Comportamento

Dra. Elaine: foi (e ainda é) tabu

● Setembro Amarelo, a hora é agora e nos outros meses também

O símbolo da campanha que todos os anos chama a atenção para a questão da saúde mental e prevenção ao suicídio

Falar sobre suicídio já foi (e ainda é) tabu, visto que muitas pessoas têm o entendimento de que falar sobre o assunto pode incentivar o ato. Contudo, isso não é válido. Pelo contrário, é preciso falar. Porém, com todo o respeito, cuidado e empatia, além de acompanhamento médico profissional adequado.

Setembro Amarelo é uma campanha de prevenção ao suicídio e o mês foi escolhido porque, desde 2003, o dia 10 de setembro é o Dia Mundial de Prevenção do Suicídio.

O mês de setembro se tornou o símbolo para chamar a atenção para a questão da saúde mental e prevenção ao suicídio. Mas, atenção: sabemos que o tema deve ser abordado durante todo o ano.

Infelizmente, o Brasil está entre os dez países com maior taxa de suicídio, conforme dados da Organização Mundial da Saúde – OMS.

O acompanhamento de um profissional de saúde mental é de suma relevância na vida de um potencial suicida ou de pessoas que enfrentam a depressão, um dos fatores que podem levar ao suicídio.

O tema é delicado e muito importante. E não deve ser um tabu, conforme dito, e repito: pelo contrário, é preciso falar.

Ao falar de suicídio estamos falando do ato mais individual do ser humano.

Padrão de pensamento negativo

As teorias recentes defendem que pode haver uma predisposição individual para o suicídio, que é ativada, ao longo da vida, por experiências negativas precoces (experiências traumáticas) que vão dar origem a um padrão de pensamento negativo.

Os números nos apontam um grande culpado: mais de 50% das pessoas que se suicidaram sofriam de depressão.

O suicídio pode constituir uma reação de inadaptação a uma mudança ou um ato de vingança que sublinha o rancor.

Os 5 mil suicídios registrados quando da tomada de Berlim, no fim da Segunda Guerra Mundial, são exemplos disso. O próprio Adolf Hitler, um psicopata sem qualquer capacidade de remorso ou compaixão, suicidou-se.

Independentemente das causas, o suicídio resulta sempre da consolidação de emoções negativas e de estresse.

Situações de separação, divórcio, luto recente, solidão, desemprego, mudança ou perda recente de trabalho, problemas escolares ou laborais, doença grave ou crônica e dependência de drogas e álcool podem, efetivamente, resultar em uma resposta negativa e conduzir ao suicídio.

O que encontramos nos suicidas é a associação de muita desesperança a uma grande incapacidade de resolver problemas.

Há aspectos fundamentais que estão na base da ideia do suicídio e da sua concretização.

O suicida encontra-se envolto em uma dor psicológica intolerável, revela perda de autoestima e incapacidade para suportar a dor psicológica, contempla menos horizontes e desempenha menos tarefas, revela isolamento (sensação de vazio e de falta de amparo), desesperança e egressão (fuga como única solução para acabar com a dor intolerável).

Objetivo é parar o sofrimento

É necessário perceber que o suicídio é, sobretudo, o meio pelo qual encontram para dar fim à dor, o objetivo principal é parar o sofrimento e não exatamente colocar um fim à própria vida.

Quando ajudadas a tempo, as pessoas podem entender que há outras formas de resolver as suas circunstâncias e que há quem se encontre empenhado em ajudá-las.

Mas, também há casos em que o suicida quer realmente morrer, não dando qualquer sinal para não levantar suspeitas. Esses são, sem dúvida, os casos mais difíceis de prever e de intervir.

Depressão não é frescura! O estigma que a depressão carrega, de ser, por vezes, frescura ou falta de vontade de melhorar da pessoa, contribui muito para que um potencial suicida concretize o ato.

Quando a depressão é vista de forma pejorativa e não é levada a sério, a pessoa que sofre com essa doença se sentirá descreditada. Pior: desacreditada e desmotivada a procurar ajuda. Daí para o suicídio são poucos passos.

A depressão carrega sintomas graves, como: desesperança, humor deprimido, sentimento de culpa e/ou fracasso, desespero, inquietação ou agitação, insônia persistente, perda de peso, gestos lentos, cansaço, isolamento social e ideação suicida (com plano definido) e tudo isso requer atenção extrema.

É ainda necessário dar especial atenção às pessoas que já tentaram suicídio anteriormente, indivíduos com história familiar de suicídio, adolescentes com depressão ou distúrbios de conduta e idosos nas fases iniciais de demência e estados confusionais.

O valor das redes de apoio

A depressão, como dito anteriormente, pode levar ao suicídio, por isso, não tem nada de frescura, é preciso tirar esse estigma de algo que é uma doença.

Os índices revelam que as pessoas sozinhas, solteiras, divorciadas ou viúvas se suicidam mais do que as outras.

Pessoas com redes de apoio, com família próxima e amigos, que estabelecem laços fortes têm mais hipóteses de receber ajuda no caso de estarem em crise.

Além disso, a existência de padrões sociais no suicídio indica que há critérios de sazonalidade, geográficos, laborais, de gênero (feminino e masculino), etários, entre outros.

As adolescentes meninas apresentam taxas mais elevadas de ideação suicida que os do sexo masculino. Esse fato se dá em razão de a mulher ser mais vulnerável a transtornos como depressão e ansiedade, fatores que afetam fortemente a ideação suicida.

Nunca é bom falar algo que leva a pessoa a se sentir culpada ou que a faça se sentir pior que os outros por não conseguir superar a depressão. É preciso dar apoio, orientar a buscar ajuda profissional, por exemplo.

A campanha Setembro Amarelo é muito importante para trazer o assunto à tona, levar conhecimento a respeito do tema a quem precisa, mas que não se acabe em setembro, depressão e ideação suicidas não têm mês certo para acontecer.

Imagem: Câmara Brasileira da Indústria de Construção

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Então. Pois. Tabu. Então. Pois. Tabu. É. Oi. Tabu. É. Oi. Tabu.
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Dra. Elaine Di Sarno

Psicóloga e Neuropsicóloga, mestre em Ciências pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP), especialista em Terapia Cognitivo Comportamental

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