicologia Clínica em busca de resultados rápidos, efetivos e eficazes, voltados para uma vida plena e feliz; ama o que faz e segue estudando muito, com várias especializações na área; consultora empresarial, leva saúde emocional para as empresas; escritora, autora de 2 livros e coautora de muitos outros; realiza cursos, palestras e workshops pelo Brasil inteiro e segue atendendo em seu consultório ou online adolescentes, adultos, pais, casais, idosos e famílias inteiras que buscam, junto com ela, caminhos para serem felizes

Veja também

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *