Comportamento

Pais devem sustentar filho adulto?

● Dra. Olga: problema se agrava com a chegada dos netos

Filhos acima de 25 anos usufruem da mordomia como se fossem hóspedes dos pais e ainda pedem ajuda financeira

Há algumas décadas, os filhos saíam de casa por volta dos 20 a 25 anos, seja por se casarem ou por optarem em ter a sua vida independente, morando sozinhos ou dividindo as despesas com algum amigo. sustentar

Hoje em dia, um a cada quatro jovens entre 25 e 34 anos ainda moram com os pais, sendo que 60,2% são homens, de acordo com o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).

E, se décadas atrás era comum os filhos que moravam com os pais ajudarem nas despesas da casa, hoje em dia os filhos até têm bons salários, mas usam o seu dinheiro em benefício próprio e não colaboram em nada com os gastos da casa.

Usufruem de toda a mordomia proporcionada pelos pais como se fossem hóspedes. E, mesmo que esses filhos se casem ou morem sozinhos, é comum eles continuarem recorrendo à ajuda financeira dos seus pais.

A função dos pais é educar seus filhos para se tornarem independentes e responsáveis para constituírem uma família (ou não) e seguirem a sua vida, sem necessitarem da ajuda dos pais no seu dia a dia.

Isso seja na questão do cuidado com os netos, seja na questão financeira para colaborar no pagamento de contas corriqueiras, na aquisição de qualquer bem ou para saldar dívidas contraídas por eles.

Justamente nessa fase da vida em que os filhos já estão adultos, seus pais podem, finalmente, aproveitar seu tempo para viverem essa fase da vida com alegria, estar com seus netos, visitar amigos, viajar, relaxar e se divertir.

Mas constata-se que esses pais continuam, infelizmente, a cuidar dos seus filhos como se fossem “crianças irresponsáveis” e buscando solucionar todos os problemas que esses filhos criam ou se deixam envolver.

A chegada dos netos

É comum a mãe ir até a casa do filho que mora sozinho e orientar a faxineira, fazer comida para ele e até cuidar das roupas dele.

Quanto ao pai, é comum ele colaborar financeiramente com alguns gastos extras que o filho faz, sem questionar muito como o filho tem administrado o seu dinheiro e o que fazer para evitar novos gastos ou dívidas.

Vale dizer que não estou falando aqui de um problema causado por conta de um desemprego, de uma perda por furto ou roubo, ou um problema de saúde.

Falo da tolerância dos pais em abraçarem os problemas de seus filhos e buscarem resolvê-los, como se esses filhos ainda fossem crianças que não sabem nada da vida.

E isso é algo que se agrava com a chegada dos netos!

Os avós querem suprir todas as demandas dos netos exatamente como têm feito a vida inteira com seus filhos, e continuam arcando com muitas das despesas dos seus filhos e netos.

Não é raro um idoso ceder a sua casa para que seus filhos morem nela ou então se mudarem para um quartinho dos fundos, permitindo que os filhos, com suas famílias, se tornem os verdadeiros donos da casa, mesmo sem condições de arcar com todas as despesas dela.

É fato que vivemos um momento em que exibir status é algo que domina boa parte da sociedade, mas exibir um status às custas de outras pessoas não é muito bem aceito moralmente. Porém, muitos pais colaboram para a manutenção desse status dos filhos.

É importante salientar que, no Brasil, mais de 9,5 milhões de pessoas acima dos 60 se encontram endividados (dados do Serasa e do SPC Brasil) por conta de financiarem as dívidas que seus filhos contraem por não saberem administrar seus gastos!

Excesso de amor

O que está por trás desse comportamento dos pais? Dependência emocional! Diz um ditado popular que o excesso de amor faz tão mal quanto a falta dele.

Muitos pais passaram boa parte de suas vidas se dedicando aos filhos, renunciando a muitas coisas em função deles e o fato de os filhos se afastarem deles pode colaborar para que os pais se sintam sozinhos e “abandonados”.

