Especialistas

Dra. Ligia: proteção aos idosos

● Direitos que as leis asseguram e o que acontece na prática

Nosso olhar deve ser lúcido e apurado para o ser humano que tem uma história a ser respeitada, diz a autora

Quero trazer hoje um assunto que é de interesse geral das famílias e, inevitavelmente, precisa fazer parte de nossa reflexão diária: a proteção e os cuidados aos idosos.

A legislação brasileira em vigor estabelece regras de proteção aos idosos, assegurando-lhes todos os seus direitos, as oportunidades e facilidades, a preservação de sua saúde física e mental e tudo o que for em benefício para a garantia de sua liberdade e dignidade.

Todavia, uma pergunta não quer calar: tudo vem acontecendo na prática?

A questão demográfica vem tomando maiores proporções ao longo dos anos, com o crescente envelhecimento da população (1) e os desafios decorrentes disso são enormes, em especial, no tocante à violação dos direitos das pessoas idosas.

Infelizmente, essas pessoas fazem parte de uma fatia pouco valorizada da sociedade.

Talvez por não serem mais tão atuantes na economia, por muitas serem dependentes ou por não terem tanto espaço na comunidade, acabam ficando marginalizadas e sem tanta atenção do Poder Público.

Em especial, as que fazem parte das classes sociais mais baixas.

Os idosos precisam ter maior visibilidade em nossa sociedade, para que possam se manter ativos, integrados e viverem com dignidade, bem como com o devido respeito e proteção que merecem.

Um dos assuntos mais tristes e importantes a serem observados é a violência contra a pessoa idosa, que, muitas vezes é velada e silenciosa, e que precisa ser veementemente combatida.

A violência contra os idosos não escolhe gênero, raça, escolaridade, nada, e se apresenta de várias formas: física, psicológica, patrimonial ou moral.

Ao mesmo tempo em que o Brasil vem avançando em número populacional de pessoas idosas, surge a necessidade de criação de políticas públicas voltadas a esse público.

Ocorre que há um descompasso nesse sentido. O crescimento demográfico não tem acompanhado o ritmo das políticas públicas.

Mudança social

Há muito o que se fazer para se assegurar os direitos à pessoa idosa e garantir sua dignidade nos mais diversos aspectos da vida, seja no tocante à saúde, à moradia, à segurança alimentar, à educação, ao trabalho etc.

A mudança social é grande, em especial se olharmos para as décadas passadas, nas quais a mulher era vista como a principal cuidadora do lar e da família, e notarmos que, com o seu ingresso e o seu crescimento no mercado de trabalho, a realidade atual é outra, vez que, em muitos dos lares, a mulher é a chefe da casa, cuidadora de tudo e de todos.

A longevidade das pessoas vem aumentando devido à qualidade de vida, às questões ambientais e à evolução da ciência, com novas descobertas para a cura de doenças, que acometiam muitas pessoas antigamente e que hoje não acometem tanto mais.

Com isso, a atual expectativa de vida é maior (2), o que faz com que fiquemos mais tempo vivos numa sociedade em evolução e deficitária de políticas voltadas a sua população mais madura.

Vemos claramente que o envelhecimento é algo desafiador, não só por questões de saúde, mas por questões de mobilidade, laborais e vitais das pessoas da melhor idade.

E é nesse ponto que temos que levantar a importância do olhar sobre a família que, por muitas vezes é núcleo de amparo ao idoso, porém, ao mesmo tempo, em diversos casos, infelizmente, é o ambiente de problemas e maus tratos.

A conscientização de proteção ao idoso precisa começar dentro de casa, no seio familiar, desde tenra idade.

A sociedade precisa ser educada para o envelhecimento e se conscientizar sobre a imensa importância disso, diante dos reflexos que surtirão no futuro.

Estereótipos do envelhecimento

O envelhecimento precisa ser mais bem tratado nas mídias sociais, nos canais de TV aberta e fechada, rádio, etc., ou seja, em todos os meios de comunicação.

Precisam ser evidenciados todos os pontos positivos do envelhecimento, em especial, o lado vivo produtivo e experiente da pessoa idosa.

Com a idade, a pessoa sente que vai perdendo espaço social no trabalho, depois na família, e isso vai gerando uma certa dificuldade, uma queda imensa na autoestima e nas possibilidades de subsistência por si só.

Com isso, temos que olhar para dentro de nós mesmos, já que estamos envelhecendo e acompanhando o envelhecimento de outras pessoas.

Temos que parar para refletir e agir para resguardar quem nos ronda e para saber de que forma nós queremos ser tratados no futuro.

Logicamente, estamos falando do envelhecimento de uma geração mais tecnológica, com muito mais acesso às informações e conhecimento, mas que irá requerer cuidados da mesma forma que as gerações passadas.

Esqueçamos os estereótipos do envelhecimento, a “vovozinha” e o “velhinho”. Esqueçamos o diminutivo.

Nosso olhar deve ser lúcido e apurado para o ser humano que tem uma história a ser respeitada, que contribuiu muito para como sua família e sociedade, e que tem o direito de envelhecer bem, sendo cuidado e respeitado para continuar vivenciando muito mais coisas com a devida qualidade e dignidade.


(1) https://agenciadenoticias.ibge.gov.br/agencia-noticias/2012-agencia-de-noticias/noticias/34438-populacao-cresce-mas-numero-de-pessoas-com-menos-de-30-anos-cai-5-4-de-2012-a-2021
(2) https://valor.globo.com/brasil/noticia/2022/11/25/expectativa-de-vida-no-brasil-sobe-para-77-anos-diz-ibge.ghtml

 

Imagem: Eberhard Grossgasteiger / Unsplash

E mais…

Veja também outros textos desta autora no portal avŏsidade:

Dra. Ligia: convivência familiar

Dra. Ligia: LGBTfobia

Dra. Ligia: a guarda com os avós

A violência sexista contra a mulher

Dra. Ligia: pais são obrigados a vacinar os filhos?

Dra. Ligia: a importância do regime de bens

Dra. Ligia: a perda do direito do herdeiro

Dra. Ligia: pensão alimentícia inversa

Dra. Ligia: testamentos na pandemia

Dra. Ligia: vamos falar um pouco sobre adoção?

Então. Pois. Então. Pois. Então. Pois. Então. Pois. Então. Pois. Então. Pois. Então. Pois. Então. Pois. Então. Pois. Então. Pois. Proteção.
[. .]
Acompanhe o portal avosidade também no Facebook, Instagram e podcast+!

Dra. Ligia Bertaggia

Advogada, especialista em direito civil, famílias e sucessões; é autora do livro “40 anos da Lei do Divórcio” e escreve regularmente no portal avŏsidade

Veja também

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *