Comportamento

Dra. Elaine: política e saúde mental

● Vivemos uma ansiedade generalizada com foco nas eleições

A cultura do medo é fabricada por alarmistas que se aproveitam das limitações das pessoas e saem lucrando com isso

Em diferentes grupos, a política vem ocupando um lugar de extremo destaque. Percebe-se um certo sentimento de ceticismo em relação à política.

As redes sociais, TV, mídia em geral, passaram a ser um palco para conflitos em um contexto de radicalização. As pessoas têm experimentado sentimentos negativos, como: angústia, insônia, ansiedade, medo, insegurança, desamparo e desesperança.

As pessoas estão deixando de acreditar que o amanhã será diferente e que ainda pode ser melhor que o hoje. Estamos vivendo uma ansiedade generalizada em que o foco é a eleição, mas não necessariamente causada somente por ela.

Embora não haja ainda dados específicos sobre saúde mental e eleições, os constantes constrangimentos e agressões nos debates, propagandas ofensivas, fake news, essa violência que assistimos na TV, nas redes sociais, podem nos afetar.

Ou seja, podem diminuir a resistência e provocar um desequilíbrio emocional, levando a uma maior tensão mental e, às vezes, até físicas, com sintomas, por exemplo: dores no peito, tremores, falta de ar, prisão de ventre, entre outros, que aumentam a ansiedade, depressão, angústia e outros sofrimentos psíquicos.

É como um ciclo; mente afeta corpo; corpo afeta mente. Os relatos dessas sensações desagradáveis têm aumentado no consultório ultimamente e os pacientes acabam reconhecendo a motivação política como fator desencadeante.

O que sabemos é que essa tensão mental vem sendo estudada desde 2007 pela American Psychological Association (APA), por uma pesquisa denominada “Stress in America”, que aponta que 56% dos adultos americanos identificaram a eleição presidencial de 2020 como um estressor significativo, inclusive com a vitória de Biden.

Mas ainda não temos dados brasileiros sobre isso.

Exageros aumentam o medo

Estamos saindo de tempos muito difíceis com a pandemia, e esse cenário político de exageros aumenta o medo, a insegurança social, econômica e pessoal em um futuro próximo.

Estamos diante de uma crise de valores, com o predomínio do individualismo sobre as questões referentes ao coletivo. A lei do mais forte, o vale tudo e a intolerância predominam.

Lidar com amigos e familiares sempre foi um bom exercício de tolerância, empatia e paciência. Posições políticas têm gerado stress entre familiares, rompimentos com pais, familiares, amigos.

Existem muitas crenças que chegam a ser irracionais, como identificação com candidatos, os quais são defendidos de forma exagerada.

A violência é uma cultura em reprodução e acontece por imitação, que encoraja a reprodução desses atos.

A cultura do medo é fabricada por alarmistas e seus protagonistas que enfatizam a violência, adulterando números, dados estatísticos, dominando o noticiário e, principalmente, aproveitando-se das limitações das pessoas.

Vendem o medo e o pânico como produto. E saem lucrando com isso.

Lidar com respeito e empatia

Existem formas bem mais saudáveis de exercer e construir a política! Isso porque a falta de acesso a direitos básicos e a prática do discurso de ódio podem ser percebidos no dia a dia em informações que acontecem em tempo real.

Em um país socioeconomicamente tão injusto, desigual e culturalmente tão heterogêneo, o desafio de defender a política se redobra em inúmeras camadas de complexidade que remontam às seculares e inconclusas lutas que marcam a nossa história como povo.

Não podemos deixar a exploração do medo nos tornar reféns!

É necessário lidarmos com respeito, empatia, reflexão e uma comunicação não violenta quando estamos nos posicionando.

O que sabemos é que neste dia 31 de outubro de 2022 vamos retornar nossa rotina, ou seja, acordar, ir para o trabalho, escola, vida pessoal…

Nós temos o poder de escolha e o mais saudável é escolhermos o que for melhor para nós, mais saudável, com melhor qualidade de vida, e com certeza, ficar imerso em agressividades sem lógica, realmente é a pior escolha.

Precisamos buscar algo que nos deixe mais tranquilos e com sensação de bem-estar.

Precisamos mudar o foco, pensarmos em outros assuntos, escutarmos a nossa própria opinião, sem nos incomodarmos com opiniões alheias muito mais com o discurso de ódio alheio e abrir espaço para outras atividades mais tranquilas, como fazer uma atividade física, ouvir música, ler um bom livro.

Em vez de focar na situação que gera a falta de esperança, vamos destinar nossa atenção, tempo e energia para outros aspectos da vida.

Afinal, novos acontecimentos virão. Acontecimentos bons e ruins, que nossa emoção, no momento, não pode prever.

Imagem: 卡晨 (@awmleer) / Unsplash

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Então. Pois. Então. Pois. Então. Pois. Então. Pois. Então. Pois. Então. Pois.
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Dra. Elaine Di Sarno

Psicóloga e Neuropsicóloga, mestre em Ciências pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP), especialista em Terapia Cognitivo Comportamental

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