Por estarem os filhos adultos e seguindo as próprias vidas, os pais, querendo estar na companhia deles, vendo nisso uma fonte de gratificação. É como se os pais não soubessem mais viver a não ser com os filhos ao seu lado.

Muitos pais se sentem divididos porque querem o melhor para os filhos e, ao mesmo tempo, querem protegê-los como sempre fizeram.

Ou seja: muitos pais precisam aprender a viver as suas próprias vidas, deixando que seus filhos conquistem, por si próprios, a autonomia necessária para, finalmente, ingressarem na vida adulta.

Talvez os pais se sintam culpados em dizerem não aos filhos, temendo perder o amor e a atenção deles.

Muitos pais foram ausentes durante a boa parte da infância dos seus filhos por conta do tempo dispendido no trabalho, e tentam compensar a sua ausência dando dinheiro a eles ou tomando a frente para resolver os problemas deles.

Mas a questão aqui é: ninguém vive para sempre! E eu pergunto: qual é o legado que esses pais querem deixar para seus filhos e netos? Uma herança polpuda ou permitir que seus filhos possam caminhar sozinhos com os próprios pés?

Ao mesmo tempo, manter seus filhos dependentes também pode colaborar para que os pais tenham a falsa crença de irão reviver os seus velhos tempos da juventude. É óbvio que não!

Acolher e impor limites

Cabe aos pais amparar seus filhos ao longo de suas vidas, com amor, carinho, orientações, não necessariamente com dinheiro. Saber dizer “não” e impor limites aos filhos faz parte da educação para a vida adulta deles, até porque o mundo lá fora é repleto de “nãos”!

Ajude seus filhos financeiramente, desde que isso não comprometa as suas finanças, mas deixe claro que é um empréstimo que deverá ser pago, estipulando um prazo para o pagamento dele.

Se seu filho precisar voltar para casa por estar desempregado, estimule-o a procurar um trabalho ou buscar alternativas para se sustentar.

Não confunda limites com falta de amor porque a melhor forma de demonstrar o seu amor é ensinar seu filho a não depender de ninguém, salvo em momentos realmente emergenciais.

Se não agir dessa forma, pode estar mostrando ao seu filho que ele pode se acomodar à situação porque você nunca vai dizer não a ele.

Acolher um filho não é solucionar os problemas dele. O papel dos pais é orientar, levantar prioridades e planejar como sair da situação difícil.

Mas as decisões finais sempre devem partir do filho, perguntando a ele como ele vai resolver, mostrando a ele que a responsabilidade é dele.

Emergências financeiras podem acontecer com qualquer pessoa, mas, em geral, elas são fruto de uma vida inteira de descontrole financeiro. Deixar a emoção de lado e pensar racionalmente é o caminho para preservar suas economias e viver com tranquilidade a velhice.

Lembre-se de que os filhos ainda têm muitos anos produtivos pela frente. Tomar a frente deles e resolver os problemas deles não colabora para que eles desenvolvam a maturidade suficiente e a responsabilidade de sustentarem a si mesmos e a sua própria vida.

Imagem: iStock

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Sustentar. Então. Pois. Então. Pois. Então. Pois. Então. Pois. Então. Pois. Então. Pois. Então. Pois. Então. Sustentar. Então. Pois. Sustentar. É. Oi. Sustentar. É. Oi. Sustentar.
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Dra. Olga Tessari

Psicóloga (CRP06/19571), formada pela Universidade de São Paulo (USP), pesquisa e atua com novas abordagens da Psicologia Clínica em busca de resultados rápidos, efetivos e eficazes, voltados para uma vida plena e feliz; ama o que faz e segue estudando muito, com várias especializações na área; consultora empresarial, leva saúde emocional para as empresas; escritora, autora de 2 livros e coautora de muitos outros; realiza cursos, palestras e workshops pelo Brasil inteiro e segue atendendo em seu consultório ou online adolescentes, adultos, pais, casais, idosos e famílias inteiras que buscam, junto com ela, caminhos para serem felizes

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